Neymar é um craque. Com 26 anos, está na lista dos maiores artilheiros da Seleção mais vencedora do futebol mundial. Foi o jogador mais caro da história. É, desde seus 22 anos, a esperança de títulos de um país que não ganha uma Copa do Mundo há 4 edições. Tudo isso, obviamente, se soma à vida extra campo do “menino Ney”, que não se furta a viver do jeito que quer, gastando seu dinheiro (como é seu direito) da forma que bem entender.
Neymar não jogou bem uma Copa do Mundo como tantos outros jogadores – e craques – também não jogaram. Seu estilo de jogo é de drible, seu biotipo é franzino e não há motivo nenhum para essa celeuma sobre Neymar simular ou não simular. Todos fazem. Em todos os times. O tempo todo. Mas Neymar carrega em suas costas um erro de comunicação que eleva à décima potência suas ações.
É a forma como conduz sua imagem. Seu staff erra recorrentemente em absolutamente todas as ações que colocam Neymar em contato com a mídia. Neymar é a prova inconteste da falência do media training. A tática aplicada a grandes executivos não pode ser aplicada a alguém que precisa lidar, todos os dias, com cobrança, exposição em massa e esporte de alto rendimento.
Neymar-pai, a entidade que cuida da carreira e imagem do craque, está equivocado, ou mal assessorado, quando o assunto é o PR do camisa 10. Neymar parece um robô dando entrevista, com frases que parecem decoradas de um caderno que o transforma em um ser humano sem emoção. E fica nítido quando, em campo, Neymar mostra quem ele é e, fora dele, parece ser outra pessoa ou viver em outro planeta.
Neymar precisa sim de um choque de PR. Um tratamento diferenciado, singular, único. Que saia da cartilha das grandes agências. Que tenha a ousadia e a alegria que o craque alega estar em suas veias. E isso não se faz com um texto (incoerente) pago por um patrocinador e que foi um tiro no pé – afinal, “não sou mimado, apenas não aprendi a me frustrar” é uma frase risível. O público não compra meia desculpas, o torcedor não quer saber o “quanto ele sofre fora de campo” enquanto ele fizer mil posts no Instagram namorando uma musa, jogando poker com seus “parças” ou vivendo sua condição financeira em sua plenitude.
A imagem que o staff de Neymar quer vender não casa com o que ele é de verdade. Romário nunca foi santo, fazia muita bobagem fora de campo, mas era amado pela torcida. Porque nunca se rendeu à cartilha de media training. É isso que falta para o mercado de comunicação: entender que o consumidor mudou – e não compra mais discursos, storytelling ou campanhas. Ele quer verdade, autenticidade, transparência.
Nada seria mais indicado a Neymar nesse exato momento do que se despir da imagem que foi construída ao longo desses anos. Ser o menino que ele é, ser e transparecer seus defeitos e virtudes. Tira esse armário das costas, Neymar. Tome as rédeas de sua vida, garoto.
Bruno Pinheiro é CEO da PiaR Comunicação
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