Reprodução Netflix

O protagonista da animação brasileira Irmão do Jorel tem nome, mas ninguém sabe qual é. O garoto de oito anos é o filho mais novo do casal Edson e Danuza, neto da adorável vovó Juju e da experiente vovó Gigi, além de ser irmão do Nico e do Jorel, que tem um fã clube de apaixonados por seus múltiplos talentos no esporte e pelo seu sedoso cabelo, relegando ao caçula a fama de ser conhecido por ser seu irmão e não por seu verdadeiro nome.

Ambientado em um universo cheio de referências aos anos 1980 e 1990, o desenho debate conflitos humanos universais e diverte pessoas de todas as idades. Prova disso é um levantamento do Ibope, que revelou que Irmão do Jorel foi visto por mais de 21,2 milhões de pessoas no Cartoon Network em 2018. Mas o número total de expectadores é ainda maior já que, desde dezembro, as duas primeiras temporadas da animação estão disponíveis na Netflix e muitos dos episódios podem ser encontrados também no YouTube.   

Caminhando para a quarta temporada, Irmão do Jorel é a primeira coprodução original do Cartoon e um sucesso arrebatador na América Latina. Segundo audição do Ibope, na Argentina, o show foi o mais assistido entre crianças de 4 a 11 durante a estreia da terceira temporada, em julho de 2018.

Já no Brasil, Chile e Colômbia o desenho é top 5, enquanto no Peru e no México é top 10 com o público da mesma faixa-etária. Os 13 primeiros episódios veiculados nos países da América Latina foram assistidos por mais de 1,6 milhões de crianças. Entre as meninas, o show está entre os cinco mais vistos no Brasil, Argentina e Colômbia. No México e no Chile figura entre os 10 mais assistidos do Cartoon.

Para Juliano Enrico, criador do desenho e membro da TV Quase, responsável por sucessos como Choque de Cultura, Falha de Cobertura e Último Programa do Mundo, mesmo sendo sensação entre os adultos, Irmão do Jorel não deixa de ser uma atração infantil “em nenhum milímetro”. “Por abordar assuntos mais delicados e ter um ritmo mais acelerado de piadas, as pessoas têm a tendência de questionar se a série foi feita mesmo para crianças”, aponta.

“O foco sempre foi e continua sendo o público infantil porque é quem sofre com carência de conteúdo que respeite a capacidade de se entreter com linguagens diferentes. Eu gostava muito de ver desenhos do Cartoon e, sendo um cara que assiste ao canal até hoje, eu tinha que respeitar essa linguagem sofisticada de narrativa que foi a que formou minha personalidade”, complementa.

Shostners & Shostners

Entre animais falantes, vilões intergalácticos e as aventuras com a melhor amiga Lara, o universo fantástico de Irmão do Jorel tem espaço para críticas sociais e discussões existenciais e filosóficas.

“A gente tenta ver o que é engraçado, o que ainda não fizemos, o que pode ser legal e funciona e, aos poucos, esses assuntos mais atuais, pertinentes e relevantes vão entrando, mas de uma maneira natural”, comenta Juliano.

O show fala, entre outros temas, sobre liberdade de gênero, preservação do meio ambiente, fatos históricos e joga luz sobre os diferentes setores da indústria por meio da Organização Shostners & Shostners, empresa controladora da publicidade, mídia, parques de diversão, cadeias de lanchonetes e outras frentes de consumo e entretenimento dos personagens da animação.

“Brincar com a autoridade é sempre muito legal na comédia, seja com figuras como a diretora da escola, um governante, um chefe ou um policial. Me divirto muito fazendo os diálogos das reuniões de criativos que trabalham nas empresas, por exemplo”, diz. 

“A ideia de criar propagandas falsas, produtos falsos, estímulos para que os personagens tenham o desejo de ter algo, traz novas dimensões para a série”, discorre Juliano. Para ele, não chega a ser uma crítica, mas sim uma reflexão em forma de piada que, segundo o roteirista, “tem a ver com os vários monopólios que existem e fazem parte do mundo.”

Os desejos de produtos, porém, não estão restritos aos membros do desenho. O apelo ao licenciamento de uma linha oficial de Irmão do Jorel é uma realidade. No último carnaval, centenas de pessoas se fantasiaram de personagens do show, outros fãs chegam a fazer festas de aniversário temáticas, tatuagens e até mesmo repúblicas de estudantes já realizaram eventos ligados à série.

“Pensamos em licenciamento o tempo todo, inclusive convido as pessoas a irem às lojas e ficarem importunando os vendedores perguntando se tem produtos que ainda não existem: chegou o shampoo de abacate da vovó Juju, que é biodegradável, não polui o meio ambiente, não é testado em animais e faz bem para a saúde? Chegou a galocha do Irmão do Jorel?”, se diverte.

Para Juliano isso é prioridade. “Adoraria ter vários produtos que considero legais. Nem todos são bons de serem vinculados a um desenho animado, mas gostaria de começar fazendo um livro com uma história inédita e um disco com os maiores sucessos da série”, revela.

As negociações para a realização dos produtos já estão acontecendo. “As conversas sobre o livro estão rolando bem, os demais ainda estamos discutindo as melhores estratégias, planejamentos e tentando entender como seria isso”, aponta.    

Ações

Diante do arrebatador sucesso da animação, o Cartoon Network promove uma ação 360, que vai incluir programação especial até junho e atividades culturais e sociais na capital paulista nas próximas semanas.

“Escolhemos essa atração pelos números que ele apresenta, pela dedicação do Copa [estúdio que realiza o desenho] e a parceria que a gente tem de transformar uma ideia ou um promo num desafio conjunto e trabalhar como uma equipe única”, explica Adriana Alcântara, diretora sênior de conteúdo e programação dos canais infantis Turner.

Nos dias 23 e 24 de março, a emissora vai promover duas sessões de cinema com conteúdo que mescla episódios inéditos e outros da terceira temporada. Essa edição do Cine Cartoon estará em mais de 30 salas em todo o país.

Fazendo referência às galochinhas amarelas do protagonista, o Cartoon vai promover, em parceria com a Via Quatro, responsável pela Linha Amarela do Metrô de São Paulo, uma doação de sapatos  até o dia 30 de abril.

“Todas as estações da linha estarão com containers do Cartoon e em algumas teremos uma galocha gigante para que as doações sejam feitas dentro dela”, diz. As instituições beneficiadas pelas doações são vinculadas à concessionária.

Durante três meses, a programação linear do canal também estará focada em Irmão do Jorel. O desenho será exibido no Bloco Brazuca, que concentra as produções locais, além da estreia dos episódios inéditos da 3ª temporada e o aquecimento, que vai mostrar reprises das temporadas um e dois. Estão previstas ainda ações para as redes sociais do canal.