“Eu só boto bebop no meu samba quando Tio Sam tocar um tamborim, quando ele pegar no pandeiro e no zabumba, quando ele aprender que o samba não é rumba…” Assim compôs, com Gordurinha, e cantava em 1959, Jackson do Pandeiro. De quem Alceu Valença dizia: “Costumo dizer que o Gonzagão é o Pelé da música, e o Jackson o Garrincha”.
E era mesmo. Nessa mesma época dizia-se também que não era bom comparar e muito menos misturar banana com laranja. Combinação indigesta que poderia fazer mal, mas que pouco a pouco perdeu a razão de ser num mundo em que todas as misturas são possíveis, passíveis e praticadas.
Final de 2014, nos principais jornais do mundo a notícia envolvendo uma empresa emblemática, a Chiquita Brands. Comprada por dois empresários brasileiros: o rei mundial do suco de laranja, José Cutrale, e um dos banqueiros mais ricos do mundo no ranking dos bilionários de Forbes, José Safra. Uma dupla mistura de laranja com banana, frutas e empresário e banqueiro. Indigestas? O tempo dirá.
Época Negócios escalou um de seus melhores profissionais, Darcio Oliveira, que contou com a colaboração de Raquel Salgado, para mapear e levantar todos os antecedentes, circunstâncias, bastidores, e razão de ser do negócio. E a missão foi mais que cumprida. Porém, depois de ler e reler a matéria de nove páginas, a pergunta permanece no ar: Por quê? Ou, a sensação prevalecente é que não faz o menor sentido! A menos que existam outras razões que a própria razão e os fundamentos de todos os negócios desconhecem.
Mesmo sendo frutas, laranja é redonda e banana comprida, laranja precisa de faca e banana descasca-se com a mão, laranja é solitária e banana só anda em cacho, suco de laranja transporta-se concentrado e congelado e banana em natura; tempos e maturação diferentes, tempos de consumo diferentes, e, mesmo sendo frutas, laranja é uma coisa e banana outra. E, pior que tudo, pelo desempenho dos últimos anos, dois produtos em trajetória cadente de consumo.
Mesmo considerando o depoimento de muitas autoridades em bananas, laranjas e logísticas ouvidas pela revista, definitivamente, a mistura não se sabe bem. Menos em gosto, e mais em questão de negócios e sinergia. E tem tudo para dar errado, a menos que existam outras razões, repito, que a própria razão desconhece.
Isso posto, o esforço e a matéria de Época Negócios valem muito mais para se conhecer a saga dos Giuseppe, José, José Luiz e José Henrique Cutrale, e um pouquinho do outro José, o Safra; do que para se entender e validar ou não o negócio. Salvo prova em contrário, e definitivamente, como nos ensinavam nossos avós, não se deve misturar banana com laranja. E nem todos os Josés, mesmo tendo o mesmo nome, comportam-se com um mínimo de similaridade.
*Presidente do MadiaMundoMarketing