Durante entrevista ao podcast “Na Salinha”, apresentado pelo redator Daniel Oksenberg, da AlmapBBDO, Marcello Serpa, hoje aposentado, revisitou sua carreira e falou sobre diversos assuntos.
Entre os temas abordados, Serpa mencionou o início de sua carreira na Alemanha, quando ainda estudava design. “Um dia, alguém comentou na classe que uma agência de propaganda chamada R.G. Wiesmeier estava precisando de assistente para fazer arte final. Peguei o telefone e liguei. O diretor de arte perguntou: ‘você sabe fazer arte final?’. Eu menti pra ele e disse: ‘sei'”, revela o ex-sócio da AlmapBBDO.
Depois, Serpa rumou para a GGK, também na Alemanha. “Tinha um clima super leve, criativo e divertido. Tenho amigos até hoje dessa época e para mim foi uma aula, um espaço de aprendizado de como criar uma cultura criativa dentro de uma agência”, analisa.
Da Alemanha, o criativo voltou ao Brasil e, inicialmente, fez parte da equipe da DPZ, mas antes também ofereceu seu talento para a GGK que havia se tornado W/GGK e feito sociedade com Washington Olivetto. “Consegui uma entrevista com o Washington e depois com o [Francesc] Petit (DPZ)”, conta. “Fui no Washington de manhã. Ele tinha acabado de montar a agência. Estava com o Gabriel Zellmeister como sócio. Me dei super bem com o Gabriel, gostei muito dele. Tremenda empatia, cultura meio germânica que ele tinha, conhecimento da propaganda europeia e meu trabalho encaixava muito bem. O Washington adorou meu trabalho, gostou, mas disse que precisava ser brasileiro, pois era muito alemão, muito racional, era uma estética diferente […] Era bem distante daquilo que o Brasil estava fazendo naquele momento”, disse. “Dali começou uma mistura de duas vertentes na minha cabeça e na minha vida que são uma certa disciplina de raciocínio de pensamento alemão com a loucura e o caos brasileiro”, diz.
Olivetto disse: “Me liga um dia desses”. Mas Serpa estava no Brasil para arrumar um emprego, pois, afinal, ele já tinha trabalho. “A última coisa que ele queria na vida era um brasileiro vindo da Alemanha para se meter no que ele estava montando. Saí de lá meio decepcionado, fui almoçar e depois fui na DPZ”, conta. Foi então que Petit aceitou Serpa. Lá, o profissional trabalhou com nomes como Paulo Ghirotti, Rodolfo Vanni, Helga Miethke, Ruy Lindenberg, entre outros. “Era uma turma poderosíssima”, afirmou.
Mas o ambiente do trabalho no Rio de Janeiro “era confuso”. Depois de um ano, o profissional falou com Stalimir Vieira, que dirigia a criação da unidade carioca à época, e pediu para ir trabalhar em São Paulo.
Serpa queria usar o visual como uma linguagem, não como acessório. Foi quando surgiu a proposta para a DM9. “O Nizan, muito rapidamente, percebeu que ele precisava dessa sofisticação para dentro da agência dele para misturar o popular com o sofisticado”, analisa. “‘Posso te pagar o que a DPZ te paga, mas não posso te pagar mais'”, disse Nizan. A proposta: montar uma empresa de design com Serpa e ele faria o trabalho para os clientes da DM9, além de ser diretor de arte da agência.
“Eu queria ser dono do meu nariz, fazer as coisas que eu gostava. Queria ter o meu espaço. Dentro da DPZ, lembro que teve momentos onde o [Luiz] Toledo, Paulo Ghirotti e eu pensamos em montar uma agência, mas a coisa não andou”, diz. Quando Nizan veio com a proposta, casou a fome com a vontade de comer. A saída da DPZ foi conturbada. “O Petit ficou bem chateado comigo”, confessa.
“Naquela época, eu era muito novo e o Nizan também era muito novo”, explica. Para os dois, era tudo novidade. Nizan, como empresário, estava começando. Serpa chegou a duplar com o baiano. “Funcionava muito bem, porque havia um respeito mútuo. O Nizan era um cara normal. Não era esse mito Nizan […], ele estava construindo a lenda dele”, explica.
Muitos dos trabalhos da DM9 se tornaram clássicos. Um deles, inclusive, ganhou um Grand Prix em print no Cannes Lions, o primeiro do Brasil, em 1993. “O Nizan até hoje quer dividir essa ficha que é indivisível. Eu fiz, o Nizan viu pronto”, diz o publicitário. “Quando ganhou o Grand Prix, eu já tinha saído da DM9”, conta Serpa iniciando o relato de seu próximo passo profissional: o renascimento da Almap ao lado de Alexandre Gama e José Luiz Madeira, em sociedade com a BBDO.
Antes, Nizan havia oferecido 6% da DM9 a Serpa. Mas veio a proposta da BBDO e o profissional arriscou. No podcast, Serpa relembrou um dos trechos de sua carta de despedida para o baiano: “Nizan, eu prefiro ser um arbusto pequenininho do que ser sombra de carvalho”.
“No fundo, havia um respeito mútuo, porque eu aprendi muito com o Nizan. Ele é pra mim o cara mais visceral da propaganda brasileira e eu respeito quando as pessoas são viscerais porque eu acho que é dali que saem as coisas mais puras e boas da propaganda. Não é com o racional”, analisa.
Até hoje o respeito continua. Quando Serpa ganhou o Leão de São Marcos em Cannes Lions, Nizan foi o único dos grandes nomes da propaganda brasileira que ligou para o publicitário dando os parabéns.
Ouça a entrevista completa no podcast abaixo. O programa “Na Salinha”, vale lembrar, está disponível no Spotify, Deezer e todos os apps de podcast: