Anúncio reacende debate sobre protecionismo e pode afetar filmagens feitas no Brasil para campanhas e conteúdos globais
Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa sobre filmes estrangeiros exibidos no país. A medida, de acordo com ele, tem como objetivo frear o que classificou como o declínio da indústria cinematográfica norte-americana, que estaria “morrendo muito rápido”.
Trump afirmou ter autorizado o Departamento do Comércio e o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos a aplicar a tarifa, que pode chegar a 100%, sobre produções audiovisuais de fora do país.
Entretanto, não ficou claro se as tarifas serão aplicadas a filmes em serviços de streaming, bem como àqueles exibidos nos cinemas, ou se serão calculadas com base nos custos de produção ou na receita de bilheteria.
Ito Andery, sócio fundador da produtora Dirty Work, disse que, dependendo de como a tarifa será imposta, pode afetar o mercado de produção de filmes para a publicidade.
"Até então, para o mercado internacional temos um grande aliado, que é o câmbio. Exportamos qualidade e criatividade com preços convidativos. Com esse tarifaço, a diferença diminuiria bastante. Mas se for estabelecida a reciprocidade, acredito que os Estados Unidos perderiam mais. Temos de esperar, mas pressionar por políticas públicas que colabore com o mercado", disse.

A possibilidade de que a taxação afete também filmes publicitários ou conteúdos feitos fora dos EUA para grandes marcas internacionais preocupa o setor de produção brasileira.
Mariana Souza, presidente da Apro (Associação Brasileira das Produtoras de Audiovisual), acredita que o momento é de atenção e cautela. Para a executiva, diante da possível taxa de 100% sobre produções audiovisuais estrangeiras nos Estados Unidos, é crucial aguardar a formalização de uma legislação para dimensionar o impacto da medida.
"Precisamos entender se a taxação incidirá sobre filmes estrangeiros exibidos em cinemas e streamings, bem como produções realizadas em outros países atraídos por incentivos fiscais como os 'cash rebates."

Nos bastidores, a avaliação é de que a medida pode ter efeito contrário ao desejado por Trump, afetando grandes estúdios norte-americanos que produzem em países com custo menor ou benefícios fiscais. Também reacende discussões sobre acordos de reciprocidade comercial e proteção de mercado.
"Em um mundo globalizado, o setor audiovisual se beneficia da flexibilidade criativa proporcionada pela diversidade de locações e incentivos econômicos internacionais", completa Mariana. "Uma eventual restrição poderia impactar negativamente essa dinâmica."