De qualquer lugar e na ponta dos dedos. A conveniência e a praticidade são os atributos que motivam pessoas a pedir itens pelo celular e receber em qualquer local.
Com o consumidor norteando suas escolhas de acordo com o ritmo de sua rotina, buscando economizar principalmente tempo, aplicativos de delivery encontram uma espécie de onda verde com semáforos convidando a seguir em frente.
Com nove anos de trajetória no Brasil, o iFood avalia que o país de proporções continentais tem muito potencial de crescimento. “Basta comparar os 26 milhões de entregas de novembro com o potencial de um país de mais de 200 milhões de habitantes se alimentando em média 90 vezes por mês”, diz a foodtech. Ainda na visão de futuro da empresa, tecnologias como a inteligência artificial serão o motor, e esse movimento está apenas começando.
Demanda e resposta
Levantamento de 2019 da SEMrush mostrou iFood, Uber- Eats e Rappi como os três aplicativos de delivery mais buscados no Google: 1,2 milhão de pesquisas mensais, 246 mil e 183 mil, respectivamente.
Apesar de diferentes focos, os três têm em comum opções de entrega de comida. Principal segmento, ele tem atraído também empresas que inicialmente transportavam pessoas. Em dezembro, a 99 lançou a 99Food, que reúne opções locais de estabelecimentos.
Disponível inicialmente nas cidades de Belo Horizonte, Divinópolis, Varginha, Itabira e Poços de Caldas, o projeto ganhou há alguns dias a sua primeira campanha de marketing.
O material foi criado pela Grey Brasil e leva a assinatura Chega de fome. Chegou 99Food. A estratégia inclui mídia digital e offline, ativações e ações de relacionamento. Raphael Dias, gerente de marketing da 99Food, explica que houve um mergulho no contexto da região. “Ouvimos as impressões locais e buscamos compreender o cenário de food delivery para encontrarmos o ponto de sinergia entre consumidores, momento da marca e conceito da campanha”, diz.
Para o profissional, o mercado de entregas está aquecido no país e a ação da 99Food atende a uma demanda por mais variedade, estimulando a economia local. “Entendemos que o setor de food delivery está em plena ascensão na América Latina. Estamos investindo no mercado de delivery e nos apoiamos nos milhões de usuários da 99 e na tecnologia da DiDi, usada na China e no México, para lançarmos uma solução eficiente de serviço desenhada especialmente para os consumidores brasileiros”, diz.
O novo serviço tempera um mercado já explorado pela Uber há cerca de três anos. O que começou com a mobilidade com carros, expandiu para micromobilidade (bicicletas elétricas e patinetes) e ampliou com o Eats. “Preparamos algo novo e delicioso para você, um aplicativo de delivery que entrega sua comida favorita com a mesma eficiência e comodidade de pedir um Uber”, informou post em dezembro de 2016.
A porta de entrada foi São Paulo. Atalija Lima, gerente de comunicação do Uber Eats no Brasil, conta que a empresa vê uma demanda crescente e avalia que, à medida que os serviços se tornam mais confiáveis e acessíveis, eles se popularizam, impulsionando o surgimento de novos players. “No Brasil, desde que o Uber Eats chegou, vimos o quanto os brasileiros ansiavam por mais opções para receber em casa comida de seu restaurante favorito. Acreditamos que a concorrência é saudável, já que dá mais opções para os usuários e motiva empresas a trabalharem em um ambiente de constante inovação”, comenta, sinalizando expansão para outros serviços.
“Em alguns países da Europa, por exemplo, é possível fazer compras de supermercados direto no app da Uber. Acreditamos que isso é só o começo.”
Nesse cenário de concorrência, por enquanto, a dinâmica direta não deve ocorrer de imediato porque a 99Food está focada no projeto piloto em Belo Horizonte e em entregar a melhor experiência para os consumidores locais. No entanto, uma expansão não deve demorar. “O mercado de delivery no Brasil está crescendo organicamente e nos apoiaremos nessas oportunidades para expandir nossa atuação geográfica e de portfólio”, informa Dias.
Além da alimentação
Apesar da imensa variedade de sabores e cozinhas representadas no Brasil, os aplicativos de delivery têm encontrado outros segmentos para ocupar e se desenvolver.
