Já comentei com vocês, anos atrás, sobre uma campanha extraordinária que o governo do Canadá mantém no ar, de forma permanente, procurando alertar as crianças sobre os perigos envolvidos em pequenos movimentos, atitudes, descuidos. Uma campanha mais que merecidamente superpremiada, Dumb ways to die (Maneiras estúpidas de morrer).
Mais recentemente, e também como cometei com vocês, a novidade é o aparecimento e contágio fulminante da mais nova e estúpida maneira de morrer. E, também, de matar. Caminhar pela vida com os olhos grudados no celular. Segundo a Abramet (Associação Brasileira de Medicina no Tráfego), no ano passado, 2019, morreram 150 pessoas por dia no Brasil, 54 mil em todo o ano, tendo como “causa mortis” o pior dos vírus da atualidade: celular.
Todos os dias quase duas centenas de pessoas morrem, ou melhor, se matam,
ou, pior ainda, tornam-se assassinos, matam, atravessado ruas e caminhando, ou dirigindo, com os olhos grudados nas telinhas dos celulares. De uns tempos para cá, em nosso país, ao lado dos celulares, uma nova maneira estúpida, ultrajante e escatológica de se cometer suicídio: os big hambúrgueres… Supostamente respeitáveis redes de lanchonetes entram no embalo, sem se darem conta que o diferencial é propor, fazer e posicionar-se exatamente de forma oposta.
Meses atrás o Estadão pautou o tema e fez oportuna matéria. Publicou os maiores hambúrgueres oferecidos e anunciados aos suicidas. O McNifico do Mc, com dez fatias de bacon, com 695 calorias, e equivalente a três pratos de 250 gramas de macarrão ao sugo sem queijo ralado. O Mega Stacker Dinamite 4.0 do Burger King, com quatro hambúrgueres, molho de três queijos – mussarela, ementhal e dambo, + fatias de cheddar, molho stacker e bacon. São 2.320 calorias, equivalente a dez pratos de 250 gramas de macarrão ao sugo sem queijo ralado. E o Parmesão Artesanal do Bob’s, com hambúrguer de 160 gramas de carne bovina, parmesão crocante, maionese de ervas, pão italiano, bacon, tomate e alface, totalizando 865 calorias. Equivalente a quatro pratos de macarrão ao sugo sem queijo ralado.
Esse festival de péssimo gosto e escatologia, insuportável, é o que vem sendo praticado nas grandes redes. Nas redes menores e individuais, a bobagem corre solta e escala.
Segundo matéria da Veja SP do ano passado, na Vila Prudente, a revista encontrou e visitou uma hamburgueria que vende desde cachorro quente com quatro salsichas, pesando 1 quilo; passando pela Mooca, onde uma hamburgueria criou um derivativo sorvete Banana Split com 8.481 calorias; com Pit Stop no Santa Coxinha da Vila Prudente, que vende o Xtudão que pesa 2 quilos; e a Garage Burger, que se orgulha de vender o hambúrguer mais alto da cidade, talvez do mundo, o Mach 5, com 13 centímetros, só superado por uma hamburgueria do Itaim, que vende um hambúrguer com 14 centímetros de altura…
Chega! Todos com ânsia de vômito. Está mais que na hora de alguém sussurrar no ouvido dessa horda de ignorantes qual o verdadeiro sentido e significado da palavra qualidade. O único atributo que é verdadeiramente reconhecido pelas pessoas e pelo mercado, tem a condição de alavancar negócios pra valer e com sustentabilidade. Se hamburguerias isoladas ou pequenas redes cometerem essa barbaridade é um horror, as grandes redes como o Mc, o Burger, o Bob’s deveriam ser autuadas pela saúde pública. No passado dizia-se que só os peixes morriam pela boca…
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
(famadia@madiamm.com.br)