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A rede de profissionais de criação WNW (Working not Working) publica, há quatro anos, seu ranking com as 50 empresas em que os cerca de 30 mil integrantes mais desejam trabalhar. Neste ano, cerca de 600 companhias foram citadas, incluindo estreantes, como a rede social Instagram,
a varejista Everane, a empresa de e-mail marketing Mailchimp e a produtora criativa MediaMonks.

Elas passam a fazer companhia a agências de publicidade, como 72andSunny, Barton F. Graf, Droga5, BBDO, Mother e Wieden+Kennedy; gigantes da tecnologia, como Airbnb, Apple, Google e Nasa; empresas de design, como Ideo e Pentagram; negócios da área de entretenimento, como Disney e Pixar; além de anunciantes, como Tesla, Nike e Patagonia. Todas as mencionadas estão desde a primeira edição do ranking. Outras, como Red Bull, Snapchat e Project Projects, deixaram a lista.

Mais interessante que o ranking em si são as constatações sobre o que atrai, de fato, talentos criativos para as empresas. A WNW atestou na mesma pesquisa que 60% dos criativos são atraídos por empresas que lhes proporcionam “oportunidades criativas”. Pelo segundo ano consecutivo, é o fator-chave para uma contratação. Em seguida, ficaram fatores como “a equipe” (11%), “pacote de benefícios” (6%) e “reputação da empresa” (6%).

Por outro lado, a situação mais comum para ocasionar a saída de um talento criativo da empresa é o “trabalho chato ou sem desafios” (39%), seguido por “química ruim com parceiros de trabalho ou gestores” (27%), “opções limitadas para ascender na empresa” (13%), “excesso de horas trabalhadas” (11%) e “salário baixo” (6%). Apenas 2% dos entrevistados consideraram a localização da empresa como um motivo para partir, ao passo que só 3% assumem um cargo por essa razão, ou seja, não importa em que lugar do mundo, mas, sim, o quanto as pessoas poderão usar seu potencial criativo.

O estudo identificou ainda algumas das principais preocupações dos criativos, que passam por questões como a perda de oportunidades por causa da idade alta, contratações baseadas em seguidores nas redes sociais, dados ganhando importância nos briefings e os celulares tomando espaço dos fotógrafos, dentre outras.

O ranking, que traz também empresas como Adidas, AKQA, Anomaly, Apple, Facebook, HBO, National Geographic, Netflix, The New York Times, R/GA, Spotify, Tesla e Vice, pode ajudar o mercado brasileiro a fazer reflexões sobre o que pode tornar as empresas atrativas para os criativos.

Como reter talentos

Para compreender melhor essas razões, a reportagem conversou com profissionais que lidam diariamente com profissionais de publicidade no Brasil, como Celina Esteves, consultora e coach especializada no setor. Desde fevereiro, ela tem trabalhado com mentoria para pessoas e agências como DPZ&T, Africa, DM9DDB, Tribal, FCB Brasil e Bold. A profissional teve uma carreira de 30 anos no setor e sua última função foi a vice-presidência executiva da Africa, onde era responsável pela área de atendimento.

Agora lida diariamente com o desafio de clarear caminhos e mentes do mercado. “Atrair talentos é a parte fácil para as empresas. O difícil é oferecer o ambiente ideal para que ele permaneça. O talento só vai ter uma vida longa na companhia se a experiência que vivencia com seu trabalho é favorável. As empresas que não prestarem atenção a isso terão prejuízo porque ter de sempre correr atrás de talentos sai muito mais caro do que mantê-los em casa”, receita a profissional.

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Ela trabalhou recentemente na contratação de um executivo pela Tribal. O caso foi um bom exemplo do que realmente deve ser considerado para juntar os caminhos das pessoas e das empresas. “Havia outros profissionais também capacitados, mas sem o propósito da empresa”, relembra. “Há uma necessidade de entender a importância disso e como o profissional pode se encaixar e contribuir. Essa adequação de cultura é o que faz a diferença para profissionais muito capacitados, mas que se mantêm por pouco tempo em uma agência, e os que têm propósito identificado, e se mantêm por muito mais tempo”, afirma. As empresas precisam de clareza de propósito e explicar de forma simples como ela trabalha. “É preciso sair do discurso e fazer o que se promete”, avalia.

Mas como as empresas podem compreender exatamente o que cada profissional criativo precisa? O estudo da WNW mostra como principal fator de atração as “oportunidades criativas”.
Celina acredita que a liberdade é um fator importante, mas sempre com a participação de profissionais mais experientes que agreguem e mostrem ao criativo onde ele pode chegar. “Há uma busca dos criativos pelo respeito ao trabalho, por serem ouvidos e por empresas onde eles consigam colocar trabalhos na rua e demonstrar sua qualidade. Aquela coisa de um grande criativo olhar para o resto da agência e dizer o que será, não existe mais”, afirma Celina.

“Paralelamente, cresce o modelo de cooperação, em que muitas pessoas acreditam nos mesmos ideais. Sempre foi uma busca minha quando estava no mercado de agências, de criar essa relevância. O criativo pode ter boas ideias, mas precisa saber onde vai chegar, para a criatividade não ficar solta”, diz a profissional.

Inovação e autonomia

“O que mais percebo de vontade nos criativos é a busca por autonomia para criar. Existe um problema quando eles percebem que a estrutura da empresa tem hierarquia muito grande de aprovação ou mesmo chefes que interferem demais em seu trabalho”, testemunha Fabricia Navarro, coach especialista na área de comunicação e marketing, que trabalhou por 16 anos no mercado de publicidade, em que foi executiva de multinacionais como a Leo Burnett, por exemplo.

Ela nota que a busca por autonomia tem guiado muitos profissionais que são seus clientes ao empreendedorismo, o que tem feito nascer muitas agências novas e de porte pequeno. “Ter o próprio negócio é visto como a chance de fazer as coisas do seu jeito. Claro que muitos acabam desistindo, ao perceber que o dinheiro não é o que esperavam e o problema da falta de estabilidade”, analisa.

Outra característica da busca dos criativos é o interesse crescente por outras empresas que não sejam agências. “No Brasil, também começa a haver interesse pelas consultorias porque já as enxergam como lugares onde serão escutados e poderão colocar o que imaginam em prática”, avalia.

Também existe um grande receio entre os criativos de ficarem obsoletos devido à inovação e à tecnologia. Por isso, subiu muito o interesse em trabalhar nas startups e nas empresas da economia criativa. “Há uma sensação de que a inovação chega primeiro a empresas como Uber, Quinto Andar, Amazon, Spotify e Airbnb”, diz Fabricia. Outro tipo de empresa que está no desejo dos criativos são os grandes anunciantes, como Coca-Cola, P&G e Unilever, especialmente em suas áreas de criação, que faz a interface com as agências.