Desde 2013, a Whirlpool, multinacional norte-americana dona da Brastemp, Consul e KitchenAid, tem a própria universidade corporativa para capacitar os colaboradores, que funciona com parceiros como o Google e a ESPM. Entre os principais objetivos estão a formação e a retenção de talentos e o treinamento para tornar os funcionários embaixadores de suas marcas. Andrea Clemente, diretora-sênior de Recursos Humanos da Whirlpool Latin America, conta nesta entrevista como é a estratégia que tem o marketing como um dos principais focos do negócio.
A Whirlpool tem uma universidade corporativa? Como ela funciona?
Sim, há cerca de dez anos a gente tem um trabalho grande de educação corporativa. Mais recentemente, em 2013, fruto de um projeto de trainee na área de RH, a companhia deu início à nossa universidade corporativa, que cobre todos os públicos, do operador ao board de diretores, com diversas academias.
É especificamente para a área de marketing?
Não, a universidade corporativa é para toda a companhia, em todos os níveis. Ela é composta de cinco academias, sendo que uma delas, a Academia Funcional, trabalha as competências técnicas para exercício da função atual e futura. Em todas as áreas essa academia é aplicada e, especialmente na área de marketing. Nós temos um trabalho grande, que é realizado em parceria com os gestores da área, rodando anualmente capacitações para o desenvolvimento do time de mar- keting.
Onde funciona a Universidade Whirlpool?
Ela funciona remotamente. Apesar da aplicação na região, a universidade é global. Temos também salas de treinamento dedicadas e nos centros administrativos, que são espaços menores, trabalhamos em parceria com instituições. A universidade não necessariamente tem uma sede física. Quando fizemos o projeto entendemos que universidades virtuais são uma tendência, principalmente pelo desenvolvimento do treinamento online.
Todos os cursos são online?
Os cursos não são todos online. Temos muitos que são presenciais. Dentro dessas academias, temos a Academia Whirlpool, onde a gente dissemina toda a parte de estratégia da empresa, missão, visão e valores. Tem a Academia Funcional, onde é forte o lado de marketing. Tem a Academia de Negócios, que desenvolve competências para o negócio. A Academia de Liderança, mais comportamental, e a academia para melhoria contínua. O marketing participa de praticamente todas elas e da academia funcional, mais fortemente, porque é onde desenvolvemos treinamento de brand excellence e de digital, com parceiros como o Google e a ESPM.
Qual é a duração dos cursos?
Eles são anuais. E cada curso tem um tempo X de horas de ensino. Também realizamos algumas capacitações com o Google em temas de digital.
Como é esse curso de brand excellence com a ESPM?
A ESPM já é um parceiro tradicional da Whirlpool. A gente já tinha desenvolvido um treinamento de brand excellence internamente. Nos últimos anos, temos trabalhado com a ESPM desenvolvendo esse curso, que oferece uma visão geral do marketing, incluindo todos os subsegmentos de marketing, atuando com marca, categoria, estratégia, inovação e cada vez mais forte com o digital. Ainda tivemos rodadas de jogos de negócios com base em todos esses treinamentos pontuais que foram acontecendo ao longo do ano.
Quais são os resultados na prática?
A gente tem resultados amplos. Primeiro, cada vez mais percebemos, por meio de pesquisas internas e externas, o peso do desenvolvimento para atração e retenção das pessoas. A gente mede isso em termos de engajamento e satisfação das pessoas com as oportunidades de aprendizado e, por consequência, em assumir outros desafios na carreira com base nisso. Além disso, ao longo de mais de dez anos atuando com educação corporativa, a gente conseguiu fazer uma mudança da nossa base de gestores, sendo que a companhia tinha anteriormente cerca de 30% dos gestores promovidos internamente e 70% vindos do mercado. Hoje esse número é o oposto. Temos 70% dos gestores crescendo dentro de casa, fruto de um trabalho grande de desenvolvimento de talentos. E no marketing, uma área bastante jovem, trabalhamos uma complementação da formação dessas pessoas. Essas mesmas tendências de percentual de gente crescendo dentro de casa também são aplicáveis ao marketing.
O marketing hoje é uma das áreas mais desafiadoras dentro das empresas e que mais sofrem pressão por resultados. Como vocês lidam com essa questão?
