A demanda por profissionais de tecnologia deve saltar de 100 mil especialistas hoje para 400 mil tecnólogos em cinco anos (Freepik)

A Accenture acaba de anunciar o recorte brasileiro da 21ª edição do Technology Vision. Realizada na tarde desta quarta-feira (3) em formato online, a apresentação do estudo feito com mais de 6,2 mil executivos em todo o mundo foi conduzida por Paulo Ossamu, líder de tecnologia da empresa na América Latina.

Apesar do pior momento da pandemia da Covid-19 – com mais de mil mortes diárias e um sistema de imunização lento – o executivo segue otimista e diz que as empresas precisam saber como aproveitar o momento da retomada da economia que, segundo ele, será vigorosa.

Com a esperança no avanço do programa de vacinação, a expectativa é que 30% das empresas recuperem as receitas do período pré-Covid ainda neste ano, e outros 30% em 2022. “Temos uma demanda reprimida de investimentos internacionais que retornarão alavancando o crescimento”, analisa.

Contexto

Foi evidente a corrida das empresas para se tornarem digitais em 2020 devido ao aumento de compras pela internet para suprir as necessidades das pessoas durante o isolamento social. A diferença dessas entrantes em relação às organizações que já eram digitais aumentou de duas para cinco vezes, e fez com que os players mais avançados passassem da reação à reinvenção.

“Os mais visionários, que souberem conciliar tecnologia com os negócios, é que vão definir o rumo das empresas”, avisa Ossamu, lembrando que a tecnologia funcionou como uma espécie de “colete salva-vidas” para manter as portas das empresas abertas e atender às necessidades das pessoas. “O volume de dados de vídeos na internet aumento quatro vezes em 2020”, aponta. No início da pandemia, 50% das empresas pensavam em elevar os seus investimentos no digital. Em junho, esse índice já tinha aumentado para 80%.

Trabalho

O trabalho remoto se transformou em realidade. Hoje, a taxa é de 30% e, segundo Ossamu, deve subir para algo em torno de 50% quando a pandemia terminar. Uma das tendências é a realidade estendida com reuniões onde os participantes usam óculos especiais para integrar ambientes e interagir com os colegas.

O executivo cita a plataforma de realidade mista Mesh, lançada nesta quarta-feira (3) pela Microsoft. A ferramenta chega com a promessa de distribuir geograficamente os times e garantir reuniões ainda mais colaborativas e imersivas.

Na discussão do trabalho entra a importância crescente do profissional de tecnologia, cujo salário médio aumentou entre 20% e 25% nos últimos meses, de acordo com Ossamu. O talento brasileiro floresce neste segmento. É só perceber a quantidade de unicórnios – empresas que valem um bilhão de dólares. Há três anos, elas nem sequer existiam no Brasil. Hoje, já formam um grupo de 15 marcas encabeçadas pela 99Taxi, a primeira a voar alto.

“Precisamos formar um contingente de profissionais. Temos uma demanda de 100 mil especialistas. Daqui a cinco anos, será de 400 mil”, alerta Ossamu, destacando a busca por profissionais de tecnologia como a tendência mais forte do Brasil identificada no estudo.

O executivo da Accenture frisa que 80% dos processos serão automatizados nos próximos anos, abrindo espaço para a formação de profissionais ligados à tecnologia, o que pode promover inclusão e impacto positivo na sociedade a partir da geração de empregos. “Não podemos deixar os nossos talentos fugirem para empresas de outros países”, adverte.

Coragem para mudar

A sustentabilidade também entra na pauta da Accenture. “A verdadeira vantagem competitiva virá da combinação da tecnologia com a sustentabilidade”, frisa Ossamu. A consultoria posiciona a tecnologia como aliada para a valorização das marcas a partir de lideranças realmente empenhadas em realizar as mudanças necessárias.

A integração com a estratégia é o ponto de partida. A Amazon Web Services é um exemplo. Dos livros, a gigante do varejo eletrônico marcou o seu pioneirismo ao criar o ambiente em nuvem, que hoje representa a maior parte de seu negócio. No Brasil, o exemplo vem do open banking, que será capaz de puxar novos modelos de negócios e mais competitividade no setor financeiro.

Uma arquitetura mais conectada é essencial para aproveitar as novas oportunidades sem esquecer que elas virão também da democratização da tecnologia. “A inovação pode ser gerada por qualquer funcionário e hoje não depende mais de criação e sim de colaboração, de conectar parceiros”, explica Ossamu.

A pesquisa

Na comparação com os insights globais (os índices mundiais estão sinalizados entre parênteses), o Brasil tem 72% de executivos confiantes na aceleração da transformação de suas organizações (63%); 99% relataram a pressão causada pela pandemia da Covid-19 na sua arquitetura de tecnologia, estratégia, força de trabalho e processos (99%); 94% dizem ter decretado um chamamento à inovação (92%); e 90% acreditam que é a própria organização que definirá o marketing do futuro (90%).

A unificação de tecnologias e estratégias é citada por 85% (83%); 84% dizem que a arquitetura de tecnologia é decisiva para o sucesso da operação (77%); 28% considera que a tecnologia atingiu um ponto crucial na evolução das empresas (30%); e 90% confia que a sua capacidade de gerar valor dependerá da arquitetura de tecnologia da empresa (89%).

A união entre dados e inteligência é apontada por 27% (24%); 61% esperam aumento do investimento em inteligência digital nos próximos três anos (65%); 90% acreditam na construção de hubs capazes de conciliar as complexidades dos processos (89%); e 89% concordam que integração de dados e inteligência é essencial para na formação de um ecossistema de parcerias (87%).

A democratização da tecnologia para fomentar inovação é indicada por 93% (88%); 85% mencionam a importância de estimular nas pessoas a atuação como tecnólogos capazes de criar novas soluções (86%); 90% levantam a preocupação com segurança de dados (90%); e 53% consideram que a aceleração de soluções virá da democratização da tecnologia (54%).

As pessoas enfrentam a maior mudança de comportamento da humanidade devido à Covid-19, segundo 85% dos entrevistados (82%); 43% das companhias investem em ferramentas colaborativas para ancorar o trabalho remoto (47%); 87% pensam que o trabalho à distância dificulta a identificação de talentos (87%); e 84% comentam que as empresas líderes vão passar a trazer o seu próprio ambiente (81%).

Os participantes contam que as suas companhias experimentam múltiplos sistemas num ambiente de negócios cada vez mais colaborativo 25% (20%); 91% citam que, para serem ágeis, as empresas precisam acelerar a sua transformação digital orientada para estratégias em nuvem (90%); 90% colocam os múltiplos sistemas como pilar para a criação de novas escalas de valor para o negócio (90%); e 87% afirmam que as empresas encaram modelos disruptivos em suas cadeias de supply chain (79%).