Faz apenas dois anos que Ramon Silva e Mariam Topeshashvili, cofundadores da Avocado, tiveram a ideia de um aplicativo de delivery de produtos para mães, bebês e crianças, com entrega em até duas horas. “A ideia é que os clientes encontrem o que precisam sem pagar estacionamento, pegar filas ou pagar caro por uma entrega que atrasa. Repensamos essa indústria do zero com minigalpões, ou dark-stores, que são muito mais enxutos do que supermercados tradicionais e, portanto, levam a um custo operacional reduzido, que é repassado ao usuário final”, contam.
A ideia é solucionar não apenas um problema de conveniência, mas também de custo e experiência. A startup pretende expandir o leque de produtos e otimizar as entregas, porque a variedade do mercado mostra que o brasileiro já aceitou muito bem os deliverys e que o hábito de consumo veio para ficar. “Começar focado em um nicho faz com que a gente conheça verdadeiramente os problemas do nosso cliente e o que ele precisa como solução”, explicam.
Na avaliação deles, há uma verticalização de produtos e serviços em contrapartida “a falta de qualidade de um super-app marketplace”. Como resposta a um super-app que englobe vários third-party, há iniciativas surgindo em que uma vertical “é feita por um player que domine a cadeia de suprimentos”.
É o caso de Felipe Diz e Thadeu Diz, que criaram a Zee.Now, que entrega produtos pet com atendimento 24 horas, frete em minutos e gratuito. A ideia nasceu após os irmãos perceberem que o processo de compra em petshops é burocrático. Além de muitos não estarem abertos 24h, o cliente precisa pagar um frete às vezes com um valor similar ao do produto e checar a disponibilidade.
Na visão de Felipe, CEO do app, o maior desafio é educar as pessoas de que o app existe e é uma opção prática e conveniente. “Estamos concorrendo no fim do dia com qualquer outro ponto de venda que trabalhe com produtos parecidos. Uma vez que elas usam o app pela primeira vez a retenção é altíssima”, afirma.
Assim como para a Avocado, a tendência é preferir modelos de negócios mais nichados. “Acreditamos que isso seja uma vantagem competitiva”, diz. O momento no país também favorece o crescimento do aplicativo. “Há uma abertura maior para experimentar alternativas de compra diferentes das antigas e uma procura maior para produtos e serviços diferenciados. Além disso o mercado pet cresce a passos largos e o app se beneficia disso”, diz.
Tecnologia a favor
Nascido em 2011 e um dos principais players no cenário de delivery no país, o próprio iFood segue focado em desenvolver constantemente tecnologias voltadas ao universo da alimentação, o que vai muito além do delivery.
Entre as soluções estão o recém-lançado iFood Box, para que entregas em empreendimentos de grande fluxo sejam depositadas em armários com isolamento térmico e posteriormente retiradas pelo usuário via QR Code.
A foodtech tem no momento um robô autônomo em fase de testes em um shopping de SP. O modal foi batizado de ADA, em homenagem a Ada Lovelace, matemática e escritora inglesa reconhecida por ter desenvolvido o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina.
Inicialmente, ADA retira pedidos de restaurantes na praça de alimentação do centro de compras e os leva até o iFood Hub, estrutura física onde entregadores parceiros retiram os alimentos para seguir o percurso com moto ou bike, por exemplo. O projeto vem sendo desenvolvido em parceria com a Synkar, empresa brasileira especializada em inteligência artificial. O veículo é 100% elétrico e ecologicamente correto. Tem capacidade para transportar até 30 kg, autonomia de 12 horas de trabalho e deve começar a funcionar em breve.
Também em 2019, a empresa anunciou que está realizando testes controlados por drones. A tecnologia será usada de forma semelhante à ADA: fazendo um dos trechos do percurso de entrega. “O iFood é pioneiro no mercado brasileiro ao testar e escalar novos tipos de modais”, reforça a plataforma.
Vivendo e sendo parte de todo esse mercado, Felipe, da Zee.Now, afirma ver com ótimos olhos o desenvolvimento de novos players e soluções. “Qualquer produto ou serviço que melhore a qualidade de vida fortalece o ecossistema de apps como um todo. As pessoas ficam mais confortáveis em usar e a procura aumenta.”