Aprendizado, escuta e respeito estão entre os princípios básicos da liderança
Imagine uma comunidade onde cada mulher vale dez vacas. Ela só pode ter um marido, mas o homem pode ter quantas mulheres quiser. O grupo masculino é responsável pela segurança e pelos animais, enquanto mulheres cuidam da casa e das crianças. Marcia Esteves, CEO e sócia da Lew’Lara\TBWA, viu de perto a tribo seminômade Massai, do Sul do Quênia, na África. Mas antes de julgar crenças, costumes e rituais, ela convida as pessoas a entenderem os hábitos de uma cultura milenar.
“É assustador quando se compara com a nossa cultura, mas todos os pontos de vista fazem sentido. Independentemente se você concorda ou não, todas as diferenças precisam ser respeitadas”, ensina uma das dez mulheres reconhecidas pelo PROPMARK como liderança feminina de destaque no mercado de comunicação brasileiro.
No lugar de questionamentos, Marcia sugere alternativas capazes de melhorar a vida das pessoas. Uma delas é escutar para poder tomar decisões em prol da comunidade. “Quando a gente aprende a respeitar e entende que as diferenças só constroem, passamos a escutar, mais que falar. Esse é o princípio básico da liderança”, define a executiva, que deve ser a primeira mulher a presidir a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap), empossada no fim deste mês de março.
O olhar para as diferenças foi lançado ainda aos 15 anos, em intercâmbio na Austrália. E não se fechou mais. Entre estudos e o início da vida profissional, Marcia passou pela Itália, Espanha e Estados Unidos. “Quando comecei, mulher mal entrava na criação. Hoje, temos poucas criativas, mas temos”, admite. Ela comemora a evolução, mas sabe que o trabalho à frente “leva tempo porque, se for forçado, não é sustentável”, alerta.
A lacuna reflete uma faceta perversamente incrustada na história do Brasil, pária na educação de seu povo. “Por muitos anos, capacitamos pouco as mulheres para determinadas tarefas. Tem de abrir espaço nas escolas, universidades, começar da base”, observa Marcia.
Investir nas pessoas é o desafio mais gratificante proporcionado pela propaganda. Ferramentas e tecnologias chegam a todo momento, formando um ecossistema colocado a serviço da transformação da sociedade. “Todos os dias temos a possibilidade de falar com o Brasil, precisamos pensar em fazer isso da melhor forma, gerando resultados para as marcas”, comenta Marcia, grata pelo privilégio de poder conhecer a riqueza de diferentes regiões.
Essa força ganha potência quando encontra briefings que desafiam o status quo e estimulam trabalhos colaborativos. São propostas que vão além da execução. Permitem encontrar respostas e soluções criativas. “É impressionante a diferença de um ‘execute’ versus ‘ajude-me a solucionar um problema’, que traz todo mundo para a ideia”, comprova.
Dos cases emblemáticos que ajudou a construir ao longo de 20 anos de carreira, a executiva destaca o trabalho integrado de Xuxa morena; O Jantar da vingança, feito para o Reclame Aqui; a reparação histórica firmada na ação A cor real do Machado; a ideia que transformou uma concessionária da Volvo em loja de bicicleta para o Dia Mundial Sem Carro; a plataforma Adote um áudio, da Fundação Dorina Nowill; e a acessibilidade levantada na campanha Somos 10 milhões, criada para o Banco do Brasil.
Marcia assumiu o seu primeiro cargo de presidência aos 34 anos na Grey Brasil, em 2017. PepsiCo, Procter & Gamble, M. Dias Branco, XP Investimentos, Netflix, Camil, Omint e cerveja Devassa estão entre marcas já atendidas na Leo Burnett Tailor Made, Wunderman, Rapp e na função atualmente exercida na Lew’Lara\TBWA.
Além de prêmios conquistados no Brasil e exterior, entrou na lista dos dez profissionais mais admirados das agências nos anos de 2020 e 2022 pela Scopen; é Ícone da Propaganda 2019 pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide); ganhou o Prêmio Affonso Serra 2019, concedido pelo Grupo de Atendimento e Negócios; e integra o Hall da Fama do Marketing, da Academia Brasileira de Marketing (Abramark).