Elas são jovens e determinadas. E estão dispostas a enfrentar o machismo e engrossar o coro pela ampliação da presença feminina nas agências de publicidade. Respectivamente assistentes de redação e de arte, Vitória Ferrari e Luiza Lopes criaram o site Feminipsum. Há três anos, quando ingressou na atividade, Vitória começou a ouvir piadinhas de conteúdo machista e se incomodou com esse comportamento. 

“Pra começar, a criação das agências é predominantemente masculina, com apenas 20% de mulheres. Por conta dessa quantidade de homens, o ambiente acaba sendo muito machista e preconceituoso. Além disso, as consumidoras no Brasil têm 85% do poder de compra, mas 65% delas não se sentem representadas pela publicidade. Claro, quem cria essas campanhas são, na maioria das vezes, homens brancos, héteros e com padrão elevado de renda. Como vai haver representatividade, ausência de machismo e clichês na propaganda com esses números?”, questiona Vitória.

Um estranhamento é que a atividade, que faz parte da economia criativa, é composta por profissionais com formação superior e integrados à discussão sobre causas que rejeita a intolerância.

“Não faltam homens descolados nas agências; mas falta diversidade. Não há presença de mulheres ou de negros, o que acaba tornando esse ambiente pouco diverso e como uma panelinha. Todos esses homens juntos acabam reproduzindo comportamentos machistas, que afastam as mulheres. Sem falar que muitos diretores de criação só contratam mulheres quando precisam atender uma conta feminina de produtos de beleza e afins”, pondera a criadora do Projeto Domina, que abriga o Feminipsum. “O Domina é o nome do nosso projeto. É ele que sempre vai assinar as ações de conscientização sobre machismo que iremos fazer. O objetivo é ajudar a acabar com o machismo na propaganda. Hoje temos uma página no Facebook e é nele que vamos postar nossas ações e compartilhar conteúdos sobre o tema que acharmos relevantes”, ela acrescenta.

Teria exemplos, mesmo que indiretos, do machismo na propaganda? Vitória responde: “O machismo na propaganda ocorre todos os dias. Comentários como “Tá bonita hoje, vai transar?”, “O portfólio é legal, agora deixa eu ver o Facebook” e “Isso que dá trabalhar com mulher” são comuns de se escutar. Também passamos por uma série de situações desrespeitosas, como participar de uma reunião e ser interrompida toda hora por um cara que sequer olha nos seus olhos porque você é mulher. Isso tudo sem falar nas situações de assédio sexual e nos olhares nojentos que as mulheres ainda recebem”.

Vitória não sabe se terá sucesso com a empreitada, mas acredita que vai ajudar a conscientizar o mercado. Ela se inspirou no site Lorem Ipsum, que os criativos recorrem quando precisam de um texto de marcação de layouts. “Só que o texto do Lorem Ipsum é sempre o mesmo: um texto em latim que fala sobre nada relevante, que ninguém presta atenção. A ideia surgiu quando pensamos por que não criar um site de Lorem Ipsum diferente, que fale sobre algo realmente importante como o machismo na propaganda para os criativos usarem? Assim nasceu o Feminipsum”, finaliza.