Anos 1960, cidade de São Paulo, mulheres ficavam em casa; homens davam uma fugidinha para jogar sinuca. Em todos os bairros, salões com mesas de sinuca. Até o dia que alguém gritou “boliche!”. A família começou a se divertir junta. Incluindo as crianças. Nos melhores bairros da cidade, as casas de boliche. Em dois anos, duas centenas delas. Antes de terminarem os anos 1960, 99% das casas de boliche fechadas pelo abandono dos frequentadores…

Nas últimas quatro décadas, os tais de negócios da moda se repetem e multiplicam. Pizzarias, pastelarias, churrascarias rodízio, comida a quilo, iogurterias, “groupons e peixes urbanos”… e infinitas outras modas tipo “chuvas de verão”. Fugazes e passageiras. Agora a febre é de VUCs – Veículos Urbanos de Carga – travestidos de TQC – Trucks Qualquer Coisa. Uma espécie de terceiro ambiente para a venda de produtos e serviços. Tinha o analógico físico e estático; veio o digital comércio eletrônico; e agora temos o analógico físico e móvel. O velho, incompetente e balofo Estado baba de alegria. Mais regulações a fazer, mais impostos e taxas a cobrar…

Em entrevista para o DCI, Alcides Braga, presidente da Anfir (Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários) afirmou: “já temos certeza de que os empreendimentos sobre rodas não são um modismo passageiro”. Depende do serviço a ser prestado, da finalidade e do sentido de sua existência. Não são um modismo desde que atendam uma carência específica e decorrente do isolamento e falta de mobilidade. 90% do que temos testemunhado nos últimos três anos insere-se no contexto do modismo, “chuvas de verão”.

Ana Paula Teixeira, gerente de vans da principal fornecedora dos VUCs, a Mercedes-Benz, tem total consciência de qual é seu mercado de verdade e sempre: “O empreendimento sobre rodas veio para ficar nas cidades que enfrentam a problemática da mobilidade”. Esse é o negócio. De nicho, pequeno, diminuto, essencial. Todo o resto, engraçados e trágicos derivativos, modismo, perda de tempo; e, dinheiro. Nas revistas e jornais de negócios a iniciativa e criatividade desenfreadas crescem, prosperam e ganham espaço. A rigor, tudo, ou quase tudo, pode ser feito num Truck. E é o que vem ocorrendo.

“Fashion Hey Pretty” – salão de maquiagem móvel montado sobre um VUC da Iveco. Pink por fora e por dentro. Uma graça. Iniciativa de jovens estudantes da Faap. Na manifestação dos jovens empreendedores, “por sermos ágeis e diferentes, temos a oportunidade de fidelizar o cliente”.

“Sagrado Boulangerie” – padaria móvel montada sobre VUC para o atendimento de moradores de condomínios horizontais de luxo na cidade de São Paulo.

“Esquina Pasta Gourmet” – oferecer massas a preços acessíveis para públicos de diferentes perfis.

Como em todo o negócio da moda, multiplicam-se aos borbotões e são mais férteis que os coelhos: “Calçadão Urbanóide”, “El Favorito”, “La Polenta”, “Burger Lab”, “Holy Pasta”, “Veggies na Praça”, “Lox Deli”, “Picnic”, “Ocupa Food Park”, “Benê Food”…

Vou ao portal do Sebrae. Mais que atraente: “Um modelo inovador de venda de alimentos está se fortalecendo: O Food Truck. Uma nova tendência!” E, claro, e dentro de seus propósitos, o Sebrae procura orientar os candidatos a truckeiros. Que, se deixassem levar-se mais pelo cérebro e menos pelo entusiasmo, pensariam 100 vezes antes de mergulhar de cabeça e encomendarem o TQC.

Valor do investimento, entre R$ 180 mil e R$ 300 mil. Despesas de taxas e impostos. Despesas de tempo. Em síntese. Mais um negócio da moda. Mais um boliche. “É um barato”. É, para as pessoas. Que vão uma vez, duas, três no máximo, comem um acarajé ou hambúrguer ou coxinha e… Não voltam mais. Ser truckeiro só é bonito na TV. Mas se, mesmo assim, essa é a sua paixão, sucesso.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing