As diferenças entre os modelos de negócios brasileiro e americano no mercado de produção audiovisual foram discutidas na tarde desta quarta-feira (3), durante a 10ª edição do Fórum Brasil, em São Paulo, evento que debate o mercado internacional de televisão.
Segundo Carla Albuquerque, diretora da Medialand, os EUA possuem modelo mais eficiente e lucrativo para as produtoras e emissoras, sendo que os direitos patrimoniais do conteúdo – fato que se caracteriza como uma das questões mais discutidas pelo setor no Brasil – pertence às produtoras. “Estas empresas são muito fortes lá fora. No exterior, o canal que oferecer maior valor para adquirir o produto é que fica com ele. Outra coisa é que as produções norte-americanas têm vida longa. Não existe produção pontual. E esta ‘visão’ nós ainda não temos no Brasil”, disse Carla.
Conforme a diretora, no mercado brasileiro, é necessário criar programas com alto potencial de cross media, além de utilizar o formato brand content, ou seja, pensar a marca junto ao processo de criação do conteúdo. “É um excelente negócio que deve ser elaborado de maneira cuidadosa. No mercado internacional, isso é feito brilhantemente”, enfatizou.
As discussões em torno do PL 29 também foram questionadas por Paulo Schmidt, presidente da holding Ink, que reúne as produtoras Margarida Flores e Filmes, Academia de Filmes, Academia de Cultura e Base7 Projetos Culturais. Segundo ele, nos Estados Unidos, o estabelecimento de cotas para a produção independente tem o resguardo da legislação norte-americana. “A indústria do audiovisual é mais do que conteúdo. É, efetivamente, o instrumento de comunicação do próprio País. Então, em relação ao PL 29, é necessário, sim, que se tenha espaço para o produto regional. Além de proporcionar maior audiência, leva a proximidade ao consumidor local”, salientou Schmidt.
Para ele, ainda é duvidoso o motivo pelo qual as emissoras brasileiras não oferecem maior oportunidade às produtoras. “Fico impressionado. As TVs no Brasil ainda não perceberam que podem ter conteúdo de melhor qualidade, com uma agilidade eficiente, e com custo-benefício mais evidente. Será que existe falta de credibilidade em relação à nossa capacidade de produção?”, questionou Schmidt.
Neste sentido, Luiz Noronha, sócio-produtor da Conspiração Filmes, ressaltou a dificuldade de ser criar produções de qualidade dependendo, somente, do financiamento dos canais, e dos resultados de bilheteria – no caso particular do cinema. “O mercado é viciado no incentivo fiscal, já que os produtores sofrem da escassez de recursos e, pelo lado dos fornecedores, a pressão de custos é muito grande”, disse Noronha.
O executivo também enfatizou a necessidade de se ter conteúdos produzidos para as multiplataformas de comunicação. Segundo Noronha, a indústria audiovisual caminha para uma direção em que os investimentos não estarão mais concentrados, apenas, em uma ‘mídia-mãe’. “O mercado está indo para a diversificação das verbas de marketing e comunicação. Somos obrigados, hoje, a produzir para as todas as mídias existentes”, explicou.
por Juliana Welling
Leia também: