Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no universo dos negócios. Hoje, o Brasil conta com 24 milhões de empreendedoras, segundo dados recentes divulgados pela RME – Rede Mulher Empreendedora. Uma delas sou eu, Sandra Turchi, diretora e fundadora da Digitalents, consultoria especializada em headhunting, treinamentos e na Transformação Digital de empresas e profissionais. Conectada ao mercado digital há duas décadas, atuo numa seara predominantemente masculina.
Nós, mulheres, representamos apenas 20% dos profissionais da área de tecnologia, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE. Apenas o setor de Tecnologia da Informação (TI) gera mais de 1,3 milhão de empregos no Brasil. Conforme números da Softex, o País ainda possui um déficit de mais de 48 mil profissionais que, se não for suprido, poderá ocasionar perdas de receita da ordem de R$ 115 bilhões até 2020. Uma escassez que não é exclusividade nacional: um censo feito pelo governo norte-americano, por exemplo, mostra que por lá apenas 25% das vagas do segmento são ocupadas por mulheres, que ganham em média 10 mil dólares a menos que homens em cargos semelhantes.
Estou ligada ao universo digital há cerca de 20 anos: como executiva, consultora em desenvolvimento de projetos, professora e palestrante em temas relacionados a estratégias digitais, marketing, comércio eletrônico e transformação digital. Fui responsável pela implantação de uma das primeiras operações de e-commerce do País e sempre me deparei com uma disparidade gigante entre homens e mulheres.
A minha história no mercado digital foi construída com obstinação extrema. Sempre fui workaholic, comprometida e focada em resultados. Estudei muito e investi bastante na minha carreira. Logo após o nascimento do meu filho, que hoje tem quase oito anos, fui demitida. Era diretora de marketing de uma empresa e fui dispensada logo na volta da licença maternidade. Acredite: isso lamentavelmente ainda acontece, e aos montes, em pleno século 21. Embora estivesse recebendo algumas propostas de emprego, na época me dei conta de que não queria mais atuar no mundo “cãoporativo”, como costumo brincar. Foi então que decidi empreender. Mas, empreender em quê? Essa foi a primeira dúvida.
Sempre fui executiva. Não me via como empreendedora, empresária ou vendedora de qualquer coisa. Mas, me encontrava numa situação em que tinha que mudar. Era obrigada a me reinventar. Precisava de mais flexibilidade, para lidar com as novas demandas profissionais e da maternidade. Além de todas as dúvidas sobre em quê empreender, ter ou não sócios, espaço físico ou não, ainda tive que empreender com um bebê de colo. Literalmente “amamentando”.
Para ter uma ideia, quando o Lucca tinha apenas 40 dias, eu já estava dando palestras. Me lembro de uma época em que ia a grandes eventos profissionais e carregava uma maleta, daquelas de levar notebook. Dentro, porém, estavam apetrechos para retirar e armazenar leite durante os intervalos do cafezinho. Mas, aquilo que poderia ser o “fim da linha”, na verdade, é tudo o que a gente precisa para mudar o rumo da própria história… nada pior que um bom emprego e um ótimo salário para quem almeja empreender,
Claro que a minha vida não foi tranquila. Óbvio que houve (e ainda há) muitos sacrifícios. Após um ano da famigerada demissão, fundei a minha empresa, e, quando meu filho tinha cerca de um ano, também lancei o meu primeiro livro, sobre marketing digital e e-commerce. Desde então, foram muitas viagens, aulas e palestras. Estruturação da empresa e contratações de equipe. No meio do caminho, ainda enfrentei uma crise na economia; a minha primeira recessão como empreendedora.
À essa altura, você pode estar se perguntando: “será que valeu à pena?” “Não seria melhor escolher outros caminhos?” “Algo mais ‘light’, talvez?” “Ou tentar uma coisa de cada vez?”… não sei. Não há como saber. Só podemos lidar com as informações e ferramentas que temos em mãos, em circunstâncias muito específicas, para tomar decisões e fazer as nossas escolhas.
Uma coisa é fato: depois que as maiores turbulências passaram, me senti mais feliz e muito mais forte. Muito mais segura de tudo que sou capaz. Hoje, estou educando meu filho e o vendo crescer de perto. Minha empresa já passou daquela fase crítica, em que a maioria dos empreendedores quebram em menos de um ano. Já completamos seis anos no mercado… com uma equipe e parceiros fantásticos.
Por meio da minha atividade, compartilho o máximo de conhecimento que posso. Sinto que contribuo para a evolução pessoal e profissional das pessoas e empresas e isso me traz muita realização. Na minha visão, nós, mulheres, já trazemos diversas dessas características do “ser digital.”
Segundo a McKinsey, uma organização digital precisa estar aberta e pronta a reavaliar o seu próprio jeito de fazer negócios. Deve descobrir novas fronteiras a serem exploradas e que podem gerar valor. Necessita repensar a forma de utilização dos recursos existentes com foco na melhoria constante da experiência. É imprescindível que tenha agilidade e velocidade para implementar todos os demais processos. Se essas não são características genuinamente femininas, não sei mais o que seria. Prazer, me chamo Sandra Turchi. Sou uma mulher empreendedora. Sou uma mulher genuinamente digital.
Sandra Turchi é palestrante TEDx, professora e consultora em temas relacionados a digital marketing, estratégias, e-commerce, entre outros