Este é o primeiro ano do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions após as modificações que sofreu em 2017. E sofrer não é um verbo em sentido figurado. Supreendido com as críticas feitas pelos principais líderes do negócio e ameaçado pelo potencial trade off com o SXSW, Cannes Lions piscou, como escrevi num artigo aqui mesmo, no PROPMARK.

E a reação começou ainda em 2017, numa conferência mundial ao vivo: a direção do festival anunciou as mudanças que pretendem manter o evento de Cannes como o mais importante do negócio da propaganda em todo o mundo.

Além das mudanças que pretenderam tornar a estada na Côte d’Azur um pouco mais econômica (desde a redução do número de dias até um surpreendente “prato do dia” nos restaurantes), os organizadores pretenderam também tornar o festival propriamente dito mais competitivo, com menos categorias e restrições para as inscrições generalizadas de peças e cases.

Lembra daquele “Festival de Cannes”, com filmes, campanhas e peças publicitárias? Esquece, não existe mais. Parta do princípio de que não é um Festival de Cannes, mas nove: Craft; Good; Impact; Innovation; Health; Reach; Communicattion; Experience; e Entertainment.

Em cada uma dessas trilhas do festival, várias categorias de Leões, num total de 26 possibilidades. Quer dizer: 26 categorias para ver, 26 short-list, 26 premiações.

Mas é na programação dos eventos e palestras, recém-divulgadas, que podemos antever (um pouco) do que será o festival. Continua enorme, amplo, irrestrito, obrigando, a quem vai participar, estudar detalhadamente as ofertas para conseguir extrair dele não só o melhor, mas o possível. Uma vez que certamente as melhores palestras e eventos não cabem na agenda do participante.

Um dia típico no Palais terá mais de 45 palestras, workshops, apresentações. No ano passado foram mais de mil palestrantes nos palcos principais, sem contar centenas de outras exibidas fora do Palais, a praia e os hotéis da Croisette transformados em extensões vivas da programação oficial.

Também o conteúdo está agrupado nas mesmas trilhas das premiações, permitindo que o participante consiga melhorar um pouco seu proceso de escolha por temas.

Do conteúdo das palestras antecipado pela programação, podemos destacar que os assuntos que foram tomando vulto nos últimos anos em Cannes estão retratados, destacando-se o storytelling como ferramenta de branding; as tecnologias de alcance, impacto e segmentação para incremento da eficácia da comunicação; as tecnologias e ciências como ferramentas.

Outra vertente de conteúdos vem do lado social (for good), com destaque para o uso das plataformas de comunicação e tecnologia para o desenvolvimento social, causas e propósito das marcas, principamente a questão de gênero.

Tudo isso, empacotado e turbinado pela criatividade, realmente o elo de todos esses assuntos. A lamentar ausência do Brasil na programação como fornecedores de conteúdos. Não consegui identificar uma só empresa brasileira no programa. E palestrantes apenas a Fefa (Fernanda) Romano e o PJ Pereira. Em Cannes e no mundo real, não basta ganhar Leões, é preciso criar para ser ouvido e fazer a diferença. No mundo todo.

Emmanuel Publio Dias é coordenador do Young Lions Brazil (epubliodias@gmail.com)

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