A presidente Dilma Rousseff assumiu o desafio de tentar recuperar a sua própria imagem junto com a do governo

Em uma iniciativa de o que parte da imprensa brasileira tem chamado de “batalha da comunicação”, a presidente Dilma Rousseff assumiu o desafio de tentar recuperar a sua própria imagem junto com a do governo e, assim como anos anteriores, apareceu em público para fazer o discurso tradicional de sua gestão em rede nacional de rádio e televisão no Dia Internacional da Mulher, no último domingo (8).

Segundo especialistas em marketing político, em vez de se manter afastada dos holofotes como vem fazendo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que enfrenta uma grave crise hídrica, o evento foi visto pela equipe do governo federal como uma oportunidade de reagir ao pior momento da governante no cargo em meio a escândalos na Petrobrás e situação econômica delicada. No entanto, o tiro pode ter saído pela culatra.

De acordo com o Scup, ferramenta líder em monitoramento e análise de mídias sociais, a maioria dos posts publicados desde o dia 8 até as 12h do dia seguinte foram negativos à presidente da República. Em análise a 11,2 mil postagens durante o período, o levantamento aponta 59,3% de manifestações negativas e 40,6% positivas. Em relação ao que a empresa responsável pelo estudo apelidou de “guerra das hashtags”, a #DilmaDaMulher, usada pelos apoiadores, perdeu de goleada para a #VaiaDilma. A hashtag pró-governo apareceu 16,8% entre os posts monitorados, enquanto o recurso de vaia virtual teve 83,1% de aparições no registro da pesquisa.

Entre outros termos mais citados, a Scup ainda destaca “panelaço”, em referência ao protesto que ocorreu em alguns bairros de grandes capitais simultaneamente ao discurso da presidente.  Foram bastante citados também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escândalo de corrupção na Petrobrás e o Partido dos Trabalhadores (PT).

Para o consultor e professor de marketing político da ESPM Emmanuel Publio Dias, a situação difícil que o governo se encontra não seria amenizada nem mesmo se o discurso de Dilma Roussef fosse perfeito. “Em política nenhum fato em si é determinante de nenhum resultado. Um elemento apenas não reverte o todo. É preciso analisar o quadro geral”, diz.

De acordo com o especialista, os dados mostram que a presidente enfrenta o pior momento em relação à popularidade de seu governo. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada no começo de fevereiro, a avaliação da gestão despencou 21 pontos nos últimos dois meses devido às denúncias da Operação Lava-Jato e à crise econômica. Quando foi reeleita, o governo Dilma Roussef era avaliado bom ou ótimo por 42% dos entrevistados. Hoje a aprovação está em 23%. Já a opinião dos que consideram o governo ruim ou péssimo cresceu de 23% para 44% entre dezembro e fevereiro.

Segundo Dias, em momentos de baixa popularidade e situação econômica adversa como o que a presidente está enfrentando, outros líderes, inclusive brasileiros, apelaram para medidas econômicas que podem engajar a população com o objetivo de se manter no poder e vencer manifestações contrárias. “Desde o plano real, o público tem respondido automaticamente aos benefícios econômicos e sociais que estão ganhando”, diz o consultor político, citando a eleição e reeleição de Fernando Henrique Cardoso e também a reeleição de Lula, quando enfrentava o “Mensalão” e, mesmo assim, o ex-governante se reelegeu sem grandes problemas – FHC também recebia acusações por causa de privatizações e compra de votos em sua reeleição, mas venceu no primeiro turno devido ao relativo bom momento econômico que o país vivia até a votação.

A situação atual, portanto, é preocupante para o governo principalmente pelo momento econômico. “Há uma percepção de que as coisas estão ruins que é agravada porque os principais veículos de comunicação repetem isso todos os dias”, pondera o especialista. “O discurso foi uma espécie de aposta para reverter a deterioração da imagem do governo. Durante a campanha, a estratégia deu certo e houve uma aposta de que isso poderia acontecer de novo. Porém, assim como os políticos, o eleitor brasileiro também se acostumou com o ‘toma lá dá cá’. Se não observam perspectiva de ganhar benefícios, podem abandonar a presidente”, analisa Dias.

O consultor político finaliza dizendo que não se surpreenderia caso a Presidência da República anuncie medidas desesperadas nos próximos dias. “O governo precisa recuperar a credibilidade. Para isso, pode acabar pedindo sacrifícios para a população, pois ainda possui uma base de apoio forte que o defenderia”, diz.