Desde que o Lula começou a despontar na política passei a sofrer com as piadinhas que as pessoas fazem com a nossa xarazice. Depois dos primeiros meses não consegui ouvir uma só piada que fosse original. Basta eu me apresentar para um chato (vá lá, até para alguns não permanentemente chatos) e sou obrigado a ouvir uma gracinha. “Este é o ‘Lula do bem’” é recorrente aos não petistas, para se ter uma ideia da originalidade dos chistes. Mas me consolo: existe gente com destino muito pior que o meu.
Tenho um amigo que se chama Vasco e mora no Rio de Janeiro. Um dia ele me confessou que, no pior momento de sua crise com o próprio nome, tinha de fazer esforço para não se apresentar dizendo: “Meu nome é Vasco e vá para a puta que o pariu”. Preventivamente. Quase apanhei quando lhe disse que muitos juízes aceitavam a mudança de nome, desde que justificado. Sugeri que mudasse o nome para, por exemplo, Botafogo. Como se pode ver, há sempre um engraçadinho na vida de um portador de nome esdrúxulo. Já trabalhei com um Rolla. Marcio Rolla.
Você pode imaginar o que ele, desde criança, é obrigado a ouvir. Certo dia um fornecedor amigo, distraído, ligou para o nosso escritório e pediu para falar com o Pica. A moça que atendeu, já suficientemente vivida, não se deu por achada. Transferiu a ligação sem corrigir o engano. Fico pensando se ela sucumbisse ao natural desejo de informar e explicasse: “Perdão, não é Pica, é Rolla”. Poderia ter ouvido o tradicional: “É tudo a mesma coisa, minha filha”.
Outro que sofre é o famoso dr. Pinto Cansado, que não é urologista por mero acaso, mas poderia ganhar uma fortuna atuando no terreno da disfunção erétil (ou fuga venosa) nome politicamente (ou seria pauliticamente?) correto para a popular brochada. Aliás, o nome de um importante político já falecido, o Brochado da Rocha, é uma contradição em termos. Ou é Brochado ou é Rocha – ninguém é os dois ao mesmo tempo. Outra pessoa que conheci há pouco foi um cidadão chamado Mala. Esse ainda deu sorte, o termo mala como designativo de muito chato é relativamente novo, por isso ele deve ter tido de aturar brincadeiras com o nome há relativamente pouco tempo. Mas nesses tempos de Lava-Jato, mala ganha também outro significado, o que faz do coitado do mala ao mesmo tempo chato e corrupto. Eu tive um grande amigo, excelente diretor de arte que se chamava Liberato Pastorelli.
Não chega a ser um nome como Bucetina, por exemplo, que encontrei num site, mas ele detestava o Liberato, tanto que exigia de todo mundo ser chamado apenas por Pastorelli. Ou Pastor. Pois bem, uma vez, fomos juntos do Rio para São Paulo, revezando na direção, quando um policial nos parou, supostamente porque o Pastor estaria em velocidade exagerada. Com a Carteira de Motorista na mão, o guarda começou: “Senhor Liberato, o senhor estava acima da velocidade permitida…” Pastor respondeu no ato: “Meu nome é Pastorelli, seu guarda, pode me chamar de Pastor”.
O guarda, sem se preocupar com a correção, prosseguiu: “Senhor Liberato, vou ter de atuá-lo”. Pastor, novamente: “Pastorelli, seu guarda, Pás-to-re-li!” O guarda: “Mas aqui está que seu nome é Liberato!” Resposta: “Uma cagada da minha mãe e do meu pai. A porra do meu nome é Pastorelli. Quer saber de uma coisa? Multa. Taca uma puta de uma multa. Reboca a merda do carro. Mas não me chama desse nome”. Se não sou de circo, o guarda multaria e rebocaria o meu carro só porque o danado do Pastorelli não admitia ser chamado de Liberato.
O Rio de Janeiro é um estado que adora um nome estranho. O governador é o Pezão, já tivemos um Garotinho e um deputado chamado Men Rabha. Sem contar o Quaquá, que é presidente do PT. Nomes devidamente registrados, com direito a Carteira de Identidade e tudo. Pensando bem, até que tive sorte com esse negócio de nome.
Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor