Alguns anunciantes da novela “Carrossel”, o mais recente sucesso comercial e de audiência do SBT, apoiam a regulamentação no que se refere à publicidade infantil, mas são contra qualquer proibição. Semana passada, a novela passou a ser alvo de investigação por parte do Procon/SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo), que entendeu que a veiculação de merchandisings na trama contraria princípios e normas do Código de Defesa do Consumidor, já que mistura ficção e realidade, o que seria impróprio para o target da novela.
Em comunicado, a Cacau Show, uma das empresas que anunciam no folhetim, informou, porém, que a ação realizada por ela “está totalmente em conformidade com as normas previstas em acordo prévio com a emissora”. Já a Mattel, que fez inserções da marca Hot Whells, ressaltou, em nota, a importância da publicidade na formação da criança como consumidora consciente, por isso, é a favor da regulamentação e não da proibição. A companhia disse ainda que “entende que as pessoas, instituições e empresas que lidam com o público infantil têm uma parcela de responsabilidade na forma de se comunicar e orientar as crianças para um consumo consciente, mas é dos pais o papel mais importante na educação de seus filhos”. A Mattel informou ainda que segue uma diretriz global de primar pela qualidade e ética dos conteúdos vinculados à suas marcas.
Já a Nestlé, que fez inserções da marca Chamyto em “Carrosel”, também reforçou que adota parâmetros rigorosos para divulgação de produtos ao público infantil. Segundo informações da empresa, em 2009, a companhia assumiu um compromisso público relacionado à publicidade para esse target, pelo qual se comprometeu a restringir a comunicação para crianças entre seis e 12 anos exclusivamente para produtos com perfil nutricional que auxiliem em uma dieta balanceada. A empresa ressaltou que a linha Chamyto possui perfil nutricional baseado nas recomendações de órgãos de saúde nacionais e internacionais.
Contraponto
Segundo Renan Ferraciolli, assessor chefe do Procon-SP, o principal problema desse tipo de ação de merchandising é que as mensagens exibidas se misturam com a história da novela e a criança ainda não tem capacidade para saber o que é ficção e realidade. Segundo ele, alguns encontros já foram realizados com o SBT, mas ainda não houve acordo. A emissora, por sua vez, informou que está tomando as medidas cabíveis para se adequar às normas do Procon-SP. Ferraciolli ressaltou, porém, que o SBT se dispôs a retirar a participação das crianças das ações de merchandising, mas, para ele, isso não seria suficiente, já que o público infantil continuaria sendo impactado.
Um levantamento realizado pelo Instituto Alana, ONG que atua na defesa dos direitos de jovens e adolescentes, mostrou que ficção e publicidade se misturam na novela. De acordo com Ekaterine Karageorgiadis, advogada da ONG, essas ações se aproveitam da ingenuidade da criança para vender produtos e serviços. O Alana encaminhou ao Procon material com exemplos de merchandising veiculados na novela, bem como um relatório sobre as ações e produtos anunciados. O Procon, por sua vez, afirmou que dará continuidade à investigação da novela.