Os impactos do novo coronavírus foram sentidos na mídia televisiva, modificando não apenas as grades das emissoras, mas o próprio estilo de vida das pessoas na sua relação com o consumo de conteúdo. A perspectiva de algumas semanas sem transmissões ao vivo de futebol, ou a realidade de se ver programas de auditórios sem a animação das pessoas, e a interrupção de produção e transmissão de novelas foram alguns dos aspectos mais sentidos.

Como resposta ao momento, planos de contingência foram acionados e a mídia precisou não apenas rever seu conteúdo, dando mais destaque ao jornalismo, mas também cuidar de seus funcionários e fazer ações de conscientização e prestação de serviços para a população. “A mudança na quantidade de conteúdo de informação jornalística foi muito positiva, e tem a ver com o mood da comunicação das marcas nesse momento, quando precisam levar informações relevantes sobre saúde, por exemplo, e auxiliar as pessoas. Os produtores de conteúdo foram muito rápidos em revisar grades, com a Globo liderando esse movimento”, diz uma fonte do alto escalão do mercado de agências.

A perspectiva de algumas semanas sem transmissões ao vivo de futebol é uma das mudanças durante este período

A Globo passou a dedicar 11 horas de sua grade ao jornalismo, o que inclui a criação do Combate ao Coronavírus, com Márcio Gomes como âncora, e
a ampliação dos outros jornalísticos da casa, ao passo que, no entretenimento, foram adiadas atrações como Encontro com Bial e Simples Assim (com Angélica), além de instituídas reprises como Fina Estampa, que substitui Amor de Mãe durante a pausa.

Informação, definitivamente, foi o valor fundamental da mídia na semana passada, quando os esforços de contenção da Covid-19 se aceleraram no Brasil. A Globonews, por exemplo, abriu seu sinal nas principais operadoras, no Globoplay e G1, com mais de 17 horas ao vivo e 2,5 mil profissionais envolvidos no jornalismo. A CNN Brasil estreou no último dia 15, em pleno furacão do coronavírus. Em meio ao conteúdo sobre a pandemia, a empresa teve entrevistas com Pelé e Ricardo Teixeira, jornais com apresentadores como Reinaldo Gottino, Daniela Lima
e Monalisa Perrone e formatos de debates como o que envolve Gabriela Prioli e Caio Copolla. Ao todo, afirma a empresa, foram 90 horas de cobertura em tempo real da Covid-19 em cinco dias.

Cena de Amor de Mãe, exibida pela Globo; emissora passou a ter 11 horas de informação

O BandNews TV, que comemorou 19 anos na semana passada, intensificou sua cobertura jornalística e abriu o sinal na internet e TV paga. Em meio à movimentação dos canais jornalísticos, o canal estreou o novo posicionamento Muito além da notícia, nada além da verdade, que teve participação de Luiz Lara no desenvolvimento, e estreou um talk show com Paulo Bonfá. Em meio aos efeitos do coronavírus, o Grupo Band prepara o lançamento do canal Agromais, que será exclusivo para notícia sobre o segmento rural. Seu evento de lançamento acabou sendo cancelado na semana passada.

Entretenimento
A Record TV informou que mudanças e ajustes podem ocorrer na grade de programação, com programas que podem ser cancelados para evitar aglomerações de plateias e equipes de trabalho. Para substituir, outros serão exibidos em horários e dias diferentes, para atender à grade. As gravações das novelas Amor Sem Igual e Gênesis estão canceladas nos estúdios da Casablanca, no Rio de Janeiro. E as gravações de Gênesis, que acontecem no Marrocos, ficam mantidas, por enquanto. Além disso, programas de auditório estão suspensos. Viagens e deslocamentos serão autorizados apenas em situações emergenciais.

No SBT, foram lançadas diversas iniciativas no relacionamento com colaboradores, elenco, prestadores de serviço, visitantes, convidados dos programas e participantes dos auditórios. Um detalhe foi o cuidado com as pessoas acima de 65 anos que, por serem mais vulneráveis às consequências do vírus, foram desaconselhadas a participar dos programas de auditório.

Em relação à compra de mídia, o coronavírus ocasionou queda drástica nos investimentos na mídia exterior e cancelamento de ações em cinemas. No digital, também há paralisações; na TV aberta, tem se reduzido uma série de esforços. “A questão é que mesmo com audiência em casa, se não houver o que vender, a mídia se torna menos eficiente do que antes”, questiona em off um profissional de agência.

Nesse contexto, a mídia se viu desafiada a prestar serviço não apenas no jornalismo, mas no entretenimento. Em uma iniciativa conjunta, a TV Globo, o Gloob e o Gloobinho somaram forças para apresentar a Ciranda da Limpeza. Com criação de Sergio Valente, diretor de marca e comunicação da Globo, a campanha, em tom de cantiga de roda, explica o passo-a-passo para lavar as mãos de maneira correta.

Já o Saia Justa, da GNT, teve Astrid, Mônica Martelli, Pitty e Gaby Amarantos comandando a atração ao vivo dos próprios sofás, com a pauta focada na atual situação mundial e com sinal liberado. A A+E Networks Brasil também disponibilizou os canais History, A&E, History 2 e Lifetime nas operadoras e lançou a campanha #FiqueEmCasa. “A ideia é oferecer o conteúdo dos nossos canais para enfrentar melhor esse momento atípico”, afirmou Maria Vianna, diretora de marketing do A+E Networks Brasil.

O Canal OFF promoveu videoaulas no seu aplicativo, além de IGTVs explicativos no Instagram, meditação guiada no YouTube e lives e stories para dúvidas, sugestões e interação com o público. Diversos conteúdos exclusivos destinados ao bem-estar, tranquilidade e hábitos saudáveis foram produzidos a toque de caixa e os atletas do canal vão incentivar o cuidado com a saúde física e mental.

No RBS, foram desenvolvidas diversas ações unidas na hashtag juntoscontraovírus. Na RBS TV, por exemplo, começou na quarta-feira (18) a “bancada virtual”, com entradas ao vivo dos comentaristas desde suas casas, dentre uma série de iniciativas e recomendações.

Papel
Outros veículos também tiveram de se adaptar a uma nova realidade de estilo de vida das pessoas, como os jornais. O Globo, por exemplo, criou o festival online #tamojunto, em que artistas fizeram shows ao vivo a partir de sua página de Instagram que foram transmitidos online pelo site do jornal. “Depois da música, nós já estudamos outras áreas para as próximas semanas”, afirma Fátima Sá, editora do Segundo Caderno.

Já uma parceria do próprio O Globo com o Extra consistiu no desenvolvimento de uma plataforma robô que esclarece e desmente boatos sobre o novo coronavírus, tirando dúvidas urgentes com processo automatizado disponível em desktop e mobile.

Além da TV, a mídia digital também sofreu impactos e precisou se adaptar. Leonardo Khéde, head of sales da Verizon Media no Brasil, enxerga duas grandes tendências para este momento no segmento. A primeira é evitar que os anúncios sejam associados a notícias trágicas, para contaminar a marca com o sentimento negativo que está permeando o digital. A outra questão é um foco maior em campanhas de performance. “Em geral, conseguimos notar um foco maior das marcas no e-commerce e uma preocupação grande com o contexto, uma vez que nenhuma marca quer ser atrelar a notícias negativas. Empresas que possuem e-commerce proprietário estão direcionando os seus esforços para promover a loja virtual, como O Boticário, por exemplo, migrando seus investimentos para mídia digital e mobile”, diz Khéde.