A Agência3 criou uma unidade de negócios que tem como compromisso levar inovação a seus clientes. Batizada de HackerSpace3, une a expertise do MIT (Massachusetts Institute of Technology) ao chamado Human Centered Design, da Ideo, e pretende ser não só uma unidade de negócios dentro da agência, como mudar o mindset e a maneira de trabalhar da agência “para se adequar ao novo mundo”, como descreve Eduardo Barbato, diretor de estratégia da agência.

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A área conta com a parceria da Innvent – Innovation & Venture (grupo de 15 startups) e a Singu.com, de Tallis Gomes, fundador da Easy Taxi. Os trabalhos da nova divisão serão feitos em regime de coworking, sempre com alguma startup parceira. Elas entram com suas expertises e a agência com posicionamento, branding e o approach a grandes marcas. “Estamos pensando no médio e longo prazos. Os clientes e o mercado sempre comentam que as agências precisam se reinventar. É isso que estamos fazendo, sem afetar o nosso dia a dia, nosso core business, que continua em pleno vapor”, diz Barbato.

O objetivo é começar a envolver clientes da agência nos projetos. Segundo ele, a nova área já conta com quatro trabalhos de “open innovation” em andamento, ligados a inovação para marcas. Dois para clientes da Agência3, um para um cliente de fora e o quarto vem a ser um produto que a agência pretende adotar. “As ideias criadas no Hackerspace3 serão da equipe formada para cada projeto. Entramos com as mentes criativas, independentemente do departamento, e as startups com o conhecimento de tecnologia. Depois de implementada cada ideia, as formas de remuneração podem variar e sempre serão negociadas caso a caso. Podemos ser sócios das marcas e das startups, como agência, e os funcionários também podem ter participação”, explica Barbato.

PROGRAMAS

“Não basta mais ter ideias”. Esta frase é de Bob Greenberg, fundador da americana R/GA, e resume este mundo novo, no qual muitas agências começam a tatear. No último Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade em Cannes, na França, ele e outras agências, como a Crispin Porter Bogusky, apresentaram seus programas de aceleração de startups. O discurso passava pelo objetivo de uma ampliar as possibilidades de negócio para as agências, e a perspectiva de se apropriar das ideias, tornando-se sócias de empresas.

A agência de Bob Greenberg criou, em 2013, um programa de aceleração de negócios em parceria com a Techstars, para preparar jovens startups para irem ao mercado buscar financiamento. O foco: devices que conectam e a internet das coisas. O primeiro programa conseguiu levantar US$ 1,5 bilhão.

Nick Coranges, co-fundador da R/GA Ventures e da R/GA Accelerator, afirma que, longe de atuar como incubadora, o programa tem como foco ajudar startups a ir ao mercado melhor preparadas para executar suas estratégias. Em todos os novos businesses, a R/GA tem 5% de participação.

DONOS

Neil Riddell, vice-presidente e diretor-executivo de inovação em produtos da Crispin Porter + Bogusky, afirmou no mesmo Cannes Lions que a agência se tornou uma startup, criadora e dona de marcas como, por exemplo, a do uísque Angel’s Envy, vendida em março deste ano para a Bacardi. “Empoderar criativos para serem donos de seu trabalho é o que estamos fazendo.

Possuímos todo o ferramental de design para criar marcas com vida longa e nos cercamos de investidores e profissionais que entendem de desenvolvimento de negócios”, disse Riddell diante de uma plateia de criativos e profissionais de diversas áreas do mundo da indústria da comunicação que certamente levaram dali a semente para repensar seus negócios e, quem sabe, suas vidas. 

Fabiano Coura, diretor de operações da R/GA no Brasil, afirma que a agência já liderou dois programas com seu Accelerator, tem capital investido em 40 empresas e acaba de criar o LA Dodgers Accelerator, um programa voltado para o time de Los Angeles, com foco na melhoria da relação do fã com o clube. “A intenção é, de fato, que o programa seja voltado para clientes, e o investimento é de todos. A R/GA sempre foi uma agência disruptiva, e o fato é que a criação de valor junto aos clientes se dá também através da criação de produtos e serviços digitais”, diz.

Segundo ele, passamos por processos disruptivos em todas as indústrias – hotelaria, transportes, fotografia, audiovisual, telefonia – e a propaganda é uma delas. “Enquanto estamos discutindo comissões, as coisas estão acontecendo ao nosso redor. Sabemos para onde tudo caminha, e estamos sendo substituídos por modelos mais inteligentes”, afirma.

