Em 25 de junho de 2010, comentei, em meu blog, sobre Amyr Klink, a propósito de um documentário que acabara de ver: “Num dos documentários mais emocionantes de todos os tempos, Amyr Klink estampa, solitário em seu solitário barco e em meio a icebergs e mar, uma única marca: Bradesco. Um achado. E assim deveria ter continuado. Uma tacada de mestre do Bradesco. Por alguma razão, essa propriedade e parceria se perderam no caminho. E agora vejo na Veja um anúncio com Amyr Klink, singrando outros mares, tendo sua imagem associada à Caixa. Impressionante como empresas descobrem e abandonam minas de ouro…”. Até hoje continuo perplexo com a mega e emblemática oportunidade que o Bradesco deixou escorrer entre os dedos, mãos, marca.

Agora “tropeço” em Amyr novamente. Revista IstoÉ Dinheiro, entrevistado por Gisele Vitória. Depois de tudo o que fez, dos desafios que enfrentou e das aventuras vitoriosas em que se meteu, Amyr traz uma das regras de ouro de seu aprendizado: “Na crise, em alto-mar, ninguém dorme até resolver o problema”.

Esse é o Brasil de hoje. Nossa omissão, preguiça e covardia possibilitaram que políticos de quinta tomassem conta do país. E produzissem um espetáculo dantesco de incompetência, mediocridade e corrupção. Combustíveis mais que suficientes para colocar na lona um país de dimensões continentais como o nosso e, segundo Jorge Ben Jor, “abençoado por Deus e bonito por natureza”.

Estamos em crise e em alto-mar. Nenhum de nós tem o direito de dormir e, muito menos, omitir-se. Negar-se a contribuir, participar e arregaçar as mangas e o coração no processo urgente e inadiável de reconstrução do Brasil. Com um novo, consistente e moderno sistema de representação dentro de uma democracia de verdade e já se aproveitando de todas as conquistas tecnológicas desde o advento do microchip, em 1971.

Na entrevista, Amyr conta como é – e como deveríamos nos comportar: ”Deu um problema? Enquanto não resolver, ninguém dorme. Ninguém come. Fiz minha segunda volta ao mundo com uma equipe de cinco pessoas. Tinha três caras que não entendiam nada de navegação. Em poucos dias, eles incorporaram essa consciência. De repente, o cabo que segura a vela de tempestade está puindo. Temos de fazer algo: ou soltar a vela ou puxar o cabo ou passar um outro cabo. Tem de achar uma solução. Se soltar, vai explodir a vela. Se forçar mais, vai estourar o cabo. O que a gente faz? Quem é que sabe lá? Quem passa o cabo? Mas o mar foi uma coisa fácil na minha vida perto dos problemas que eu já tive. Navegar em volta do mundo é brincadeira de criança”.

É isso, amigos, “deu um problema”. E que problema! E a conta sobrou para nós. Assim como a solução, mesmo não sendo parte do problema, mas contribuído decididamente pela nossa omissão para que acontecesse. Nada de dormir, nada de comer, descansar nem pensar. Precisamos salvar nosso país. Como nos ensinou Amyr Klink, mesmo porque estava lá e venceu, “na crise, em alto-mar, ninguém dorme até resolver o problema”. Acordados?