É mais fácil, fica melhor, e revela-se infinitamente mais consistente, quando criador e criatura são um só. Se a marca é walk the talk, e é, quando a marca traduz o que seu criador pensa, acredita, professa e é, a autenticidade ganha a pontuação máxima, e a obra conclui-se e se consagra. Entre todas as marcas do mercado da moda no Brasil, de longe, Richards é a que melhor traduz essa receita infalível de sucesso no desafio do branding.

Ricardo Dias da Cruz Ferreira, adolescente nas praias do Rio de Janeiro no início dos anos 60, craque em surfe e pesca submarina. 16 anos, dinheiro contado, criava e fabricava cintos artesanais para vender nas lojas de Ipanema. Mais adiante evolui para camisetas estampadas em silkscreen com frases chupadas dos botons da época. Inspirado em loja que conheceu em Londres, abre seu primeiro negócio – Mr. Krishna –, no Leblon. E, finalmente, em 1974, dá vida a seu projeto mais ambicioso: uma loja de modas que traduzisse sua visão de vida e de mundo. De como gostaria que o mundo fosse. Richards. Primeira loja em Ipanema.

Hoje, 40 anos depois, e tendo vendido sua empresa para o grupo InBrands em 2011, onde é conselheiro, e permanece por perto e vigilante. E confiou a gestão de sua obra a Marcello Gomes, que trabalhou a seu lado durante 10 anos, entendendo, assimilando e dando continuidade aos fundamentos da marca decorrente das crenças e do jeito de ser de Ricardo.

Com total justiça e maior merecimento, Ricardo é uma das principais matérias da revista QG Style, assinada por Carolina Vasone: “Criei a marca numa época em que, para a minha turma, era mais importante ser do que ter”.

E na matéria vai debulhando seus sentimentos. “Quando eu fundei a Richards eu nem pensava em moda. Tendência? A tendência sempre foi a mesma, não? Buscar uma vida melhor, ter prazer no dia a dia.” O que a maioria das pessoas só descobre depois dos 60, 70, Ricardo já sabia e queria para si desde sempre.

Desde a primeira loja, oferecia, além de roupas exclusivas e com personalidade mais que definida, escancarada, um contexto único e inspirador. Onde as pessoas sentissem, mediante diferentes códigos e sinais, os valores daquela turma. “Lembro de ter ido a Marselha para uma competição e observado os trabalhadores no porto da cidade: todos vestiam uma calça tipo pescador de um azul intenso e que ia desbotando, feita na China, acompanhada de alpargatas e de uma blusa listrada pesada, de meia manga. Achava linda a roupa.”

Ricardo – Richards – aos 70 anos, segue pescando a comida que divide com a mulher e os dois filhos adolescentes que moram com o casal. Anda de bicicleta, surfa, pratica Stand Up Paddle.

Se branding é walk the talk, e é, Ricardo/Richards walk the talk. E assim, produziu e assina uma das obras-primas do branding em nosso país.