Uma das principais caraterísticas do chamado Tempos Modernos – talvez, a maior –, é a busca incessante pelos atalhos de escalabilidade. Pelo acelerar e ocupar espaços! Na cabeça da maioria dos novos empresários, mais importante que lucro, é tomar conta do território. Dinheiro, ganha-se mais adiante… Escalabilidade que possibilite, grosso modo, que uma empresa partindo do zero e em 10 a 20 anos assuma a liderança em território supostamente inexpugnável e sob o comando e domínio de empresas tradicionais e centenárias.

Como já tenho comentado com vocês em artigos anteriores, e até me referindo a um ensinamento bíblico, nessa maluquice em que se converteu o ambiente empresarial, maluquice considerando-se o ritmo e as práticas que estávamos acostumados, lembram, “muitos serão os chamados, poucos os escolhidos”; Ou, a uma espécie de corrida de espermatozoides, onde e dentre milhares, apenas um cruzará a linha de chegada e alcançará a desejada fecundação.

Dentre os exemplos de sucesso e que começou ontem, há pouco mais de 21 anos e hoje se converte na empresa de maior valor da América Latina, o Mercado Livre. Fundado no ano de 1999, pelo empresário argentino Marcos Galperin, com seu amigo e sócio brasileiro Stelleo Tolda, em cima de um business plan que Marcos escreveu enquanto e durante o tempo em que fazia um MBA na Universidade de Stanford, e durante seu estágio no JP Morgan Chase.

Começou começando e com descomunal energia, ao menos nos propósitos. Começou grande no pensamento e na ação. E assim, em vez de nascer num único lugar e mercado, decolou no primeiro ano na Argentina, e, na sequência, Uruguai, México e Brasil. Diante de sua ambição e da consistência de seu business plan, em 2000 recebeu uma primeira injeção de capital da ordem de US$ 46 milhões. E jamais deixou de crescer um único ano que fosse até a abertura do capital na Nasdaq no ano de 2007. Naquele momento, Galperin, o fundador, disse, “somos a única empresa de tecnologia da Argentina listada na Nasdaq…”.

Apenas lembrando, o Mercado Livre nasceu às vésperas da primeira bolha da internet, 2000, e sobreviveu… Mesmo que, e segundo Galperin, em muitos momentos fosse dormir com a certeza que no dia seguinte teria de fechar a empresa. Quase na virada da década de 2010, Marcos Galperin estava mais que convencido que construíra um negócio vencedor e feito para durar.

Corta para hoje. A Economatica, empresa líder em informações financeiras na América Latina, divulgou o ranking das empresas mais valiosas da região. E pela primeira vez, e no topo, Mercado Livre. 21 anos depois de seu nascimento, de degrau em degrau, chegou ao topo, ultrapassando a Vale.

Assim e hoje, segundo a Economatica, o Mercado Livre tem um valor de mercado de US$ 60 bi; seguido pela Vale, com US$ 59; Petrobras, US$ 57; Itaú, US$ 46; e Walmart México, US$ 42. Ou seja, e como na corrida de espermatozoides, é raríssimo, mas um, ao menos um, vencerá a corrida e chegará lá. E esse um, neste momento e por enquanto, chama-se Mercado Livre!

E que tem como receita, segundo Galperin, “planejar a longo prazo, dispor de uma ótima equipe de profissionais, privilegiar plataformas abertas que possibilitem conexões, não temer riscos e, antes de pensar em ganhar dinheiro, gerar valor…”.

Tão simples quanto, mas converter em realidade é que é o grande desafio. Como cantava Beto Guedes em seu Sol de Primavera, “A lição sabemos de cor, Só nos resta aprender”… A fazer.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)