O ambiente é de um hospital. O foco é no PA – Pronto Atendimento – que, até passado recente, chamávamos de pronto socorro. Tem mais pacientes no PA do que a capacidade de atendimento do hospital. Uma decisão precisa ser tomada. Antes de priorizar, de hierarquizar, triar. É o que recomenda Ed Batista, professor da Stanford Graduate School Of Business, autor do livro “Self Coaching”, ainda a ser lançado, e razão da página de abertura da seção Inteligência de Época Negócios do mês de outubro de 2014, assinada por Álvaro Oppermann.
Segundo Ed, numa crise como essa: “O hospital tem de decidir quem precisa de atendimento imediato, quem pode esperar, quem não precisa de ajuda e quem não pode mais ser salvo”. Difícil, muitas vezes triste e doloroso, mas, acima de tudo, verdadeiro. Segundo Ed, triar não significa eleger exclusivamente o que é mais importante. Implica também na coragem de identificar tudo o que é menos relevante, e descartar.
De certa forma, é a retomada do conceito defendido por Peter Drucker em quase todos seus 42 livros: ser eficaz, jamais eficiente, como equivocadamente, não obstante todos os méritos da iniciativa, a própria revista Época Negócios intitula a matéria de abertura que anuncia os vencedores do prêmio As Melhores Práticas de Gestão. O título da matéria é: “Por um Brasil mais eficiente”, quando, na verdade, deveria ser “Por um Brasil mais eficaz”. Segundo o maior dos mestres da administração moderna e do marketing, ser eficiente é fazer certo todas as coisas; e ser eficaz é fazer certo as coisas certas. E se der tempo – nunca dá –, considerar as demais
É isso, em tempos acelerados como os que vivemos, de mudanças estruturais extremas, completas e complexas, ou como nos ensinou Zygmunt Bauman, reportando-se a Ralph Waldo: “Quando se patina sobre o gelo fino – que é como vivemos nos dias de hoje – o que nos salva é a velocidade”. Nada de correr e muito menos ser açodado. Mas, ser rápido é vital. E, no ser rápido, eficaz, na absoluta impossibilidade de se fazer tudo, mesmo porque o tempo é hoje a maior de todas as condicionantes antes de hierarquizar, triar e descartar.
Ed lembra que quase caímos em depressão diante da quantidade de compromissos que não fomos capazes de cumprir e/ou executar. Segundo ele, deveríamos celebrar. É a tomada de consciência sobre nossos limites, nossa capacidade de lidar simultaneamente com poucas questões e assuntos, e assim, quase naturalmente, vamos procedendo a triagem. Só que não dá mais para que isso ocorra naturalmente depois. Tem, obrigatoriamente, que vir antes. E repete: primeiro triar e, depois, priorizar. E tomar todos os cuidados para evitar a pressão emocional durante a triagem: “Há uma carga emocional envolvida, pois rejeitar algo ou alguém muitas vezes nos faz sentir mal”.
Combinado. Pegue aquela lista enorme de pendências que você tem sobre sua mesa e faça uma espécie de “higienização”. Concentre-se exclusivamente nas coisas certas, lembra? Eficácia – fazer certo as coisas certas, e não todas as coisas (Drucker). Em tempos de muda, em que sabiá canta e jacu não pia, é o que se tem que fazer. Triar antes de priorizar.
Feliz 2015!