O RH das agências já estava revestido de nova personalidade. O perfil burocrático dos antigos e carrancudos departamentos de pessoal não tem mais lugar. A gestão de pessoas e seu bem-estar passou a ser o foco. Na era home office, porém, esse desafio se multiplicou. Nada passa em branco. Das datas comemorativas, que não estão sendo esquecidas, contatos diários por e-mail, oferta de cursos à distância, webinars e lives. Além de preocupações extras que passam pela saúde mental, física e financeira dos profissionais. Programas especiais também estão sendo implementados. Na Ogilvy Brasil, por exemplo, o canal PAE (Programa de Apoio ao Empregado) está em curso, com parceria estratégica da Ticket.
“Com a chegada da Covid-19 no Brasil e a decisão imediata de ter toda a operação em trabalho remoto por tempo indeterminado, o papel do RH ganhou foco mais assistencialista: gerenciamento de estresse, adaptação tecnológica e direcionamento sobre as atividades diárias para um trabalho remoto eficaz. Damos suporte para toda e qualquer necessidade dos nossos colaboradores no trabalho remoto, desde a parte tecnológica até a assistência ergonômica, se for o caso. Notamos que as pessoas têm nos procurado mais. Hoje o RH oferece suporte diário às equipes em relação aos seus anseios, preocupações, medos e, principalmente, o gerenciamento de tempo diante de um novo modelo de trabalho”, explicou Patricia Fuzzo, CPO (chief people officer) da Ogilvy Latam.
Na agência digital Jüssi, como explicam a gerente de RH Karina Rishi e o coordenador Cesar Cotait, as adaptações contemplam as necessadades do trabalho à distância. O Plano de Mentoria e o Jüssi One, reunião mensal com todos os colaboradores, já estavam em andamento, mas foram intensificados.
“Temos um foco muito forte no lado humano e, pelo nosso tipo de empresa, no mercado no qual atuamos, avaliamos que não faz sentido a redução de jornada e de salários. A avaliação dos custos da empresa é algo que fazemos de forma constante e equilibrada, porém, lembrando sempre do lado humano”, explicaram os executivos ds Jüssi.
Giovana Lima, supervisora de RH da Havas+, elenca medidas que a agência está colocando em prática. “Neste momento nossa preocupação é dar o máximo de conforto ao nosso colaborador, então a diretriz é fornecer todos os equipamentos para que eles possam ter condições adequadas de trabalho. Isso é feito junto com as áreas de TI e Facilities; ligação surpresa da diretoria para um funcionário por dia; reuniões diárias por videoconferência para troca informações; e também buscamos conversar com outros profissionais de RH de outras agências”, destacou Giovana.
O RH ficou mais intenso na Leo Burnett Tailor Made. Quem afirma é Vivian Vaz, diretora dessa divisão na agência. “Somos todos seres de linguagem e conquistamos, através da evolução, o poder da palavra. Junto aos gestores, o RH está mantendo o fluxo de informação contínuo, fazendo monitoramento para sentir o clima, acompanhando demandas, auxiliando as pessoas sobre ferramentas de trabalho, processos em andamento, evolução do novo coronavírus, além de deixar um canal aberto para quem quiser falar. Também adaptamos benefícios e controles para a realidade de home office: reembolso de convênio médico, cancelamento do vale-transporte para não haver desconto para o funcionário, preenchimento de time sheet e marcação de ponto, entre outros”, disse Vivian, que acrescenta: “Através de uma parceria com a Apoio Pass estamos oferecendo, gratuitamente e de forma confidencial, profissionais para prestar assistência psicológica, jurídica, social e financeira.”
Para baixar o tom serioso, a Artplan implementou a ação #ArtplanEmCasa. “Para que os funcionários compartilhem momentos de trabalho e de descontração de suas casas para postarmos em nossas redes sociais”, destaca Sandra Poltronieri, diretora de gestão de pessoas do Grupo Artplan.
O momento é de resiliência e empatia. Principalmente para amanar o estresse. Na BETC/Havas, como explica a coordenadora de RH Lilian Esteves, as ferramentas Teams e VPN já eram utilizadas para quem optasse pelo home office. Mas ela enfatiza que, apesar de ser natural o estresse na propaganda, é um momento inédito para todos. “Estamos com bastante projeto, mas todos temos muitas dúvidas com a atual situação. E isso, claro, acaba afetando os colaboradores, que sempre nos procuram para conversar a respeito.”
Para Iza Herklotz, diretora-geral de RH da Dentsu Aegis Network Brasil, é momento de mudanças e incertezas. “Fazemos pleno uso das orientações que temos via plano de saúde, com atendimento e orientações através do app. E também um canal direto com o RH para tratar de qualquer tema relacionado a pessoas nessa temporada de trabalho remoto e pandemia, cuidado por uma equipe regional de continuidade de negócios, chamada Business Continuity Team.”
O RH precisa lidar com os próprios dilemas. “Além de trabalhar em prol de nossos colaboradores, preciso dividir os afazeres da casa e cuidados com meu filho, que só tem seis meses. A demanda de trabalho aumentou bastante, mas estou tentando preservar minha rotina, horários e vida pessoal.
O bem-estar de todos tem de ser uma prioridade”, afirmou Vivian Vaz. “Cuido de mim para poder cuidar dos outros com o mesmo carinho e comprometimento”, acrescentou Sandra Poltronieri.
Por outro lado, o principal estresse está relacionado à redução das estruturas. A crise do novo coronavírus já gerou demissões e também redução salarial. Publicis Group anunciou que vai subtrair cinco mil nomes da sua estrutura. Omnicom cancelou contratações. Dentsu Aegis Network promoveu cortes, assim como WPP e Interpublic.
No Brasil cresce o movimento #NãoDemita. “Os nossos colaboradores pertencem à classe de ativos primordiais de uma empresa de comunicação. Preservá-los é garantir a sobrevivência de todos e ajudar o nosso mercado e o país a sair dessa crise de cabeça erguida”, ponderou Roberto Amarante, sócio da 3AW Brasil, agência que aderiu ao #NãoDemita e produziu campanha de engajamento à ação Faça como a 3WA: Não demita.
Mais de mil empresas já aderiram ao #NãoDemita, cujo insight foi da empresária Luiza Trajano (Magazine Luiza). A Renner encaminhou ao portal Exame declaração de apoio. “Esperamos passar por tudo isso o mais rapidamente possível. Até lá, estaremos mobilizados pelo bem-estar coletivo”, justificou o comunicado da Renner, que tem a companhia da Accenture, BR Distribuidora, BTG Pactual e Grupo Pão de Açúcar, por exemplo.
A F.biz, marca do grupo ingês WPP, também está alinhada com a iniciativa #NãoDemita. “Neste momento de exceção, precisamos preservar as pessoas e os empregos. Isso nos colocará numa situação melhor para a retomada”, explica o co-CEO Roberto Grosman.
