Relendo minhas últimas colunas descubro horrorizado que estou ficando sério.

Tento esquecer que eu sou eu mesmo e lendo algumas delas me pergunto se eu estaria disposto a ouvir minha sábia opinião a respeito de qualquer coisa.

Acho, sinceramente, que, em minha opinião, o mundo anda cheio de opiniões.

As redes sociais dão a cada pessoa o sentimento de que é um árbitro de tudo e de todos.

Os jornais e revistas, cuja importância na divulgação de notícias sofreu duríssimo revés diante da instantaneidade do rádio, da televisão e da internet, hoje são painéis de opiniões.

Veja-se a intervenção no Rio de Janeiro.

Cada edição da Folha, do Globo, do Estadão ou das revistas semanais tem pelo menos 30 opiniões diferentes sobre a medida, boa parte delas escritas por especialistas em segurança pública, a profissão com maior número de profissionais no Brasil, atrás apenas de analistas políticos, ambas com mais gente a exercê-las do que técnicos de futebol.

Correndo por fora temos os marqueteiros e bem depois as prostitutas. Aliás, parafraseando Tim Maia, este é o único país do mundo que puta goza, traficante se vicia, cafetão tem ciúme, pobre é de direita e porta-voz tem opinião própria.

Talvez não exista na história política mundial um outro caso como uma autoridade desmentir seu porta-voz, como fez Temer com o seu.

E eu não quero ser o primeiro colunista encarregado de contar histórias sobre a minha profissão a desistir de fazê-lo para virar… comentarista.

Nem lá em casa, onde julgo ser amado, estão muito preocupados com o que eu penso sobre o futuro do país e as soluções para a violência.

Então, perdão leitoras, perdão leitores.

Prometo que a partir da semana que vem voltarei a contar histórias. Mas, antes, só mais uma vez, me permitam comentar um caso ocorrido no Rio de Janeiro que, se for contado daqui a dez anos, muita gente vai achar que é anedota, como muitos episódios da nossa história que mais parecem piada.

Esse que eu conto é o seguinte: a prefeitura exigiu que todos os ônibus que rodassem na cidade fossem refrigerados até o início dos Jogos Olímpicos. Ótimo.

Para que houvesse viabilidade econômica, ajustou as tarifas de modo que a adequação da frota fosse possível.

Segundo o presidente do sindicato das empresas de ônibus, essa medida foi tomada sem consulta aos empresários.

Que também não reclamaram de nada. Nem atenderam à exigência de colocar ar-condicionado em todos os ônibus.

Hoje os frescões não chegam a 50% da frota.

Que faz o atual prefeito? Propõe criar uma tarifa diferenciada para os ônibus com ar-condicionado.

Ou seja: quem quiser ir no geladinho vai pagar mais caro.

O que disse hoje o presidente do sindicato das empresas de ônibus?

Que os empresários, mais uma vez, não foram consultados. Deu para entender?

Não precisa, ultimamente as coisas por aqui escapam da lógica. Com dirigentes assim, fica difícil fazer humor.

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira@grupomesa.com.br)

Leia mais
Tem muito rabo sendo abanado pelo cachorro
Dia Internacional do sou igual a você