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A recente contratação do goleiro Bruno pelo clube mineiro Boa Esporte é um desses temas que geram discussões intermináveis nas redes sociais, onde opiniões radicais de “haters” se intercalam com os sempre atuantes relativistas ou a turma do “deixa disso”. Trata-se, sem dúvida, de um movimento polêmico no mundo do marketing esportivo, e por isso PROPMARK decidiu ouvir alguns especialistas e publicitários, propondo a seguinte reflexão: “todos merecem uma segunda chance?”

No mundo das marcas, por muito menos, grandes atletas perderam o aval de marcas e se viram, de uma hora para outra, sozinho. De uma maneira geral,  concorda-se que qualquer pessoa merece uma chance na vida, após cometer um erro e pagar por ele. No mundo das marcas, no entanto, pode não haver perdão, pois há erros que jamais são esquecidos – como costuma ser o caso em assassinatos e crimes que envolvem violência. Bruno foi solto após cumprir seis anos da pena de 22 anos e três meses estabelecida pela Justiça pelo sequestro do filho Bruno Samudio e morte e ocultação de cadáver da ex-amante Eliza Samudio

“Mesmo com a narrativa da superação, são problemas que nenhuma marca deveria comprar. Qualquer marca só tem a perder se metendo nessa. A propaganda, e por consequência o patricínio, buscam o encontro: de necessidades, interesses e desejos. Nesse caso não há encontro aí”, opina o corinthiano (nada fanático) Rodrigo Leão, sócio e criativo da Casa Darwin.

O flamenguista e especialista em marketing esportivo João Henrique Areias diz que o “episódio Bruno” mostra como é preciso mudar o modelo de gestão das entidades esportivas brasileiras, e que nesse caso o jurídico deveria ter sido ouvido para mostrar o risco de que o goleiro pode, a qualquer momento, voltar para a prisão.

“O marketing e a comunicação deveriam ser ouvidos, para antecipar reações dos patrocinadores e torcedores, bem como da população da cidade que os abriga. Seria interessante também ouvir uma entidade de reintegração de ex-detentos à sociedade, para saber a melhor forma de levar o goleiro ao clube”, comenta.

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Para o especialista, existem “falhas perdoáveis” no marketing esportivo e um exemplo mais simples é o do Ronaldo Fenômeno e seu envolvimento com os travestis, que veio a público – diante do qual o jogador deu entrevista em rede nacional. No caso do nadador americano Ryan Locht, que forjou uma situação de violência durante os Jogos Olímpicos no Rio, no ano passado, a punição foi radical e seus contratos de patrocínio foram encerrados. No caso do goleiro Bruno, é imprevisível tanto o que pode ocorrer com ele no futuro, quanto as consequências para qualquer marca que eventualmente decida se associar à sua imagem.

Marcello Serpa, ex-presidente da AlmapBBDO, diz que o goleiro Bruno não deveria ter uma segunda chance no mundo do esporte por não ter cumprido a pena completa por assassinato.

“Mas absurdos morais geram notícias e essas bastam para alguém achar que vale a pena. Tudo em nome do ‘marketing’. Feio demais”, lamenta.

O publicitário Lula Vieira, torcedor entusiasmado do Santos FC, concorda. “Todo mundo merece uma segunda chance. Menos um cara que mata ou manda matar a mulher e tem o comportamento que está tendo. Mau exemplo”, opina. 

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Fabio Fernandes, presidente da F/Nazca S&S e torcedor do Vasco, diz que a discussão em torno de uma segunda chance não se aplica ao caso do goleiro, que não pagou, ainda, pelo seu erro.

“Do ponto de vista do marketing, basta vermos a rejeição maciça das pessoas à figura – e à nossa Justiça deformada. Os casos de um ou outro ‘fã’, que se aproxima dele como se fosse um ídolo não muda esta percepção. Ao contrário, reafirma a convicção da maioria de que o Brasil está seriamente doente. E nenhuma marca minimamente bem orientada por profissionais sérios de marketing quer ou deve estar associada a uma pessoa com esse histórico – interrompido”, afirma.