Na semana do 20 de novembro, data em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, o Google apresenta o estudo inédito “Consciência entre urgências: pautas e potências da população negra no Brasil”, encomendado pela empresa e realizado pela consultoria Mindset-WGSN e o instituto Datafolha. A pesquisa, que envolveu uma fase qualitativa e outra quantitativa realizadas em outubro de 2019, apresenta um panorama dos temas mais importantes e urgentes para as pessoas que se autodeclaram pardas e pretas no país.

Na fase qualitativa, foram realizadas sete entrevistas com especialistas (sociólogos, filósofos e historiadores), três grupos qualitativos em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, além de entrevistas com seis YouTubers. Já na fase quantitativa, foi realizado um estudo de campo com 1.225 entrevistados que se autodeclararam pretos e pardos (homens e mulheres, maiores de 16 anos, de todas as classes nas cinco regiões do país, incluindo áreas metropolitanas e interior).

Segundo o estudo, 68% dos entrevistados afirmam que não são representados pelas marcas em geral. Os que se declaram como pretos (73%) se sentem ainda menos representados na publicidade que os pardos (66%). Já 69% acham que as marcas tratam o Dia da Consciência Negra de forma vazia, oportunista e superficial.

Para 91% do total, o dia 20 de novembro é uma data importante para manter vivos na memória heróis e heroínas negros. O dia tem maior importância para as classes mais baixas: 85% dos entrevistados de classes D e E concordam que a data é um momento de luta. O percentual é maior do que entre entrevistados das classes A e B (72%).

A maioria dos entrevistados ouvidos no estudo afirmaram ser pardos (69%) e um terço disse ser preto (31%). Porém, quando perguntados se são pardos, pretos ou negros, 46% do total afirmaram que são negros. Entre aqueles que na primeira pergunta se autodeclararam como pardos, 26% afirmaram que são negros, quando esse termo foi incluído na pergunta. Do total dos entrevistados que se autodeclararam negros, 74% afirmaram que sempre souberam que eram negros e 17% deles entendiam-se como pardos e só mais tarde descobriram-se negros.

As cinco maiores urgências

Na fase qualitativa, foram mapeadas 15 pautas consideradas importantes pela população negra. Já na fase quantitativa, os 1.225 entrevistados foram questionados para indicar, a partir da lista de pautas importantes, quais delas eram as mais urgentes e as mais discutidas em sua percepção.

1ª – Inclusão no mercado de trabalho (Urgência: 46% / Discussão: 34%)

Essa foi considerada a primeira urgência da população negra. Porém, de acordo com a percepção do grupo, a inclusão do negro no mercado de trabalho é menos discutida do que deveria: ela fica em segundo lugar, atrás de racismo estrutural e institucional.

2ª – Racismo estrutural e institucional (Urgência: 44% / Discussão: 41%)

Entre todos os entrevistados, o racismo estrutural e institucional é a segunda pauta que merece mais atenção. Porém, ela é considerada 1,7x mais importante entre os jovens (16-24) que entre pessoas 60+;

7 entre 10 negros brasileiros não se sentem representados pelos governantes;

Entrevistados das classes D/E (73%) acham mais importante votar em candidatos negros que as classes A/B (47%).

3ª – Feminismo negro (Urgência: 27% / Discussão: 25%)

O feminismo negro é mais urgente para mulheres (30%) do que para homens (23%). No entanto, quando colocadas as urgências de cada gênero lado a lado, a pauta tem a mesma posição em ambas as listas;

Quanto maior a escolaridade, menor é a urgência atribuída ao feminismo negro: Superior (18%), Médio (29%) e Fundamental (30%).

4ª – Genocídio (Urgência: 23% / Discussão: 24%)

O genocídio da população negra é uma pauta mais urgente entre os jovens (16 a 34 anos) que entre pessoas 60+ (28% vs 18%);

Quanto maior a escolaridade, maior é o sentimento de urgência em relação ao genocídio da população negra: Superior (30%), Médio (26%) e Fundamental (14%).

5ª – Políticas afirmativas (Urgência: 19% / Discussão: 24%)

A preocupação com a existência de políticas afirmativas, como cotas raciais, é maior entre homens (23%) do que mulheres (17%);

Conforme a percepção dos entrevistados, a urgência das políticas afirmativas é menor que o nível de discussão em torno do assunto no país.

Ativismo

Metade dos entrevistados se considera ativista do movimento negro no Brasil. O percentual de pessoas que se consideram ativistas é maior entre as classes D e E (63%): elas reúnem duas vezes mais ativistas que as classes A e B (31%). Além disso, 81% dos entrevistados concordam que o ativismo negro prioriza causas que são importantes para toda a população negra.

Sobre o papel dos brancos na luta contra o racismo, 78% dos entrevistados são a favor da participação de pessoas brancas na luta. Entre os que se declaram a favor, 59% entende que os brancos devem se envolver porque são parte do problema. Além disso, 87% dos entrevistados acha que a luta não é exclusivamente dos negros.