Depois de fazer mexidas significativas, principalmente na duração do festival – que passa agora a ser realizado somente em cinco dias úteis (18 a 22 de junho) –, a organização do Cannes Lions começa a mostrar uma nova cara (new look, como eles dizem no site do festival) para este ano.

Não se percebe uma transformação radical, até porque, apesar das reações adversas de alguns líderes do setor, o festival continua a ser o mais importante da indústria criativa no mundo.

Além do período mais curto, o Cannes Lions deste ano se apresenta sob nove tracks de interesse: Communication, Craft, Entertainment, Experience, Good, Health, Impact, Reach e Innovation.

A sensação de FOMO (Fear of Missing Out – Medo de Perder Algo) deve permanecer. Afinal, teremos menos tempo para acompanhar praticamente o mesmo conteúdo. Por mais que estabeleçamos um foco principal, não dá para deixar de vivenciar movimentos em áreas inspiradoras para as transformações constantes que atropelam nosso setor.

Não dá, por exemplo, para ignorar os tracks de Entertainment e Innovation, mesmo que a sua praia não seja especificamente ligada a esses setores. Não dá também para deixar de dar uma passeada pelo track Good.

Sabemos que o mundo caminha para uma maior consciência social, de praticar o bem, sem, porém, perder lucratividade. Quem se descolar dessa tendência pode ficar defasado.

Enfim, tirando setores bem específicos, como o de Health, teremos de continuar a gastar sola de sapato pelos corredores do Palais e adjacências para acompanhar minimamente o festival e suas premiações.

Essa é a característica de um grande festival: muito conteúdo, ideias criativas por todos os lados, networking, benchmark e abertura de poros para o efeito osmótico que o megaevento proporciona.

Na semana passada, os organizadores apresentaram os primeiros 50 palestrantes/debatedores. Tive a paciência de analisar esse primeiro grupo de atrações com muita atenção. Notei um equilíbrio de gênero entre os participantes. Nesse primeiro grupo, os homens ainda são maioria, mas por uma diferença muito pequena.

Por outro lado, nota-se uma participação bem maior de “clientes” e de empresas de fora do universo das agências de propaganda.

Representantes de P&G, Heineken, Unilever, Apple, HP, J&J, Uber e Mondelez, entre muitas outras grandes empresas, são mais numerosos do que aqueles representantes de agências. Será que o festival está se voltando mais para o “cliente”?

Sabemos que a presença de anunciantes vem crescendo sistematicamente nos últimos anos. De qualquer maneira, as agências ainda são maioria, até por conta da premiação, que atrai inscrições oriundas (na sua maioria) delas.

De qualquer maneira, ouvir os anseios e as preocupações de quem paga a conta é sempre importante também para as agências. Além do bom network, que pode gerar contatos produtivos para prospecção.

Acompanhando a diversidade que marca nossos dias, o festival continua levando também gente do meio artístico e de entretenimento para dar um colorido diferente às palestras e aos debates.

Estarão lá o divertido Conan O’Brien (ex Late Night e Tonight Show), Lilly Singh e Samira Wiley, além de outros, que deverão ser anunciados mais à frente.

O que se nota agora é que, depois da sacolejada que levou no ano passado, o festival se preocupa em se apresentar de uma forma mais renovada, mas sem perder a essência que o consagrou ao longo de mais de 6 décadas de sucesso crescente.

E continua sendo um must para quem se preocupa em estar a par do que rola no mundo da criatividade e se reciclar continuamente.

Aquela máxima, apresentada em campanha do Estadão (representante do festival no Brasil) permanece: Ninguém volta igual de Cannes.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)