Tradicionalmente, muitos países disputam a tapa (e por debaixo dos panos) o direito de sediar os Jogos Olímpicos. É uma forma única de colocar o país nos holofotes do mundo e catalisar um processo de desenvolvimento estrutural da cidade-sede.

Uma honraria só cedida a poucos, que conseguem vencer uma verdadeira batalha pela indicação.

Deveríamos então – todos nós, brasileiros – nos orgulharmos dessa conquista rara. Mas o incrível paradoxo é que a maioria dos brasileiros, em vez de se regozijar de tal feito, está apreensiva.

Caprichosamente, a Olimpíada será realizada no momento mais inoportuno para o nosso país. A ponto de não sabermos qual presidente nos representará nos Jogos.

Os holofotes vão estar virados para cá no momento em que talvez preferíssemos estar nas sombras, envergonhados. A cidade-sede, dias atrás, declarou estado de calamidade pública, pela total incapacidade de dar conta às demandas básicas para cumprir os serviços públicos.

Veja você! A cidade que deveria estar em festa, vê seu prefeito apregoar a incapacidade do estado em garantir a segurança, por exemplo. Que tristeza! Se bem que estamos ficando calejados.

Os brasileiros são resilientes por natureza. Já superamos crises como poucos e quase já não nos assustamos mais com as manchetes dos jornais, trazendo um escândalo de corrupção por dia.

Vale lembrar o que ocorreu na Copa. Estávamos todos também muito apreensivos, temerosos de um vexame total, escancarado pela mídia internacional.

No final, todos os temores de manifestações nas ruas, de caos no transporte, de incapacidade de abrigar turistas e de manter a segurança mostraram-se exagerados.

O Brasil risonho e faceiro, gentil e hospitaleiro foi mais evidente do que o país organizado e competente, que quer lugar ao sol entre os grandes.
O noticiário internacional – felizmente – preferiu repercutir a bela festa realizada no Brasil, colocando o povo brasileiro em destaque. Será que teremos o mesmo desfecho com a Olimpíada? Não há mais dúvidas de que, em termos estruturais, o Rio estará pronto para a Olimpíada. As últimas obras estão sendo entregues e não haverá qualquer comprometimento dos jogos.

É certo que teremos provas sendo realizadas num mar poluído. É certo também que teremos problemas de deslocamento. Todo megaevento traz transtornos, mesmo nas cidades mais bem preparadas do mundo.

A segurança preocupa, não pelo Brasil, em si, mas pelo momento conturbado do mundo, pela ameaça do terrorismo internacional. Quem organiza eventos sabe a tensão que é.

Não existe evento sem imprevistos. Não existe evento sem frio na barriga. Imagina um desse tamanho… Mas o Brasil – mais especificamente o Rio – está acostumado a grandes eventos. Nasceu aqui um dos maiores festivais de rock do mundo.

Todos os anos, a cidade do Rio reúne milhares de pessoas para festejar a passagem de ano, além de organizar uma festa popular – o Carnaval – que ocupa suas ruas e encanta estrangeiros do mundo todo.

Mas a Olimpíada é uma prova de fogo única, pela sua complexidade e grandiosidade. Por outro lado, os Jogos Olímpicos carregam um espírito realmente especial, de congraçamento mundial, de superação de pessoas…

Se conseguirmos absorver minimamente esse espírito, se não atrapalharmos com a nossa política interna, temos grande chance de fazer sobressair a beleza ímpar da Cidade Maravilhosa, a cordialidade típica dos brasileiros, em contrapartida aos problemas de bastidores que estamos vivenciando.

Essa é minha torcida e acho que é a de todos os brasileiros, que não se deixam abater com o momento complicado do país.

A esperança tem de vencer o medo. Durante a Olimpíada, #SomostodosBrasil, #SomostodosRio!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda)