Uma das grandes atrações da maior feira anual de varejo do mundo, a NRF, realizada em Nova York há algumas semanas, foi o CEO do Walmart, Doug McMillon, que assumiu o cargo há quase quatro anos, pouco antes de completar 50 anos. Trata-se do mais jovem CEO desde os tempos do próprio Sam Walton, fundador do Walmart, na liderança. McMillon trabalhou no Walmart quase a vida toda – e agora protagoniza uma grande mudança de rumo na empresa, se transformando numa espécie de símbolo e exemplo das profundas transformações pelas quais passa o varejo como um todo. 

“O varejo está mudando rápido. Hoje, bom atendimento é default. O que fideliza são outras coisas. Hoje, conta mais do que nunca a opinião de outras pessoas. Os clientes chegam às lojas mais informados do que os vendedores”, disse Evandro Ferrer, CEO da Ancar Ivanhoe, grupo de shopping centers que promoveu no Rio de Janeiro o balanço da NRF, na qual esteve presente com um grupo de lojistas e colaboradores.

As evidentes transformações do varejo passam, naturalmente, pelo mundo digital e pela mudança de hábitos de compra das pessoas. Protagonizam o novo cenário a Amazon e o Grupo Ali Baba, gigante de e-commerce chinês – duas operações que abalaram o mundo do varejo, globalmente. McMillon foi a bola da vez porque decidiu reagir à histórica queda de rentabilidade com atitudes. Com poder de fogo para transformar, vem integrando operações físicas e online, ampliando o perfil de marketplace, adquirindo operações de varejo inovadoras como a Bonobos, uma das principais marcas de vestuário na internet, e a Shoes.com, além de investir forte para melhorar as operações físicas, enfrentando o inimigo de peito aberto.

 A empresa tem 2,3 milhões de funcionários e anunciou, uma semana antes da NRF, uma série de benefícios dirigidos a colaboradores. A intenção é ser a maior operação de varejo online dos EUA, abrindo mão, por hora, de rentabilidade e resultados imediatos. “Estamos nos transformando em outro tipo de empresa de tecnologia, queremos ganhar investindo nas pessoas que estão conosco hoje, neste processo”, disse McMillon no evento.

 “Na minha opinião, o que vale é que o Walmart está se mexendo. É obvio que está todo mundo reagindo aos movimentos da Amazon, do Ali Baba etc., mas este é o maior varejista do mundo conseguindo reagir com agilidade e entrega”, afirma Mariana Carvalho, sócia e integrante do conselho da Ancar Ivanhoe.

Portanto, o futuro é promissor para o varejo – desde que exista a disposição de mudar. Se em edições anteriores da NRF as previsões eram apocalípticas, o tom deste ano foi de renascimento e reinvenção do varejo como o conhecemos. Sim, as operações digitais só fazem crescer, e as lojas físicas continuam fechando em ritmo alucinante: em 2017, 8.300 encerram negócios no Brasil, enquanto a perspectiva para este ano é que outras 14.300 baixem as portas. Mas um fenômeno é curioso: se por um lado o fluxo de pessoas diminuiu nas lojas, os lucros no ano passado cresceram 1,9%. Isso ocorre porque quem entra em lojas físicas, hoje, costuma comprar mais do que no passado. A pesquisa por produtos foi feita nos meios digitais – e a compra, efetivada nas lojas físicas. Sim, as lojas físicas continuam sendo importantes.

O e-commerce cresceu 11% em 2017 – apesar da baixa penetração de apenas 4% no Brasil (enquanto na China, por exemplo, é de 20%). Enquanto livrarias físicas fecham lojas, a Amazon expande sua operação física nos Estados Unidos. Na livraria de Nova York, por exemplo, só estão expostos best-sellers nas diversas categorias, e não se pode levar produtos na hora, ou pagar no caixa. Tudo passa pelo aplicativo. 

Em Seattle, a Amazon abriu a loja de conveniência Amazon Go, que tem de queijos e vinhos a frutas e sanduíches. É a tendência do chamado “Figital”.

EVOLUÇÃO
Para os players do mundo digital, o futuro é “omnichannel”, uma evolução mais integrada, orgânica e unificada do conceito de multicanal. Ao todo, 21 operações de e-commerce abriram operações físicas recentemente e há estudos comprovando que as vendas do e-commerce aumentam cerca de 48% em um raio de 10 km ao redor de suas operações físicas.

Outras operações interessantes vêm surgindo provando a reivenção total do varejo, e foram apresentadas no balanço da NRF. Uma delas é a “Rent the Runway”, uma operação de aluguel de roupas de festa que, por uma mensalidade, mantém o guarda-roupa das clientes permanentemente atualizado, trocando peças de tempos em tempos. A empresa mantém a maior estrutura de lavanderia dos EUA dentro do seu armazém e lava cerca de 3.600 vestidos por hora.

E também vende as roupas que aluga 40% mais barato do que as novas. A Everlane, outra operação de venda de roupas online interessante, que acaba de abrir uma loja física em NY, se autointitula 100% transparente, revelando quanto gastou em cada matéria-prima para produzir suas peças.

A lista de operações inovadoras no varejo americano é grande, e há muitas marcas tradicionais tentando se reinventar. A marca de automóveis Cadillac, por exemplo, criou em Manhattan um espaço que serve como hub de comunidades, café, galeria de arte e espaço de co-working. Lá se pode até mesmo fazer uma chamada em conferência dentro de um dos luxuosos carros. Segue por esse caminho a Samsung, um espaço onde se pode passar o dia sem comprar nada. Uma grande área do metrô de NY foi transformada em shopping subterrâneo, o Turnstyle Underground Market, e se tornou um grande sucesso de vendas físico.

“O medo da Amazon, do comportamento da geração Z e da tecnologia deu lugar a estratégias de negócios. As operações hoje procuram integrar a experiência física à mobile de maneira mais orgânica, como os chineses já aprenderam a fazer”, disse João Miragem, diretor-geral da agência Scala, que integrou a equipe que apresentou o balanço da NRF no Rio de Janeiro, recentemente, e esteve no grupo da Ancar Ivanhoe em NY. “O que se vê é a inversão da lógica B to B para C to B.
Há uma desconstrução completa da tradicional jornada do consumidor, pois ela deixou de ser linear. Hoje o consumidor é parte do ponto de vendas, ele se torna uma marca a partir do que consome.

“Muitos pontos de vendas hoje se preocupam em ser lugares onde as pessoas querem estar e ser vistas, tirar fotos para as redes sociais, lojas como o Museum of ice cream ou o & Pizza. O varejo é participativo, é experiência, é customização, oferece propósito e serviços que vão muito além das vendas de produtos”, conclui Miragem.

SuperFórum apresenta principais novidades da NRF em São Paulo

Pouco mais de um mês após a NRF 2018: Retail’s Big Show, que foi realizada em janeiro nos Estados Unidos, ocorre em São Paulo a primeira edição do SuperFórum. No dia 1º de março, o evento no Expo Center Norte vai apresentar os principais pontos da NRF relacionados ao setor varejista e debater as novidades com empresários, profissionais e demais interessados.
Segundo Denis César Correia, diretor- -executivo da DMCard, empresa que realiza o SuperFórum, a estimativa é receber 800 pessoas. A ideia nasceu no ano passado, quando a empresa fez 15 anos. À época eles discutiam se deveriam levar varejistas brasileiros à NRF ou fazer algo no Brasil.
“Também pensávamos em fortalecer nossa marca no mercado varejista e o SuperFórum nasceu. É uma grande aposta”.

Entre os palestrantes estão Donald Fitzgerald, responsável pelo planejamento estratégico e estruturação do Mariano’s Market, que disputou espaço com gigantes no mercado americano e conquistou 17% de market share. Hoje responde pelo comercial, marketing, programa de relacionamento e estratégia da rede.

Também participará o americano Neil Stern, especialista em planejamento estratégico e desenvolvimento de novas práticas de varejo, que atuou com empresas como Target, CVC, McDonald’s e P&G.

Rogério Chér, autor de livros para o empreendedorismo, professor universitário e ex-diretor corporativo de RH da Natura representa o varejo nacional. Alberto Serrentino, consultor de varejo e consumo e fundador da Varese Retail, e Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), mediam os debates e palestram. Vera Magalhães, comentarista da Jovem Pan e colunista do Estadão, comenta o cenário político do país e seu reflexo no varejo. Já Ricardo Amorim, do Manhattan Connection e da IstoÉ, o cenário econômico.

A DMCard emite cartões private label no segmento supermercadista e de materiais de construção. Ela já atendeu a redes como Sonda, Cobal, Ricoy, Negreiros, Barbosa, Docelar, Semar, Spani e Assaí.

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