Alê Oliveira

Uma das muitas coisas que nos impressionam, quando visitamos países mais adiantados, é a constatação de que o povo em geral não é conformista.

Não só em relação ao governo, mas também nas práticas do dia a dia, as pessoas fazem questão absoluta de preservar seus direitos, proporcionando um equilíbrio saudável nas relações entre si.

Temos de fazer o mesmo aqui no Brasil. De uma certa forma, já começamos. Anos atrás era sem dúvida pior nossa alienação em relação aos direitos da cidadania. Tínhamos medo do guarda da esquina, mesmo sem cometermos qualquer esbarrão na lei.

Com a expansão da população e tornando-se o país um bom mercado para os meios de comunicação, estes muito têm contribuído para educar o cidadão quanto aos seus mais comezinhos direitos. 

O aumento de jovens nas escolas também ajudou a criar uma conscientização maior quanto a isso.

Notamos, porém, que ainda falta muito para nos igualarmos aos países mais avançados, ainda que estejamos já entre estes em comparação com a geografia de todo o planeta.

O que nos falta, para um avanço mais significativo nesse comportamento, reside a nosso ver em uma espécie de comodismo que nos domina. Ele nos faz evitarmos uma reação de protesto, uma reclamação qualquer, por mais simples que seja, quando temos direitos ameaçados ou mesmo feridos.

Quando, na última semana, um ministro do STF resolveu, por birra pessoal com o atual presidente da Corte, determinar que os condenados em segunda instância poderiam gozar de liberdade enquanto não fossem julgados seus recursos judiciais contra a condenação sofrida na primeira e confirmada na segunda instância do ordenamento jurídico do país, o que daria a cerca de 170 mil presidiários em todo o país o direito à liberdade ainda que provisória (mas sabemos que de longa duração diante da morosidade da nossa Justiça), a população ordeira do país deveria sair às ruas e protestar de forma veemente contra esse absurdo.

Isso, porém, não ocorreu. Preferimos continuar cuidando dos nossos afazeres, sem nos darmos conta de que nossas vidas poderiam mudar de forma radical, caso não prevalecesse o bom senso em algumas autoridades, como a titular da Procuradoria-Geral da República, e surpreendentemente dado seus votos em questões anteriores no STF, seu atual presidente, o ministro Dias Toffolli.

Está mais do que na hora de o nosso povo entender que quem nos governa são apenas representantes por nós eleitos. Não são proprietários do país e dos nossos destinos. Ao contrário, são seus zeladores, devendo cumprir com justiça suas obrigações profissionais.

Vamos torcer para que 2019 nos traga mais luz nesse sentido, com a consciência, porém, que nada acontecerá se prosseguirmos mantendo o mesmo conformismo que tem nos acompanhado até aqui.

 

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Com a esperada melhora da economia brasileira, cujos primeiros sinais já estão sendo dados, nossa torcida é para que não haja mais fusões no mercado publicitário, principalmente de agências com marcas de grande recall, como anunciado recentemente entre a J. Walter Thompson e a Wunderman (e sinceramente esperamos que essa decisão dos acionistas seja revista) e, na última semana, a da DM9 com a Sunset, cujo comando caberá a Guto Cappio, presidente desta última.

A fusão da Y&R com a VML, já em andamento em outros países onde ambas têm operações, felizmente não se concretizou entre nós. 

A se lamentar ainda a venda do controle acionário da fantástica fábrica de revistas que tem sido a Editora Abril, com uma história brilhante de seguidos sucessos desde a prosaica aventura que marcou o início das suas operações entre nós, com o lançamento da revista infantil O Pato Donald.

Todos sabemos que o mundo dos negócios não vive de saudades, mas como os consumidores ou apenas os observadores dos diversos segmentos de mercado costumam julgar mais com o coração e todos os sentimentos que isso significa, deixando de lado os computadores e as calculadoras, é difícil aceitar passivamente essas decisões inevitáveis.

O sentimento maior, a nosso ver, reside na troca de comando de todo o Grupo Abril, ainda indefinido, não só pela sua história no Brasil, contribuindo para o próprio desenvolvimento do país, como também e por via de consequência, com o afastamento da família Civita da empresa.

Essa separação sempre foi impensável no mercado da comunicação brasileira, pois os Civitas e os seus empreendimentos não podiam viver uns sem os outros.

Entretanto, como toda história tem um fim, essa não poderia ser diferente, embora impensável no médio prazo. Mais uma consequência da crise econômica que se abateu entre nós, aliada ao novo mundo digital que a todos – de uma forma ou de outra – atingiu, fazendo o dinheiro não só mudar de mãos, como também de hábitos e costumes.

 

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Nesta edição, os resultados do júri da última regional do mais abrangente e profissional prêmio da publicidade brasileira: Colunistas Sul.

Os vencedores demonstram cabalmente que não é só em São Paulo que se cria o melhor da nossa propaganda. A propósito, o Colunistas e suas regionais têm demonstrado essa realidade de há muito.

 

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Imperdível o artigo que publicamos sob o título Mídia Técnica ou Política: Uma Visão de Mercado, de autoria do publicitário Ênio Vergeiro, presidente da APP.

Em um país que promete renovar-se, nada mais oportuno neste importante mercado publicitário que é o Brasil levantar-se uma vez mais essa discussão.

 

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Já em circulação o esperado livro de todo fim de ano: Marketing Trends, referindo-se como sempre aos vindouros, desenhando tendências da administração, do marketing e dos negócios no futuro próximo. Seu autor é o consagrado mestre Francisco Alberto Madia de Souza, colaborador desde sempre das publicações da Editora Referência.

 

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Este Editorial é em homenagem ao Bradesco, pelo comercial da campanha 2019 Você faz acontecer, criado pela Publicis, com trilha sonora da Christina Aguilera (Beautiful) e dirigido por Paulo Garcia.

A ideia sugere a cada um de nós buscar o próprio brilho, representado no comercial pelos vagalumes que voam para substituir as lâmpadas coloridas de uma árvore de Natal em praça pública, apagadas por um curto-circuito.

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br)