Em nenhum momento de toda a obra de Conan Doyle, Sherlock teria dito “elementar, meu caro Watson”. “Elementar” e “meu caro Watson” aparecem algumas vezes em frases, mas sempre separados; jamais juntos. Os críticos, os admiradores e os seguidores, encarregaram-se de juntar. Mesmo porque de elementar não existia nada nas descobertas de Sherlock Holmes para os outros. Talvez, e apenas, para ele mesmo.

Sherlock era dedutivo. Seu parceiro Watson, pessoa comum, indutivo. Lastreava-se numa série de experiências individuais até, pela repetição, converterem-se em verdade e conhecimento para ele. Sherlock batia os olhos, identificava sinais e deduzia. Matava a charada, resolvia o crime. A IBM preferiu batizar seu futuro de Watson e não de Sherlock. Estava certa. Está certa. Seu Watson combina milhões de fatos individuais em segundos, espreme, tira o sumo, e pare inovações, criações, conhecimento.

Deep Blue fez trapaça. Sem querer. Era o segundo desafio com o genial Kasparov, campeão mundial de xadrez. O dia era 3 de maio de 1997. Começa o primeiro jogo. No 44º lance, Deep Blue pira e faz um movimento paradoxal, contraintuitivo. Do alto de sua soberba Kasparov não percebe e acredita nas intenções do computador. Desequilibra-se emocionalmente e vai despencando a cada nova partida até jogar a toalha. Para a história, o computador finalmente derrotara o homem.

Novembro de 2004. Charles Lickel, da IBM Research, jantando no Four Seasons, em Nova York. Correria. Todos deixam seus lugares e mesas e postam-se diante do aparelho de TV do bar para testemunharem mais uma vitória de Ken Jennings, o grande campeão do Jeopardy. Transforma a experiência e insight e, em um memorando interno, desafia a IBM a fazer um computador capaz de derrotar Ken. Um computador capaz de entender a linguagem humana e responder a qualquer pergunta sobre qualquer assunto instantaneamente.

Em 2007, começa a nascer o Watson. O desafio é marcado para 2011. Fevereiro, Watson enfrenta os dois maiores vencedores de toda a história do Jeopardy. Ken Jennys e Brad Rutter. Duas rodadas. Watson ganha as duas e “leva para a casa” o prêmio de US$ 1 milhão. A IBM esclarece que a denominação não tem nada a ver com Sherlock nem com Holmes. E, sim, com o legendário fundador da empresa, Thomas J. Watson. Eu não acredito. Mas não importa.

Hoje, Watson é um computador, mas é muito mais que um computador. Como o define sua mãe, IBM, “é um sistema concebido para compreender e responder à linguagem humana, permitindo que se mude a forma como interagimos com as máquinas”.

Recentemente o líder da solução Watson da IBM, David Kenny, esteve no Brasil. Em diferentes entrevistas corrigiu o excessivo otimismo em relação ao sistema no curto prazo, mas reiterou as descomunais conquistas decorrentes no médio e longo prazo: “O Watson não dará respostas, mas ajudará a formular as questões certas para que os humanos encontrem as melhores soluções”. Assim, não será o Watson, por exemplo, que encontrará a cura do câncer, mas será o Watson que orientará os cientistas, evitando erros e encurtando caminhos em direção à cura do câncer.

Apenas ou tudo isso. A palavra final é nossa. Concentraremos nossa energia, conhecimento e inteligência limitados no que verdadeiramente interessa e onde somos insubstituíveis, devidamente auxiliados e orientados pelo querido e aguardado Amigo Watson.

Nada pior do que se encontrar a resposta certa para a pergunta errada. Esse erro não cometeremos mais, certo, Watson?

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing