Multidisciplinariedade, talvez seja a nova queridinha das famosas Buzzwords. Apesar de estar em todo e qualquer discurso publicitário atual, poucos se atentam ao real significado que ela impacta na nossa rotina diária. Isto acontece porque vivemos em um sistema que não favorece a construção plural de conhecimento e que não possibilita o desenvolvimento das nossas capacidades bilaterais.
Para entender a dicotomia entre discurso e prática quero começar descrevendo a camada mais “antiga”. Pense em nosso sistema educacional e vocacional, somos educados em um sistema totalmente unidisciplinar que difere a física da matemática, por exemplo, mas que pouco insere possibilidades de sinergia entre as áreas. Como teatro e interpretação de texto sendo trabalhados juntos.
Passando do ensino, chegamos a etapa da decisão profissional. É nesse momento que o problema se intensifica, todo o modelo vocacional e nossas profissões são focadas em formar especialistas em uma determinada disciplina e se aprofundar em um aspecto desta mesma disciplina.
Passando por isso chegamos finalmente ao ambiente de trabalho, aqui terminamos de encapsular o pensamento unidisciplinar. Vamos olhar para uma agência digital: Não é incomum a agência ter o departamento de criação e o de desenvolvimento sem perceber o quanto antagônico e antiquado essa separação é! As duas disciplinas não só são interligadas como são codependentes quando falamos do entregável em si. Gera valor na entrega/resultado para o cliente e “abre” a mente dos colaboradores da agência.
Mas como acabar com o todo esse ciclo? Simples! Vivemos em uma época em que estruturas horizontais provaram o quão valiosa e eficazes são. Tanto em empresas nacionais, como Vagas.com, e internacionais, como a Valve, conseguiram acabar com uma das barreiras impostas pelo sistema, os famosos departamentos e tudo o que vem agregado dele. Entre eles as atividades unidisciplinares.
Dessa forma, conseguimos formar uma instituição mais orgânica, colaborativa e multidisciplinar, além de remover todo o processo ego centrista de ascensão profissional e responsabilidade delegada de gerências, diretorias e outros cargos de poder.
No fim, nós meros publicitários, não podemos alterar todo o sistema unidisciplinar, porém podemos iniciar a cultura realmente multidisciplinar e isso tem que começar com a queda do paradigma organizacional tradicional.
Ricardo Martins é diretor de inovação da ABlab