Sebastião Salgado/Divulgação

Com lançamento marcado para o dia 9 de abril na Livraria do Shopping Iguatemi, em São Paulo, e  no dia 11 na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio, o livro “Direto de Washington”, autobiografia do publicitário Washington Olivetto, terá orelha assinada por Luiz Fernando Silva Pinto, correspondente da Rede Globo na capital dos Estados Unidos há mais de 20 anos. O jornalista, que é amigo de Olivetto há mais de 30 anos, tem como bordão exatamente a expressão direto de Washington.  O texto de Silva Pinto, cedido com exclusividade para o PROPMARK, está  transcrito abaixo. 

“Talento não é o forte do Washington.

 Ele até tem, coisa que muitas brasileiras poderiam comprovar se voltassem décadas no tempo e descobrissem que, quando escolheram o primeiro sutiã, estavam convencidas de que era não só uma peça íntima, mas um marco importante na vida delas. Uma autoconfiança monumental é necessária para traçar um arco narrativo entre lingerie e rito de passagem… sem nunca ter usado sutiã.

Mas essa é a prova da confiança inesgotável do Washington, aquilo que de alguma forma ele colheu nos arquivos da família Olivetto, nos filmes que viu, nos livros e gibis que leu, nos aprontos da adolescência… e que produziu fina esperteza, bom gosto, noção estética…

 Isso deu a ele a certeza (sempre absoluta) de que dá pra fazer… melhor. O quê? Não importa. Fundar uma agência de publicidade… Outra… E outra. Bolar campanhas engraçadinhas. Ou seríssimas. Mudar o tom da propaganda brasileira, misturando sofisticação com provocação. E a isso somar alguns “a mais”: o Washington respeita e credita o trabalho dos outros. Admira o que é de admirar. É generoso por índole, vocação e educação. E sempre manteve o ego na coleira. 

 Claro, o Washington sendo o Washington, a coleira muitas vezes foi solta demais. Porém, por bons motivos: para não dar mole à falsa modéstia ou… para chutar um pouco o pau da barraca, o que também tem o seu lugar…

Na antiga W/Brasil, ele providenciou um enorme quadrado de vidro. Grande o suficiente para colocar lá um pequeno carro. Jogados, literalmente jogados dentro, havia Clios, Leões de Ouro, prêmios de Profissional do Ano. Fazerum monumento irônico ao próprio sucesso exige convencimento. Mas exige primeiro que o convencido tenha feito sucesso.

 São as complexidades do Washington, que extrapolam a experiência, o brilho. Vêm do coração. Ele é um privilegiado intelectual, um dândi do consumo

e, no entanto, conversa (de repente arma encrenca?) em qualquer padaria da esquina. Ele permanece o garoto da Lapa, com a mensagem aguda que usou para invadir o Olimpo dos Jardins em Sampa, só querendo saber o que – quem? – levantar – ou deixar na poeira.

 A tortura que foi o sequestro do Washington teve um desfecho marcante. Quando os sequestradores saíram momentaneamente da casa onde ele era refém, a música constante, capaz de enlouquecer qualquer ser humano, de repente parou de tocar na minúscula cela em que ele estava. É que a luz tinhaacabado. Fazendo uma alavanca com as costas e os pés, o Washington forçou uma fresta na parede, suficiente para a vizinha, estudante de medicina, ouvir com um estetoscópio (pessoa esperta!) a frase maluca do Olivetto: “Chamem as rádios!”

 Quantos de nós não teríamos ficado quietos, medrosos naquela cela, apavorados com as consequências de tentar escapar? Mas, quieto, o Washington nunca foi. Ele quis as rádios, mais imediatas que a TV, mais emocionantes que as redes sociais. E assim, literalmente, ganhou a própria liberdade.

 Chamem as rádios… Como catz isso passa pela cabeça de alguém depois de 52 dias e 23 horas sob o risco de perder a vida?

 Passa pela cabeça de quem tem coração, o primeiro ingrediente da coragem. 

 O que me remete ao início. Talento não é o forte do Washington. Coração é.

 Ah, acho que eu tenho que falar do livro…

 É um sarro. As histórias são imperdíveis, vão preencher vários vazios da sua própria história.

 Divirta-se. 

 Na única e melhor máquina do tempo criada pela humanidade, o livro, você terá o Washington só para você, como eu tenho: um grande, grande amigo.”

 Luis Fernando Silva Pinto, 

também direto de Washington. Ha!