Ao contrário do que muitos imaginam, o mundo ainda é comandado por empresas familiares. Empresas seculares, algumas milenares, e as novas empresas familiares.

Matéria recente do The Economist nos lembra, por exemplo, falando das seculares, que o resort japonês Hoshi Ryokan é controlado pela mesma família desde 718. Que a construtora Kongo Kumi, que finalmente quebrou em 2006, fora criada em 578. Que a família Antinori produz vinhos de excepcional qualidade, na Toscana, desde 1385. Que os Beretta fabricam armas desde 1526. E, em grandes e merecidas matérias nas principais publicações do mundo, também destacaram as comemorações dos primeiros 350 anos do Grupo Saint Gobain, um dos cem maiores grupos industriais do mundo, presente em 64 países, com 193 mil funcionários e 42 bilhões de Euros em vendas no ano de 2013.

Os dados não param por aí e não se resumem exclusivamente a empresas emblemáticas pela longevidade. Referem-se também aos dias de hoje. Embora a maioria não se dê conta, mais de 90% de todos os negócios do mundo, em números absolutos, são de empresas familiares. O bar, o mercadinho, o açougue, a barbearia… De avô para pai, para filho, para neto, sem nenhuma perspectiva de ruptura no ciclo.

Mas mesmo as mais recentes, frutos do admirável mundo novo e sua pele digital, podem ser indexadas ao conjunto das empresas familiares. Como ainda são jovens, muito recentes, aqui se deve entender o código familiar como empresas tocadas por seus fundadores. E aí podemos relacionar o Facebook, o Google, a Apple até Jobs e, pelo legado, depois de Jobs.

Qual, no entanto, é a grande diferença entre as empresas familiares seculares e as novas empresas familiares? As seculares eram totalmente voltadas e dependentes de uma sucessão concebida até mesmo em casamentos planejados, como acontecia na realeza. E os filhos e netos, sucessores, desde o berço eram preparados para dar sequência, para serem os continuadores. A velha e boa empresa familiar se sustentava no sangue.

Já as novas empresas familiares sustentam-se na causa. O que tem de familiar entre elas é o compartilhamento e fé na visão e na missão. Nos valores e compromissos. No manifesto de partida, no legado pretendido. As familiares do passado fortaleciam-se em sobrenomes e tradição. As do presente, na adesão voluntária que centenas, milhares ou milhões de colaboradores, sócios, parceiros, fazem em torno de um mesmo objetivo. Unidos no e pelo propósito.

As familiares do passado tinham tudo a ver e referiam-se aos regimes monárquicos e habitavam castelos. As de hoje são pura democracia: decisões compartilhadas, ônus e bônus criteriosamente divididos, sem residência fixa e um mesmo endereço, horizontalmente organizadas em muitas e diferentes redes pelo digital.

Mas lá no fundo, no âmago de suas razões de ser, a mesma identidade. A mesma consciência. E por isso, apenas e tudo isso, velhas ou novas, empresas familiares.

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