Há home office. Não isolamento. Nas palavras do executivo André Gomes, CEO da Mullen Lowe Brasil, a agência está produzindo sem rupturas. A orientação é propor para os clientes ideias capazes de amenizar a crise. “Muitas vezes o briefing é: ‘Como posso ajudar?'” Gomes respondeu por e-mail as questões formuladas pelo PROPMARK.
Como tem acompanhado a crise gerada pelo coronavírus?
Nossa cabeça está no agora, mas também já projetando o futuro. O agora nos faz pensar na segurança de todos que nos cercam. Nas medidas fundamentais para manter a agência produzindo sem rupturas. Em como ajudar nossos clientes com ideias que amenizem os impactos da crise. Quanto ao futuro, estamos nos dedicando a entender como isso tudo vai mudar o mundo. Como as pessoas vão reagir, interagir após essa pandemia. Como será a relação dos consumidores com as marcas? Não temos o poder de adivinhar o futuro, mas temos a obrigação de nos antecipar a ele.
O home office está sendo produtivo?
100% produtivo. Não houve perda de eficiência. O comprometimento do time tem sido sensacional. Claro que gera muitos aprendizados. Não seremos os mesmos após tudo isso. A forma de trabalho será diferente. Está claro que home office é algo a ser considerado como modelo de trabalho, não só agora.
Como os clientes estão demandando nesse período de isolamento?
A demanda não caiu, mudou. Alguns entraram no modo “stand by”, ainda avaliando o possível impacto. Outros mantiveram a demanda ou até aumentaram, dependendo da natureza de cada negócio. A maioria está se adaptando ao momento. Eu vejo muita solidariedade genuína. Muitos briefings partem da pergunta: “Como podemos ajudar?”
As salas de performance estão dando atenção e prioridade a que temas?
As salas de performance existem para acompanhar o comportamento online das pessoas. Neste momento de mudanças repentinas e tão profundas, estamos entendendo como as pessoas estão consumindo os contextos das nossas marcas e obviamente adaptando nossas mensagens para que atendam melhor os anseios do consumidor neste momento.
Poderia citar exemplos?
Algumas categorias estão sendo redescobertas: limpeza e higiene por exemplo. Cozinhar em casa também deixa de ser apenas em momentos especiais e vira dia a dia para alguns segmentos sociais.
Como está o desempenho da agência nesse período?
Com relação as nossas entregas, continuam em alto nível. Sobre o resultado do negócio, ainda é cedo. Assim como os clientes, a agência está avaliando o impacto. Mas não há como passar por isso tudo sem sentir a pancada. Nós vamos sentir, assim como todo o mercado.
Qual deve ser o tom das marcas nesse momento?
O tom deve ser sereno, mas ao mesmo tempo realista. Sem ser alarmista, claro. A vontade de ajudar precisa ser genuína e o balanço é fundamental. Sem colocar os pés pelas mãos na ânsia de capitalizar algo. De certa forma, um dever de casa já havia sido feito. Nós já vivíamos a era da verdade das marcas. Estamos num momento de tensão máxima. Qualquer coisa deve ser pensada e repensada. As marcas não podem cair na cilada do “oportunismo disfarçado”. Não há margem para erro. Serão julgadas e condenadas instantaneamente, sem direito a defesa.
Qual o ônus de deixar de anunciar?
É grande. Os líderes de marketing sabem disso. Mas cada empresa vive uma realidade diferente. Por isso é uma escolha muito difícil. As marcas precisam manter a conexão com os consumidores. O que se espera de um amigo num momento difícil? Uma palavra de carinho, um abraço? Agora não é diferente, as marcas precisam abraçar seu público. Como alguém que está sempre ali, chova ou faça sol. Assim como nas relações humanas, se ausentar num momento difícil pode esfriar uma amizade.
Qual lição o coronavírus pode deixar?
É preciso refletir sobre o ritmo e a importância que damos a algumas coisas. Será tudo tão urgente, tudo tão imprescindível? Precisa mesmo ser polarizado? Tão individual? Espero ver mais coletividade, mais solidariedade. E que tudo isso seja refletido no nosso negócio, no relacionamento entre agências e anunciantes, marcas e consumidores.