Marketing é uma área muito relevante da companhia, que define em muitos aspectos o norte da empresa. Enfim, é muito relevante na estratégia da companhia, desde o posicionamento das marcas, que precisa se traduzir nos produtos que vamos trazer para o mercado até a responsabilidade pelo negócio. A gente trabalha com o conceito de gestão de categoria e o marketing fica muito no holofote dos resultados. Então, a preparação das pessoas, o contínuo suporte da liderança e o desenvolvimento da estratégia são fundamentais para preparar o marketing para isso. Hoje um dos nossos pilares estratégicos é a liderança em marca. Com base nisso, temos uma série de trabalhos internos e em parceria com consultorias para desenvolver o marketing e prepará-lo para esse cenário, em que o mercado é cada vez mais volátil, veloz, muda muito, muda muito rápido e profundamente.
O que é essa gestão de categoria que você citou?
O marketing muitas vezes não é o responsável formal ou direto, mas é indiretamente responsável pelos resultados do consumo. O marketing responde na gestão de categorias por esse bottom line. A área precisa ter essa capacidade de influência para conduzir o negócio como um todo para o caminho adequado, para alcançar as metas de rentabilidade, market share e afins.
Os cursos têm ajudado no alcance dos resultados financeiros?
Eles têm ajudado, mas é difícil de isolar. Os cursos são preparação para ajudar nisso também, na clareza de estratégias, gestão do dia a dia e projetos de melhoria.
Como essa capacitação profissional reverbera para o consumidor final?
Fazemos treinamentos com temas de marketing para a organização como um todo, para entender a proposta e o posicionamento de cada marca. Temos constantes treinamentos no sentido de os funcionários entenderem as marcas e se tornarem grandes embaixadores das três marcas da companhia: Brastemp, Consul e KitchenAid, que trouxemos mais recentemente para o mercado brasileiro, é muito reconhecida lá fora e, aos poucos, vem alcançando esse reconhecimento também no país.
Quantos funcionários a Whirlpool tem no Brasil?
Cerca de 11 mil colaboradores só na unidade de eletrodomésticos. O grupo tem também a unidade de compressores.
Além da formação de talentos, os cursos também trabalham na retenção de talentos?
Sim. O objetivo da universidade também é a retenção de talentos. Tem duas grandes coisas que as pessoas, principalmente os jovens, buscam nas organizações: uma é desafio, o que posso aprender, realizar com isso; e a outra é o desenvolvimento. Uma meio que alimenta a outra. Estar em empresas que investem em desenvolvimento é entendido como uma alavanca de retenção.
O que vocês fazem para inspirar os funcionários nos dias de hoje?
É o grande dilema de todas as companhias. A gente tenta conhecer as pessoas, por meio de pesquisas de engajamento e das lideranças. Dentro da Whirlpool, falamos muito de cultura e valor, sobre aquilo com que as pessoas se identificam com a empresa e procura viver isso na prática. E cada vez mais, as pessoas têm falado de propósito, querem saber para onde isso as levam, para onde leva a empresa, como isso contribui. Essas são as práticas que inspiram as pessoas. Também falar com mais frequência e transparência, se comunicar com o nosso público. O nosso presidente, por exemplo, roda com frequência as unidades.
Quais são os principais valores da Whirlpool?
São cinco valores globais: trabalho em equipe, espírito de vitória, respeito, integridade, diversidade e inclusão. Para cada valor temos uma definição e o que representa para a companhia. As pessoas são avaliadas pelos resultados que entregaram e como aplicaram esses valores.
Qual é o investimento em capacitação profissional?
Não abrimos o investimento, mas é um percentual que em 2015, por exemplo, foi todo preservado, por entendermos a relevância do histórico que a Whirlpool tem em desenvolvimento interno.
Qual é a idade média do profissional da companhia?
É um profissional mais jovem, em geral. Nós acreditamos nesse valor de diversidade, no mix de talentos, perfis e de idade. Especificamente na área de marketing, o profissional é ainda mais jovem.
Que características a Whirlpool procura mais em um colaborador?
Temos um modelo de liderança, que também é global e conhecido por todos os colaboradores. Há coisas como “tenha paixão”, “seja ousado” e “jogue para ganhar”. São oito atitudes/comportamentos que são descritos e guiam um pouco o modo de agir das pessoas em geral.