Sou um homem que caminha para a velhice. A afirmação parece tola, pois mesmo um recém-nascido está na mesma jornada. Mas, melhorando a precisão da frase, estou mais próximo da velhice do que, digamos, um adolescente. Tal como Bukowsky, não consigo encontrar muita vantagem nessa condição, pois o grande problema é que a experiência por si só não vale nada e eu trocaria todo o conhecimento que acumulei pelo vigor, entusiasmo e esperança que tinha quando bem jovem. Não vamos entrar no terreno do pau duro, ou pelo menos, daqueles paus duros do passado, porque daí começo a chorar.

A verdade é que sou um homem maduro e nada se pode fazer a respeito disso, a não ser lutar contra a vontade de ter saudade do passado e começar a editá-lo, transformando-o numa irrealidade. O certo é que cada idade tem suas vantagens e desvantagens, umas anulando as outras, com a provável exceção da quantidade de coisas que a gente podia comer, sem ou com trocadilhos. O assunto me veio à cabeça porque estou envolvido na contratação de uma equipe para trabalhar e, quando algum amigo me recomenda alguém, sou obrigado a ouvir uma ladainha sobre eventuais qualidades deste ou daquele candidato, o fato de que se trata de um jovem. Ainda ontem um companheiro de trabalho, sem mencionar formação, talentos, experiência e qualidades, ressaltou que a pessoa que seria de sua preferência na contratação tinha “sangue novo”.

Baixou-me o espírito professoral e contei uma parábola, que não se encontra em nenhum livro religioso, mas que contém grande sabedoria. Dizem que no Rio Grande do Sul, há muito tempo, um velho prefeito lutava por sua reeleição contra um jovem político, que concorria pela primeira vez. No debate pela televisão, o político novo usou todo o tempo de sua apresentação destacando sua idade, comparando-a com o velho prefeito, que só não estava pilchado e tomando chimarrão na cuia por distração. O guri falou como china bêbada. Discorreu sobre a diferença de idade e centrou seu discurso exatamente nesse ponto: a decisão que o eleitorado deveria tomar entre o velho e o novo. Foi a vez de o prefeito falar. As câmaras focaram seu rosto impassível, como quem medita profundamente. E ele diz: “Mas bah! E eu que achava que a eleição era para prefeito e estou descobrindo que é para comer cu!”.

Confesso que algumas vezes me irrito com essa exaltação à pouca idade, assim como não concordo que todo antigo, só pela quantidade de anos vividos, possa ser considerado mais capaz. Há no fundo de tudo isso a necessidade de se saber usar tanto a juventude como a experiência. O contrário resulta nessa multidão de arrogantes frangotes despreparados e velhotes ultrapassados. Para piorar a situação, estamos, na indústria da propaganda, num momento de grandes transformações. A forma tradicional de se “propagar” ou de divulgar mensagens está se adaptando às novas e maravilhosas ferramentas do mundo moderno, além de que o próprio consumidor e seus hábitos mudaram bastante.

Esse novo panorama exige constante atualização dos profissionais, em todas as áreas. Mas ouso dizer que – ao contrário do que propalam os novos gurus – todas essas mudanças são superficiais. Não, por favor, não me considere um imbecil completo. Pelo menos por enquanto. O que eu quero dizer é que a essência humana, seus desejos e suas aspirações mudaram muito pouco desde que os consumidores iam à “pharmácia” adquirir suas Pomadas Minâncoras até hoje, quando se considera produtor de conteúdo, participa das redes sociais e continua comprando pela mesma razão que sempre o fez, seja Bom Bril, plano de telefonia, pipoca de micro-ondas ou candidatos a prefeito.

Adaptar-se ao uso da tecnologia é infinitamente mais fácil do que criar ideias mobilizadoras, propaganda que influencia, seduz e arrebata. Não me venha com chorumelas pseudotecnológicas. Não adianta eu usar qualquer método algorítmico se não tiver produtos, serviços e mensagens que atraiam o consumidor. E criar para atender ao ser humano necessita de curiosidade, empatia e perspicácia. E, além de tudo, de talento. E isso não tem idade. Falo em causa própria? Acho que nem tanto, pois não estou procurando emprego. Pelo menos esta semana.

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor