O primeiro bimestre do ano é terrível para alguns setores da economia, mas muito importante para outros. Enquanto algumas empresas demoram para aquecer seus motores para acelerar o novo ano, outras apostam nesse período como um dos principais para turbinar seus negócios. Escrevo este artigo exatamente no dia do meu retorno de férias. Resolvi passar o Natal e o Ano Novo fora do país.
Por ter atuado um período da minha vida no setor de turismo e eventos, tenho uma visão crítica da dinâmica desse segmento da economia. E é flagrante a diferença que existe entre os equipamentos localizados em cidades praianas ou em destinos turísticos de verão e aqueles existentes em grandes centros, como São Paulo.
Em Salvador, cumprindo uma tradição de “esticar” as datas festivas, foi criado o Festival de Fim de Ano, com shows e atrações durante quatro dias, e não só na noite da virada.
No problemático Rio de Janeiro, foram colocadas todas as fichas numa megavirada de ano, com um evento mais grandioso que o habitual, liderado pela Riotur, que contou com o competente Abel Gomes (que já havia atuado na bela abertura das Olimpíadas no Brasil).
E até onde sabemos, ambas as festas foram muito bem-sucedidas, garantindo ocupação recorde nos hotéis e as cidades lotadas de turistas, movimentando uma economia dependente do setor terciário – de serviços.
Cito essas duas cidades, que vivem problemas de queda de atratividade, causadas por questões diferentes. Salvador é um destino muito conhecido e desejado, não só por brasileiros, como também de estrangeiros, mas vinha sofrendo uma queda, em função de uma falta de renovação da sua estrutura hoteleira e um recrudescimento na percepção de insegurança.
Já o Rio vive uma situação contraditória: por um lado, a estrutura hoteleira nunca esteve tão boa. Do Leme ao Pontal, há hotéis para todos os gostos e preços.
Há também nova estrutura viária, que facilita o deslocamento, via transporte público, principalmente daqueles que ficam na Barra, que, em função das Olimpíadas, ganhou excelentes opções de hotéis, junto às suas praias ainda limpas. Mas o problema da insegurança e da falência do estado, em função da pilhagem e da inacreditável administração de Sergio Cabral e seus comparsas, e o consequente aumento da insegurança, o Rio vinha sofrendo muito para atrair turistas, deixando hotéis com taxa de ocupação em níveis incompatíveis com o potencial da Cidade Maravilhosa.
E o Rio, que ainda é o cartão-postal do Brasil, perdeu a liderança do número de turistas visitantes. O que esperamos é que a virada de ano bem-sucedida marque a virada do Rio.
Isso será bom, não só para os habitantes daquela cidade, como para o Brasil, como um todo, que depende da boa imagem do Rio para atrair mais turistas. Mas isso exige muito mais do que a iniciativa voluntariosa de alguns abnegados. Depende de uma política governamental, em todos os níveis: federal, estadual e municipal.
Nas minhas férias de virada de ano, estive, entre outros lugares, em Orlando, que em 2017 se fixou como a cidade que mais atraiu turistas no mundo, superando Paris. Incríveis 60 milhões de turistas passaram pela cidade. Só para se ter uma comparação, em 2016 – ano das Olimpíadas no país –, o Brasil inteiro teve pouco mais de 10% (6,6 milhões) do que a cidade de Orlando, isoladamente.
É claro que isso é consequência da iniciativa privada, principalmente dos complexos de entretenimento da região. Eu, por exemplo, estive lá para conferir a nova atração Pandora, o mundo de Avatar. Mas não basta a iniciativa privada.
Esse é um setor que depende fundamentalmente da presença do governo, garantindo infraestrutura viária e, principalmente, de segurança, para, pelo menos, não assustar turistas.
No início deste ano, que será marcado pela troca de governo federal, fica a nossa esperança por uma gestão mais competente dos novos governantes, também no importante setor de turismo.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda) – alexis@fenapro.org.br