Não está em nenhum livro de etiqueta, mas para você se integrar rapidamente em qualquer ambiente é preciso respeitar algumas regras fundamentais, que não podem ser quebradas, a não ser que você esteja disposto a ser considerado um bosta.
Não se trata apenas de obedecer ao politicamente correto, pois, em alguns casos e em determinados ambientes, pega até bem não sê-lo. Basta tomar alguns cuidados. Brincar com loiras, paulistas, gaúchos e suas viadagens, corintianos e gente muito brega pode ser aceitável, desde que você saiba cercar suas opiniões com um manto de inclusão e afabilidade.
Com negros a coisa pode engrossar, mesmo que quem comece a fazer piadas racistas seja um deles. É preferível não entrar de sola, nem que seja para elogiar as mulatas. Aí é terreno pantanoso, pois mulata é mulher. Hoje em dia gostar de mulata é racismo, coisa de capitão do mato, machista.
Basta você elogiar a bunda de uma mulata para ser imediatamente acusado de contribuir para a construção do estereótipo que coisifica a pessoa e atenta contra a dignidade feminina. Fica difícil, eu sei, elogiar a profundidade do pensamento filosófico da mulher jabuticaba que acaba de posar pelada na Playboy. Mas se você está a fim mesmo de se dar bem, seja o que isso possa significar, fuja do assunto. Se tem mulher por perto, não fale de mulher.
Em contrapartida existem opiniões unânimes que você pode emitir sem receio, que são admitidas em todas as rodinhas, demonstram erudição e engajamento e que ajudam a definir você como um cara antenado, moderno, inteligente.
São unânimes, o que não significa que não sejam absolutamente imbecis. Mas estamos aqui falando em aceitação social, que muitas vezes quer dizer comer aquela estagiária loirinha. (Opa! Ops! Desculpe aí, saiu sem querer). Onde eu estava? Ah sim, falava das opiniões que todo mundo aceita sem pestanejar.
Sim, eu sei que você deve estar pensando: Maluf é corrupto, Marco Feliciano é uma besta, Tiririca é um palhaço. Não, não vale. Mesmo nesses casos há gente que pode discordar, retrucar, relativizar e até em alguns casos te desqualificar.
É um terreno perigoso para certos ambientes. Estou falando de opiniões que você pode emitir sem susto. Como por exemplo: falar mal do Pelé. Não importa que o cara é o atleta do século, o maior jogador de futebol de todos os tempos, o brasileiro mais conhecido do mundo. Esqueça isso.
Uma vez ele disse que o brasileiro não sabe votar. E mais: teve o desplante de afirmar que não ia amar uma filha que lhe apareceu adulta, à qual ele se dispôs a reconhecer para fins de hereditariedade de bens, mas que teria dificuldade em ter com ela a mesma relação que tinha com os outros filhos.
Noutra ocasião o filósofo Romário disse que o rei calado era um poeta. Pronto! Pelé hoje é considerado um idiota, que só abre a boca para dizer besteiras. Como se Romário fosse o mais dileto discípulo de São Tomás de Aquino, o brasileiro soubesse votar (Romário e Tiririca têm certeza que sabe) e se te aparecesse uma filha maior de idade você iria chorar de alegria, levá-la para casa e dar amor sem fim. Ninguém defende Pelé.
Outro exemplo: Niemeyer. Quando falar do maior arquiteto brasileiro e um dos maiores do mundo, faça um muxoxo e diga que ele faz monumentos bonitos, mas sem nenhuma praticidade. Se estiver um pouco mais ousado, desqualifique toda sua obra e posições políticas (era um stalinista, vejam só!). Pode meter o pau nesse gênio que ninguém virá na defesa dele.
Para encerrar, ainda que abundem outros exemplos, há Paulo Coelho. Esse, pode malhar sem susto. É um dos escritores que mais vendem no mundo, uma celebridade do porte de Pelé, Niemeyer, Brad Pitt, Copolla, Justin Bieber e Lady Gaga. Mas no Brasil é considerado um escritor menor. Um quase picareta.
Seus livros são vendidos aos milhões em todos os países e ele é atração em qualquer feira de livros de importância planetária. Aqui no Brasil, apesar de ter sido durante anos um best-seller gigantesco, nunca ninguém leu nenhum livro dele, ninguém jamais gostou do que ele escreve e seu sucesso internacional se deve aos brilhantes tradutores que tem. Enfie-lhe o cacete sem piedade. Somos um povo tão maluco que, do jeito que vai, daqui a pouco estaremos falando mal de Tom Jobim como forma de sermos aceitos socialmente.