Pouco a pouco vão se desvanecendo as imagens emocionantes das Olimpíadas no Brasil. Por alguns dias, o país mostrou ao mundo sua melhor cara. Mais de cinco bilhões de espectadores de todos os continentes acompanharam a linda cerimônia de abertura, mostrando um país criativo, alegre, diversificado e hospitaleiro.
Outras belas e tocantes imagens se sucederam ao longo dos jogos, sempre positivas. Para um país atordoado pelo festival de más notícias que ocorriam antes do evento, foi um alento.
Por um tempo, o país da corrupção, da derrocada econômica, da insegurança e da instabilidade política deu lugar ao Brasil do imaginário positivo. Não houve um veículo sequer – nacional ou internacional – que não enaltecesse a beleza, a alegria e a harmonia reinante durante o evento. De todo o legado dos jogos, o da imagem positiva do nosso país pode ser considerado o mais importante.
Quanto custaria uma campanha com alcance de cinco bilhões de pessoas para “vender” o melhor do Brasil? Incalculável! Quem atua no marketing ou na propaganda sabe da importância de se apropriar e catalisar um bom momento, transformando-o em momentum.
Devíamos estar preparados para deflagrar uma ação contundente de promoção do país, convidando a todos a conhecerem de perto esse país tão lindo e hospitaleiro, certo?
E o que vemos, com tristeza e desesperança, é a “acomodação” de mais um ministro de Turismo no Brasil. Não sabemos da experiência do novo ocupante do Ministério em turismo, mas está muito claro que foi um atendimento político do presidente a um partido aliado.
Na verdade, desde o governo Dilma, o turismo tem sido relegado a um segundo plano e servido simplesmente para contrapartidas políticas.
É lamentável ver o turismo ser encarado com esse desdém. Tempos atrás, assisti a uma apresentação de um desses ministros efêmeros com uma abordagem animadora. Ele fez um paralelo do turismo com a agricultura brasileira.
O Brasil tinha um grande potencial para se tornar um dos maiores players do agribusiness: terra fértil e farta, além de bom clima. Com uma política governamental adequada, em poucas décadas o Brasil se tornou um dos maiores produtores de produtos agrícolas. Foi só dar boas condições à iniciativa privada e a coisa aconteceu.
Com o turismo, temos a mesma situação: o potencial é enorme e ainda subexplorado. Temos quase 7.500 km de litoral, com praias belíssimas; clima agradável e convidativo; um povo alegre e hospitaleiro; florestas; pantanais; serras; gastronomia rica e variada…
Bastaria, portanto, priorizar uma política adequada, estabelecer um planejamento competente, garantir os recursos e deixar a iniciativa privada trabalhar. O resultado viria. O tal ministro durou poucos meses na cadeira e levou junto o seu discurso sem consistência.
Sabemos que há muito por fazer pelo nosso vilipendiado Brasil. Alguns dirão que essa preocupação com o turismo é descabida num país que já supera a marca de 12 milhões de desempregados.
O turismo seria um tema secundário, perante tantas outras prioridades. Sim, mas vale lembrar que a melhor política de emprego é a de fortalecimento de setores da economia.
E o turismo, sabidamente, é altamente empregador, com potencial para gerar 8 milhões de empregos. Diversos países deram prioridade ao turismo e viram o setor crescer em importância no seu PIB.
A título de comparação, a participação do turismo no PIB da Espanha beira 15%, a média mundial é próxima de 10% e no nosso Brasil não chega a 4,5%. Depois de mostrar ao mundo nossa beleza e alegria – e, por que não dizer, competência – organizando as Olimpíadas, o Brasil se encolhe e não potencializa o momento para dinamizar seu turismo. O Brasil subiu ao pódio diversas vezes nas Olimpíadas, mas deixou de colocar no peito uma medalha de suma importância para o desenvolvimento econômico do país.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
alexis@fenapro.org.br