Ganhar dinheiro, de fato, com startups, é uma questão de tempo e de sorte. “Temos participação em 40 empresas. Se uma delas, apenas uma, explode, já pode ser interessante. Fazemos uma curadoria minuciosa, há muita chance de as empresas darem certo”, diz Coura.

O programa não veio para o Brasil ainda, segundo Fabiano, porque ele acredita que não há aqui estofo para investir em um programa dessa envergadura e os modelos de empresas que nascem por aqui ainda são inspirados em modelos de fora. Não há, ainda, tanto incentivo ao verdadeiro empreendedorismo e a projetos verdadeiramente inovadores.

No entanto, independente-mente disso, tem no Brasil uma equipe multidisciplinar focada em inovação 100% do tempo. “Não acredito em criar uma área ou departamento, e trabalhar o conceito de maneira apartada do resto da empresa. A diversidade de talentos traz novas possibilidades. Não acreditamos mais em duplas de criação, nos processos antigos, no pensamento linear do storytelling. O que leva à inovação é um pensamento mais sistemático, com pessoas com backgrounds diversificados. Empresas são pessoas, e o começo das modificações passa pela mudança genuína nelas. E é preciso muita coragem para mudar”, acredita.

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ÓTICA
Walter Longo, CEO da Grey, vem falando de inovação há bastante tempo. Ele acredita na inovação como uma plataforma de transformações permanente na empresa. “É mais uma questão de ótica do que de fibra óptica. Menos de tecnologia e mais de filosofia. Tem de envolver a empresa como um todo. Ser inovador é um estado de espírito. E o grande problema que vivemos hoje é enfrentar o fato de que o nosso modelo de negócios precisa ser revisado”, defende.
Ele fala que as agências precisam se inspirar no modelo Waze, abandonar o GPS tradicional. “É preciso trocar rotas e testar novos caminhos permanentemente. É uma questão de sobrevivência. E passa por buscar um novo modelo de negócios, que tende a ser rejeitado, como o Über está sendo rejeitado”, diz.

Modelos baseados em performance, success fees, visão por meritocracia: todas essas novas possibilidades Longo afirma que está testando na Grey para buscar o que ele chama de um modelo de “agência performática”, atuando em um negócio performático, que propõe novas formas e relações em toda a cadeia criativa.

A agência tem o próprio laboratório de experiências tecnológicas: o Grey Lab, uma sala com painéis e dashboards desenvolvidos com exclusividade por Facebook, Google, Twitter e Instagram para acompanhar resultados em tempo real de campanhas digitais e tendências no Brasil e no mundo, além de testar as possibilidades de todo tipo de novidade como o Google Glass, o Oculus Rift e o Leap Motion, entre outros.

CONTAMINAÇÃO

Há cerca de um ano e meio Bob Wollheim tornou-se head digital do Grupo ABC. Experiente em programas de inovação, Wollheim afirma que sua área tem como missão “contaminar” as 2.500 pessoas das 17 operações do grupo com energia empreendedora. “Não nos tornamos sócios de novos negócios que venham a surgir internamente, criados por funcionários da empresa.

Selecionamos alguns e ajudamos na montagem do plano de negócios, apoiamos a etapa de testes. Viramos parceiros, mas sem equity. No primeiro ciclo que realizamos, de cem ideias de empresas escolhemos cinco e turbinamos três”, conta.

Uma das ganhadoras foi Luisa Vissotto, que trabalha no atendimento da Africa e desenvolveu um aplicativo chamado Click Beauty, focado em serviços profissionais de cabeleireiro que atendem em casa. Segundo Wollheim, o que sua área faz é mais um estímulo à criatividade do que qualquer outra coisa.

Ele também tem procurado aproximar os líderes das empresas do grupo do universo da inovação e das startups, levando-os a serem jurados de projetos em fase de desenvolvimento, aproximando-os de programas de empresas como a IBM e o Itaú Unibanco (e sua recém-lançada Cubo, em parceria com a Redpoint e.ventures) ou visitando as empresas da Silicom Valley.

“Isso tudo leva a uma mudança de mindset, de se pensar mais longe, adquirir novos repertórios. Novos formatos serão consequência, não a causa. Vamos criar saídas e respostas. Acredito em novos layers, mas não em substituições. Uma nova visão empresarial não exclui os modelos atuais de jobs. Pensamos em acrescentar e não em substituir”, diz.

E adianta que dentro de algumas semanas será lançada no grupo uma empresa voltada para “esse universo”.