Espaço de divulgação da cultura japonesa, a Japan House São Paulo tem sido um sucesso de público desde que abriu suas portas na Avenida Paulista, uma das vias mais famosas da cidade. Em quatro anos, recebeu mais de dois milhões de visitantes atraídos por eventos típicos do Japão ligados a culinária, artes visuais, música e literatura, ou para apreciar os belos bonsais e a arquitetura de Kengo Kuma, adquirir os mangás e muito mais. Com a pandemia e o consequente fechamento do espaço físico, a instituição se voltou para os projetos virtuais. Para isso, foi lançado o projeto JHSP Online, que tem mostrado êxito nesse período de confinamento. Na entrevista a seguir, Eric Klug, que assumiu a presidência da entidade em abril do ano passado, fala desse projeto e de planos para quando o espaço reabrir.

Eric Klug, que assumiu a presidência da Japan House São Paulo em abril do ano passado, fala desse projeto e de planos para quando o espaço reabrir (Divulgação)

DIGITAL
A Japan House São Paulo mudou muito a sua maneira de atuar no mundo digital, tanto em termos conceituais como em estrutura e operação. A área digital no passado era focada em comunicar e apoiar o que acontecia na sede física, mas, em 2020, começou a produzir conteúdo em dez editorias diferentes e não necessariamente vinculadas a eventos físicos ou online, adicionando às pautas habituais – de artes visuais, gastronomia e literatura – temas como turismo, negócios, esportes e educação. A amplitude de atuação mudou muito também, incluindo públicos em outros estados e em outros países, com nosso conteúdo em espanhol. Para estas mudanças, a nossa equipe aumentou consideravelmente de tamanho e agências e produtoras externas foram incorporadas ao fluxo de trabalho. Essas iniciativas trouxeram um aumento expressivo de nosso público digital, que chegou a 5 milhões de indivíduos em 2020, com crescimento em todas as nossas redes e aumentos da ordem de 30% em nossos canais mais tradicionais, como Instagram e Facebook, e chegando a 100% e 300% em canais como Twitter e YouTube.

ATIVIDADES
As atividades da Japan House foram severamente afetadas pela pandemia, uma vez que, desde a sua inauguração, em 2017, promoveu concentrações de centenas de milhares de pessoas ao ano. Durante a pandemia, além dos canais digitais, nos quais continuamos a comunicar o Japão de hoje e a nossa missão, descobrimos também a força das atividades híbridas, como as Experiências JHSP Online, por meio das quais as pessoas puderam aprender conceitos da cultura japonesa contemporânea ao receber elegantes kits em sua casa e participar online de experiências olfativas, gastronômicas e de mixologia com toda a segurança. É uma iniciativa que mescla o social com o familiar, o distanciamento com atividades manuais e a interação em tempo real com experts em cada uma das áreas, que normalmente não estão acessíveis ao público comum. Além disso, foi possível realizar adaptações e poder dar continuidade às atividades já estabelecidas, agora em novos formatos, como por exemplo Clube de Leitura, Podcasts e Diálogo sobre Arquitetura com o Tomie Ohtake. Aproveitamos este período também para desenvolver novas áreas como Turismo, Educação e Esporte, fornecendo subsídios para quem deseja viajar ou estudar no Japão ou experienciar a Olimpíada, o maior encontro esportivo global.

ASPECTO PICTÓRIO
Percebemos um perfil de conteúdo que é mais apropriado a cada canal. Muitas vezes isto é bastante óbvio, como conteúdo de negócios no LinkedIn ou belas imagens no Instagram. Outras vezes, fomos surpreendidos com a enorme receptividade de ações do tipo ‘faça você mesmo’ e sobre complexos conceitos japoneses, em contraponto a uma receptividade menor para conteúdos retrospectivos como TBT ou indicações culturais de livros e séries. Os filtros do Instagram também tiveram uma aceitação surpreendente, confirmando a sua percepção sobre o aspecto pictórico de elementos japoneses.

MANTENEDORES
O financiamento ao espaço é variado, mas o governo japonês é certamente o maior provedor de recursos. A isto se somam receitas de aluguéis de nossos negócios (temos dentro da Japan House São Paulo duas lojas, um restaurante e um café), o nosso Programa de Mantenedores, que conta com empresas como NEC, Ajinomoto, Takasago, Hotel Intercontinental, Pilot e Mitsubishi Electric, além de projetos especiais com apoio de outros patrocinadores.

MISSÃO
A missão da Japan House São Paulo é criar laços, atrair curiosidade e interesse para o Japão de hoje. Esta missão é dividida com suas irmãs Japan House Londres e Japan House Los Angeles. Falamos sobre dez áreas temáticas: Artes Visuais, Literatura, Moda, Arquitetura e Design, Gastronomia, Tecnologia, Turismo, Educação e Pesquisa, Negócios e Esportes. Outras organizações têm focos diferentes que podem passar pela história da imigração, ações beneficentes ou integração da comunidade Nikkei, a maior do mundo. Cooperamos em projetos eventuais com muitas destas organizações e temos um enorme respeito por suas atuações e importância para o Brasil e o Japão.

ESCOPO
Como disse acima, falamos sobre 10 áreas temáticas, mas existe uma multitude de enorme escopo possível de ser abordado nestas dez áreas, muitas vezes surpreendentes. Nesta categoria, poderia lembrar de algumas ações que estão no escopo do que muitas pessoas esperam do Japão como Mangás, Caligrafia, Literatura, Gastronomia, Arquitetura e Turismo e outras que saem do que o público espera da cultura japonesa incluindo Exploração Espacial, Design de Embalagens, Essências e Fragrâncias.

ESPAÇO FÍSICO
No último ano, nossa sede esteve pouco aberta para visitação, e em grande parte do ano funcionou como estúdio para demandas diversas. Demos início ao Projeto de Itinerância, em parceria com organizações como o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre; e o Jardim Japonês, em Buenos Aires, que receberam exposições que já estiveram em cartaz em nossa sede e, no futuro, continuaremos investindo em novas parcerias em outros estados e países latino-americanos, além de manter viva a programação da nossa icônica sede da Avenida Paulista.

CONCEITO
Para mim é uma enorme honra e prazer presidir uma organização com a potência da Japan House São Paulo. Temos um conceito baseado em cidades globais, mesclando arte com negócios e com um enorme foco em experiências e no digital. Certamente meus antecessores dividem o mesmo orgulho e acredito ser um crédito para o Ministério das Relações Exteriores do Japão a escolha de brasileiros para presidir uma iniciativa de tal importância. A decisão não passa pela comunidade nipo-brasileira diretamente, mas acredito que esta decisão facilite a interação da Japan House São Paulo com parceiros dentro da comunidade nikkei e organizações governamentais, corporações e terceiro setor brasileiros.