Vivemos tempos difíceis para a indústria brasileira. Muitas pessoas se perguntam sobre as oscilações do dólar em nossa economia, o que está acontecendo e para onde estamos indo – a moeda norte-americana atingiu o maior nível dos últimos dez anos.

Mas vamos dar um passo para trás e refletir quanta coisa aconteceu nesses últimos dez anos. A primeira que vem à cabeça é a viralização da internet. Em 2005 havia cerca de um bilhão de usuários, apenas 15% de penetração na população mundial.

Em 2015, esse número já é três vezes maior e atinge quase metade de todo o mundo. O Brasil é a quarta nação do planeta com mais pessoas online (atrás da China, EUA e Japão, respectivamente) – são quase 80 milhões de usuários ativos diariamente.

Somos uma grande potência online e, de uns anos para cá, passamos a amar a coisa mais disruptiva que a internet nos trouxe: o e-commerce.

Segundo a consultoria eMarketer, o Brasil é um dos dez maiores mercados do mundo para o comércio eletrônico – uma indústria que deve gerar US$ 24 trilhões no mundo esse ano – cerca de oito vezes o PIB brasileiro ou quase duas vezes o chinês em 2014.

A viralização continuará nos próximos dez anos, dessa vez via mobile. Algumas consultorias apontam que compras via dispositivos móveis devem ultrapassar os 20% no Brasil esse ano. E ainda tinha gente que duvidava.

Para a indústria o dólar forte não é novidade, pois já passou por isso em outras décadas e tem as ferramentas para mitigar os riscos. E para o e-commerce e seus consumidores?

Para o empresário, existem fatores negativos, no entanto, para o consumidor, os benefícios podem ser crescentes. No curto prazo o preço de alguns produtos pode aumentar, como bebidas, perfumes, eletrodomésticos e importados. Mas esse cenário tende a mudar com a competição entre os e-commerces. Atualmente existe uma competição saudável de “gente grande” no Brasil, batalhando para transformar os usuários que estão navegando na rede em consumidores.

Temos visto uma leva de empresas estrangeiras chegarem por aqui. Uma delas, chinesa, foi considerada pelo Ibope um dos maiores volumes de vendas online do Brasil em 2014 – o site também encontra-se no ranking de top 15 mais acessados e alguns analistas estimam que o seu faturamento ultrapasse R$ 1 bilhão em 2015. Os e-commerces tupiniquins também estão indo bem e só aumentam a expectativa do faturamento para os próximos anos, enquanto lemos notícias tristes sobre tradicionais varejistas fechando lojas físicas.

Para o varejo do turismo online, o aumento do dólar tem ajudado o consumidor. Muitas companhias aéreas têm feito promoções de passagens baixando preços de tickets internacionais em até 50% – uma forma de aumentar a demanda e incentivar o consumo. Deu certo! Uma das maiores agências de turismo online do Brasil cresceu 12% em reservas no segundo trimestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2014.

O consumidor continua viajando, porém deixando para fazer as compras dentro do Brasil. Dessa forma, impulsionando a indústria nacional. Fora isso, os usuários estão buscando mais, encontrando os melhores preços online, para depois tomar uma decisão e enfim se tornarem consumidores (com consciência).

Como disse certa vez o Barão de Rothschild, um dos homens mais bem-sucedidos que o capitalismo já conheceu, “quando há sangue nas ruas, adquira bens”. Talvez agora esteja valendo mais a pena do que com o dólar a R$ 1,80. Quem sabe? O importante é que o hábito está mudando, com dólar alto ou baixo. A revolução é inevitável.

*Country Manager no Kayak