O imenso rio chamado Brasil volta a correr sob a proteção das suas margens plácidas, como dita o nosso Hino.

Entendemos que o 24 de janeiro passado representará um novo 7 de Setembro na vida nacional, libertando-nos dos grilhões que nos prendiam a tortuosos caminhos políticos ultrapassados. É conveniente registrar que no início dessa peregrinação, ora condenada e muito bem condenada, houve não só a esperança de dias melhores, como estes chegaram de fato a ocorrer.

Mas, o quadro favorável durou pouco, pois seus principais artífices foram sendo derrubados um a um, por terem deixado de lado suas convicções em defesa de um país melhor para todas as classes, transferindo seus esforços e objetivos para o enriquecimento pessoal ilícito.

A partir daí, o quadro foi revertido, adotando-se então uma política desastrosa de governo, na tentativa de se perseguir um modelo ultrapassado de gestão pública, que fracassou onde foi aplicado.

E onde ainda impera, só se mantém à custa de uma perseguição ferrenha aos discordantes, muitos deles condenados à prisão por delito de opinião.

O Brasil então se fracionou, lembrando Maquiavel e a sua discutida tese de dividir para governar. Pedimos licença a Henrique Nelson Calandra e Sergio Ricardo do Amaral Gurgel, para reproduzir trecho de um artigo de ambos, publicado na edição do aniversário de São Paulo pelo Estadão: “O Brasil vem-se transformando num Estado policial, e com a agravante da hipocrisia endêmica. Num clima de constante patrulhamento ideológico, todos olham para o erro do próximo, mas ninguém cogita de voltar a atenção para si mesmo. Por essa razão, virou rotina ouvirmos discursos moralistas saindo da boca dos mais degenerados (grifos nossos)”.

E prosseguem: “Não existe mais um perfil das ações que vão desaguar no STF, pois em plenário se chega a discutir até mesmo questões envolvendo briga de galo”.

Esse tipo de comportamento, estimulado por governantes despreparados para os cargos até então ocupados, resultou na cisão do país em no mínimo duas partes desiguais: nós e eles. O nós, que são eles, os despreparados, porém espertos e gananciosos, embora representando menos de um terço do capital político nacional, formaram o que supunham ser um invencível grupo de profetas do caos, eles mesmos causadores do desiderato das suas profecias.

Venderam bem suas embromações, mas não contavam com a velocidade de aproximação do saldo negativo final.

Ao furtarem tijolos do alicerce Brasil, imaginaram que o gigante jamais esmoreceria. Mas, abusaram da quantidade de tijolos furtados e o país perdeu seu chão. Nessa política de destruição e esculhambação, não contavam com a resistência e a revolta cada vez mais ativa dos verdadeiros espoliados.

A nação foi repetindo seu basta a esse estado de coisas, impregnando o espírito de autoridades sérias que também se horrorizavam diante do que viam. E sofriam.

As provas, tantas vezes clamadas por Lula da Silva, estão à farta nos autos da Lava Jato, dando-se a condenação em Primeira Instância com um primor de trabalho jurídico. A ordem então passou a ser desqualificar o juiz Sergio Moro e sua sentença, criando-se a falácia da falta de provas.

Os autos subiram para apreciação em Segunda Instância e a trinca de desembargadores que julgaram o réu principal do processo não se deixou levar pela importância do mesmo. Mais que nunca, permaneceu visível, para o país do bem, o respeito sem qualquer esforço a um dos princípios basilares do mundo civilizado: “A lei é igual para todos”.

Nova permissão aqui para transcrição de um trecho do artigo do professor Joaquim Falcão, professor emérito do curso de direito da FGV/RJ (www.joaquimfalcao.com.br): “Uma nova geração de magistrados pede passagem. Desempenho impecável e encantador – A transmissão ao vivo do julgamento do TRF4 permitiu ao público compará-lo com os julgamentos que se tem visto no STF. A postura dos magistrados, raciocínio, método de análise, forma de se comunicar, tudo é diferente. Não há competição pessoal ou ideológica entre eles. Nem elogios recíprocos.

Cada um é si próprio. Não há troca de críticas veladas ou aplausos desnecessários. Ou insinuações jogadas no ar. Mais ainda: não há exibicionismo. (…) A argumentação é toda fundamentada nos fatos. Vistos e provados. Não se baseia apenas em testemunhos ou denúncias. Fundamentam seu raciocínio no senso comum que emana dos fatos. Provas materiais (…) os fatos. Que de tão evidentes e intensamente descritos, não deixam margem a qualquer dúvida razoável”.

Em vez de atacar também os jovens desembargadores, sem levar em conta que deve muito da sua duradoura carreira política aos jovens, Lula da Silva deveria fechar-se em si mesmo, fazer um mea culpa – ainda que apenas para si – e acalmar os conhecidos líderes de facções que o cercam, fazendo-os entender, como ele tomara já tenha entendido, que o momento é mais de reflexão do que de prosseguir em uma luta que agora se tornou ingrata e com desfecho previsível.

Comparar-se a Jesus Cristo, Tiradentes e Nelson Mandela, só reforçará pela lembrança da comparação, a enorme distância que os separam do atual condenado por unanimidade em Segunda Instância.

 

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Este Editorial é em homenagem aos três desembargadores do TRF4, que, ainda reproduzindo Joaquim Falcão, “apresentaram ao Brasil uma nova maneira de pensar, expressar e construir a justiça. Provavelmente a maneira de magistrados se comportarem na TV, na internet e até nos julgamentos sem transmissão, nunca mais será a mesma. Uma nova geração pede passagem”.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).