1. Fazemos questão de abrir o Editorial com um elogio a Renato Loes e Jader Rossetto, profissionais de grande relevância no mercado publicitário brasileiro que acabam de anunciar a abertura da própria agência, a Mar Comunicação.
Ela já vem funcionando desde março, com um novo modelo de negócio (ver matéria nesta edição) e agora, adquirindo músculos já com cinco novos clientes em carteira, seus proprietários promoveram uma coletiva na última semana em São Paulo, anunciando oficialmente a sua existência.
Seria uma decisão de rotina no trade a vinda de mais uma agência de profissionais, isso até meados do ano passado. De lá para cá, com todas as queixas formuladas pelos players do setor e com a morosidade do governo brasileiro em atacar o mal pela raiz, torna-se um fato relevante a abertura de uma nova agência de publicidade.
Loes e Rossetto podem servir de exemplo ao empreendedorismo brasileiro, hoje retraído diante do receio não só do presente, como também e principalmente do futuro incerto da economia nacional.
2. Continuamos a nos perguntar até quando durará essa crise que é mais política do que econômica, mas que, pelas suas proporções, acaba vitimando todos os brasileiros, empresários e profissionais que um dia lá atrás ouviram promessas de um país melhor para todos.
O que mais se ouve hoje é que este país está quebrado e não é por força de guerras ou devastações ecológicas.
O país quebrou pela incúria dos nossos governantes e pela desonestidade de grande parte dos integrantes do segmento político da nação.
É de tal forma a situação em que nos encontramos, que o povo está perdendo a sua capacidade de exigir dos eleitos – tecnicamente seus representantes nos poderes – soluções a curto prazo para ao menos reduzir o tamanho dessa colossal encrenca em que nos meteram.
Compreende-se a apatia que toma conta de todos, pois não dispomos de mecanismos apropriados para lutar contra nossos algozes. Votar melhor nas próximas eleições pode ser uma saída, mas a longo prazo.
Com o Estado brasileiro totalmente aparelhado pelos demagogos que há anos infelicitam o país, não há como forçar uma saída que nos permita encurtar o momento presente.
Todas as soluções – absolutamente todas – dependem dos mesmos agentes da desordem nacional. De tal forma está aparelhado o Estado, que nem mesmo o grave momento que o país atravessa, evita as notórias greves políticas de significativa parcela dos servidores públicos.
Vimos na semana passada na televisão, além de outras plataformas de mídia, como o povo mais carente da população brasileira sofreu e prossegue sofrendo com a greve dos funcionários do INSS.
Agora que ela terminou, consultas médicas, por exemplo, estão sendo remarcadas para o próximo ano, como se os problemas de saúde pudessem esperar.
A greve dos Correios, que todo ano se repete – o que significa que poderia ser evitada se no início de cada exercício fiscal já se pensasse no problema marcado para eclodir lá adiante –, prejudicou um sem-número de pessoas físicas e jurídicas e não se pode sequer fazer um balanço de todo o prejuízo que esse tipo de motivação sindicalista causa ao Brasil e aos seus habitantes.
Estoura esta semana outra grande greve nacional, a do setor bancário, que atinge o público e o privado, paralisando as transações financeiras e prejudicando sempre de forma mais significativa os menos favorecidos, que dependem dos bancos para receber suas aposentadorias e pagar religiosamente – porque o pobre tem preocupação constante em saldar seus compromissos financeiros – o que deve a terceiros.
3. O país está à mercê de um sistema de governo implantado nos últimos 30 anos e que, em primeiro lugar, privilegia de forma até acintosa quem está no poder, seja lá o grau de ocupação que cada um tenha.
A imensa maioria da parte de fora do círculo do poder, como verdadeiros súditos de um reinado maquiavélico, luta a vida inteira para cumprir com o seu papel de simples figurantes, contribuindo, entretanto, para o enriquecimento dos que se situam dentro do círculo moralmente degradante.
Quem viveu os estertores do período iniciado com a renúncia de Jânio Quadros (agosto de 1961) e o fim dos anos Goulart (janeiro, fevereiro e março de 1964), se lembra com tristeza de momento semelhante ao atual, com a diferença que lá havia, naquele momento triste da nossa História, personagens públicos lúcidos e bem formados, que mesmo aceitando a entrega do poder ao grupo militar que dele se assenhorou, acreditava em uma transição imediata com a devolução do mesmo aos civis.
Não foi o que se deu, mas a luta para o restabelecimento da democracia, com duração de duas décadas que muito custaram à nação em termos de sacrifícios pessoais, acabou finalmente obtendo o reencaminhamento democrático dos destinos da pátria.
Esse grande objetivo conquistado após longos anos de chumbo, está sendo hoje esquecido pelos que não viveram essa época, mas conhecem suficientemente seus efeitos.
Não queremos um novo golpe militar a pretexto de pôr a casa em ordem. Mas, à espreita, há civis desejosos de um outro tipo de golpe, sob o falso rótulo da defesa dos desafortunados.
Trata-se de um velho filme que sempre se reprisa no outrora chamado terceiro mundo. A promessa de uma vida melhor, que todos desejamos, engana a capacidade de julgamento de muitos.
É a hora dos messias lançarem-se como salvadores da pátria.
Já estamos vendo pelo menos um deles atrever-se a lançar a própria candidatura para 2018, como se isso não tivesse de ser discutido na convenção partidária.
O alerta que aqui deixamos é para que não se iludam os crédulos: se o mal, consequência dos mais recentes que nos governaram e governam, não for devidamente extirpado no mínimo da vida política nacional – e para isso não faltam motivos – voltará com maior força no futuro.
A História está aí para ser consultada por quem desejar. Os tiranos que pontilharam a vida pública e política de muitos países do planeta, em suas diferentes épocas, tiveram na sua trajetória momentos propícios para serem definitivamente banidos e muitos disso não escaparam. Mas, os que conseguiram sobreviver ao próprio caos, voltaram com forças redobradas de ganância e ambições.
Até hoje alguns povos ainda se lamentam por terem permitido esse amargo regresso.
*Diretor-presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Marketing e Propaganda