O livro é de 2010. Poderia ser de 1980 ou de 2020. Faria, fez e faz sentido. Seu autor, Jack Trout. A editora, M.books. Selecionado, aprovado e recomendado pela Academia Brasileira de Marketing e longe de fazer o sucesso que tanto merece. Isso posto, mais que recomendo “Marketing – Em Busca do Óbvio”.
A inspiração de Jack Trout vem de um pequeno ensaio escrito há 99 anos por Robert R. Updegraff, “Obvious Adams. The Story of a Successful Business”. Tese do autor e motivo da preferência de Trout, “A busca por qualquer estratégia de marketing é a busca pelo óbvio. Considere a definição da palavra óbvio encontrada nos dicionários: fácil de ver ou de entender; simples, evidente. Com essa definição, você começa a ver por que uma estratégia óbvia é tão poderosa. É simples, fácil de entender e evidente. É por isso que funciona tão bem”.
Lembrei-me muito deste livro diante de dois momentos de consultoria que vivemos recentemente. A de um cliente que nos chamou para incrementarmos e aperfeiçoarmos um negócio que tinha e achava o máximo. Depois de três meses de diagnóstico, nossa recomendação foi: “Venda enquanto é tempo. Esse negócio está com os dias contados”. E outro que se encantou com o ambiente digital e nos contratou para alavancar sua presença nesse ambiente. Nossa recomendação foi concentre-se no analógico, onde fez fama e fortuna, onde é reconhecido e onde todos os players do digital estão loucos e necessitados de entrar. Os dois não ficaram felizes. Mas consultor que se preze recomenda o que a empresa precisa e jamais o que o empresário gostaria de ouvir.
Em determinado momento do livro, Trout descreve situações análogas à que comentei. “No McDonald´s alguém diz ‘vamos aproveitar a tendência da pizza e acrescentar o McPizza ao cardápio!’” ou “Na BIC, os profissionais de marketing, pelo fato de Mr. Bic ainda existir, estão colocando a marca em tudo o que podem imaginar, como canetas, isqueiros, lâminas de barbear, meias de náilon, perfumes e até mesmo barcos a vela” ou “Alguém na Heinz, a rainha do ketchup, decidiu que eles também deveriam fabricar mostarda. E, para poupar dinheiro, vamos usar os frascos com os mesmo formatos… as pessoas achavam que a Heinz tinha lançado o ketchup amarelo” ou “Alguém na Daimler Benz imaginou que carros de luxo não bastassem. Comprar a Chrysler lhes daria uma gama maior de veículos para vender em toda a parte…”.
O Brasil é pródigo de exemplos como os citados pelo autor. Empresas que acreditam que quem pode mais pode menos e se metem em negócios e atividades que não têm absolutamente nada a ver com o seu DNA, muito menos – e é o que conta – com a forma como são percebidas por seus clientes e seguidores.
No final, “Obvious Adams” é uma leitura mais que obrigatória, assim como o livro de Trout, em tempos de mudanças e transformações radicais como os que vivemos, onde os fundamentos não só não perderam a força, como são a âncora de salvação. Por mais óbvios que sejam.
*Para entrar em contato com o autor, escreva para famadia@mmmkt.com.br