Toda grande transformação se inicia pelo ímpeto de pessoas que ousam, quebram barreiras, modificam convicções e rompem paradigmas. Desde a queima de sutiãs em praça pública a sociedade vem reformulando o significado de ser mulher. Se antes o papel a nós atribuído era de cuidado, de zelo pelo lar e família, hoje alçamos voos maiores, mas ainda é pouco para o que queremos conquistar.

Ainda que lentos, os avanços estruturais estão em curso. Seja no ambiente familiar, no social ou no corporativo, a voz feminina está se intensificando e ganhando espaço. Dados do Sebrae apontam que mais de 9 milhões de mulheres estão gerindo empresas atualmente, o que representa 34% do mercado brasileiro. O dado, até então singelo, merece celebração, visto a desigualdade característica do nosso país.

Com a duração questionável da licença maternidade, que faz mães abrirem mão de priorizar seu filho tão pequeno para retornar ao mercado de trabalho apenas quatro ou seis meses após dar à luz, é possível compreender por que tantas mulheres resolveram abrir mão de suas carreiras ao longo dos anos.

Baseado em vieses, enraizados em crenças inconscientes, vemos o protagonismo feminino ser subestimado, limitado e diminuído. Porém, em 43% dos lares brasileiros, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), são elas as líderes financeiras.

No mercado de trabalho, a representatividade feminina vai muito além do empoderamento e geração de renda, refletindo, principalmente, na melhoria social. Isso porque estudos apontam que os negócios construídos por mulheres possuem forte cunho social, focado em causas que trazem resultados benéficos para a comunidade, como a diversidade e a inclusão. Além de buscarem reforçar a presença feminina no mercado, procurando empregar outras mulheres, quando elas ganham mais espaço na economia, sua existência no ecossistema empreendedor fortalece a competitividade do mercado.

São diversos os dados que podem demonstrar que nós, mulheres, que enfrentamos a batalha empreendedora, já somos protagonistas.

O cenário apresentado pela pandemia reforçou nossa necessidade no mercado, auxiliando no rompimento das fragilidades estruturais do mercado e demonstrando como a inovação no contexto laboral é necessária para fomentar novas visões e atitudes para sobreviver ao mercado.

Ainda que careçam de políticas públicas em prol do movimento, linhas de crédito e investimento que estimulem a mulher nesta jornada ou ações concretas pela equidade, as transformações já iniciadas impactarão em um futuro próximo.

Isso não significa que a jornada tenha se tornado mais fácil, ainda haverá, sem dúvidas, diversos empecilhos e obstáculos, mas a representação já existe, assim como diversas redes de apoio que estimulam e apoiam o empreendedorismo feminino.

Mais do que novas perspectivas, as barreiras já derrubadas por grandes exemplos no mercado nos evidenciam diariamente que o mundo arcaico está em ruínas e o novo normal será aquele que construiremos juntas para um mundo melhor.

Raquel Leidens é diretora de operações e sócia da agência Seven, filiada ao Sinapro/SC
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