Não sei você, mas eu já comprei meu kit live. Luz direcional e webcam super HD. Agora só falta o fundo para chroma key (basta um pano verde acomodado atrás de você).

Também já desenvolvemos alguns fundos virtuais bacanas para um visual mais profissional. Tudo pra tornar a experiência das conference calls e lives algo mais agradável e sofisticada. Afinal, é onde passamos quase a totalidade do dia.

A facilidade com que se agendam reuniões encadeadas nesses tempos de home office institucionalizado é um dos efeitos colaterais da quarentena. Antes, as reuniões eram mais planejadas. Tínhamos de considerar o tempo de deslocamento, a disponibilidade de sala e todo o ritual habitual das reuniões.

Agora, o que mais ouvimos é: “Preciso sair porque tenho outra reunião começando em 5 minutos”. Uma atrás da outra… Às vezes, esquecemos de ir ao banheiro…

E isso veio pra ficar. É o tal do (desculpe o uso da expressão desgastada) novo normal. Para mim e o meu time profissional é realmente a nova realidade, já que partimos para o home office definitivo, abandonando a sede física.

Mas imagino que, mesmo para aqueles que já voltaram ou pretendem voltar aos escritórios, o agendamento de reuniões virtuais será cada vez mais frequente, deixando as presenciais apenas para os momentos mais formais ou mais nobres.

E, pouco a pouco, as “você está contra a luz, não conseguimos te ver direito”, “você está mute, libera seu microfone” ou ainda “você congelou” dão lugar a “wow, que fundo bacana” ou “que luz você está usando, está parecendo estúdio”.

As camisetas amarfanhadas também estão dando lugar a uma produção de roupa mais elaborada. O fato é que, com uso contínuo, todo mundo está buscando aparecer melhor na foto, ou melhor, no vídeo.

E note que estou tratando apenas das situações corriqueiras das reuniões do dia a dia. Se analisarmos as lives abertas ao grande público, notamos que, definitivamente, a régua subiu. Tenho participado de lives com produção comparável às emissoras de TV. Com DJ tocando na espera e nos intervalos, vinhetas, efeitos combinados entre o presencial e o remoto, fundos elaborados…

E não estou falando das megalives artísticas, geradas para milhões de espectadores. Nessas, ninguém bate o Brasil.

Das 10 com maior audiência no YouTube, nada menos do que 8 são brasileiras, com os sertanejos fazendo a festa. Marília Mendonça liderando absoluta, com 3,3 milhões assistindo ao vivo uma das suas lives e um total de mais de 70 milhões de views em duas lives. Impressionante!

No meio dos sertanejos, só Andrea Bocelli e a banda coreana BTS têm lugar nas top ten do YouTube. Ainda que o recurso esteja disponível há uma década, a necessidade causada pela pandemia gerou uma explosão da transmissão via streaming.

O fenômeno tem no Brasil seu principal mercado. Lives vêm ocorrendo aos milhares em todos os cantos em diferentes plataformas e redes sociais, tais como: música, cinema, artes cênicas, exercício físico, culinária, palestras, aulas e debates de toda natureza.

Outro dia, aqui em casa, olhei ao redor e percebi: eu, participando de uma live; no quarto ao lado, minha mulher fazendo um curso online; em outro quarto, meu filho realizando sua live musical; ao fundo, ouvia a vizinha do apartamento em frente em plena aula virtual de zumba: “Vamos lá! Não para!”. O mundo virou uma live só!

Mas a régua está subindo. Com essa proliferação de lives, todo mundo está ficando mais seletivo. Não é simples atrair audiência com tanta concorrência. A relevância do conteúdo, atrelada a uma estética mais profissa, tornou-se fundamental para garantir, não só a atração do público, mas sua retenção.

Não à toa, há diversas agências organizadoras de eventos montando estúdios profissionais para prover um serviço mais profissional aos seus clientes. Sem dúvida, as lives vieram pra ficar. Mas estão cada vez menos amadoras.

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) alexis@ampro.com.br