Chief Creative Officer da Saatchi & Saatchi de Londres, onde trabalha desde 2005, Kate Stanners vai presidir o júri da competição Integrated do D&AD 2018, festival que acontece na capital britânica entre 24 e 26 de abril.

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À frente da criação de premiadas campanhas para marcas como Carslberg, Visa, Toyota, Guinness e HSBC, Kate é uma das 15 mulheres que vão presidir o total de 28 júris das competições do D&AD deste ano, em uma lista com 259 nomes (leia mais aqui), que chamam a a atenção do mercado por ter equilíbrio de gênero. No júri de Integrated, que irá avaliar trabalhos em que uma ideia se conecta com uma variedade de plataformas de mídia – televisão, online, jornais e mobile, por exemplo – Kate vai trabalhar com outros sete profissionais, entre eles a brasileira Keka Morelli, diretora de criação da AlmapBBDO.

Especialmente em homenagem ao Dia da Mulher, neste 8 de março, Kate conversou com o PROPMARK sobre o universo das marcas e a realidade feminina. Na entrevista a seguir, ela avalia posicionamento de marcas, estereótipos e o impacto do atual debate sobre assédio e abuso sexual no mundo do marketing.

Na sua opinião, como as marcas e anunciantes estão se posicionando atualmente em relação à realidade da mulher?

A gente começa a ver progresso vindo de marcas e anunciantes mais atentos, que entendem a importância de participação de um debate público sobre a mulher e de criar um trabalho que realmente faça barulho sobre assuntos importantes para a realidade feminina. Ainda estamos longe de capturar a realidade e a experiência de vida de toda mulher, mas tem havido muitos exemplos fortes. No último domingo (4 de março), vimos uma maravilhosa campanha do Walmart, criada pela Saatchi & Saatchi de Nova York, veiculada durante a cerimônia da 90a. premiação do Oscar. O Walmart chamou três mulheres, Dee Ress (cineasta e produtora), Nancy Meyers (produtora e roteirista) e Melissa McCarthy (atriz e roteirista) para dirigir curtas de um minuto com roteiros inspirados na caixa de entrega de produtos do Walmart. O resultado é uma campanha cheia de um humor maravilhoso e cheia de narrativas femininas muito inspiradoras.

A publicidade ainda trabalha com muitos estereótipos e clichês sobre a mulher?

Ainda temos um tremendo trabalho a ser feito para abordar os desequilíbrios de gênero dentro da nossa indústria. Um estudo do Geena Davis Institute, por exemplo, divulgado no ano passado, mostra que o homem aparece quatro vezes mais do que as mulheres nas cenas de comerciais de TV e são muito mais mostrados em papéis de liderança. Mas hoje estamos começando a ver menos uso do estereótipo e do cliché escancarados na publicidade. O mundo atual nos tem como responsáveis pelo nosso trabalho e valores. À medida que a sociedade e as culturas se desenvolvem e progridem, os referenciais na publicidade precisam ajudar a estabelecer exemplos. Também tenho a esperança de que encorajar um maior número de mulheres a entrar e a ficar na publicidade irá ajudar a termos uma voz mais forte para verificar o equilíbrio de gênero e para diminuir a representatividade desatualizada das mulheres. É estimulante fazer parte de uma atividade que pode ajudar a refletir essas mudanças culturais através do trabalho.

Como você avalia a participação da mulher na tomada de decisões empresariais?

A participação da mulher é inestimável e impacta diretamente a essência dos negócios de nossos clientes. Celebrar nossas diferenças é exatamente o que abre a natureza de um excelente trabalho nos negócios de qualquer área da indústria. Abrir mão de estereótipos e abraçar a variedade dá às marcas maiuma maior autenticidade e quando você não torna as pessoas alienadas, todos ficamos inspirados pelo trabalho. A diversidade traz a dimensão e e a riqueza que o mundo deseja e também instila confiança tanto dentro das agências quanto no nosso trabalho para os clientes.

Qual o impacto do atual debate sobre assédio e abuso sexual na publicidade e no marketing em geral?
Ele expõe uma realidade no mundo dos negócios que precisamos abordar urgentemente. Temos a responsabilidade de usar este momento da história, para cada um de nós e para o futuro dos profissionais, como uma oportunidade para refletir e para implementar políticas que garantam ambientes de trabalho saudáveis e respeitosos para todos, em todos os lugares.